Capítulo 12: Cabelos Vermelhos

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POV: THAUAN

Seus cabelos vermelhos balançavam conforme o vento batia em seu belo rosto, ela tinha um sorriso bonito, olhos verdes mais hipnotizantes que eu já vi, e pintinhas por todo o rosto, que eu adoraria traçar com meus dedos.

Mas, toda vez que eu me aproximava, ela se distanciava, ou fugia. Nunca soube seu nome, e nem de onde ela era, nunca escutei sequer sua voz. Ela sorria para mim, e acariciava meu cabelo, mas quando era a minha vez ela se distanciava ou simplesmente desaparecia.

Não sei se isso era um sonho ou uma visão, mas era frequente o quanto eu via essa mulher ruiva em todo o lugar, mas por que ela não vem até a mim? Por que sempre em sonho?

Deusa Jaci, se você está me escutando, me ajude a encontra-lá.

—Chame o médico, ele está a morrer, não temos mais tempo a perder.— Ouço uma voz arrastada para o português, era uma mulher e ela levantava a minha cabeça para o alto.

Tinha acabado de voltar de mais uma das minhas convulsões, estava delirando por conta da febre alta e sem os cuidados médicos, mas não me preocupava com mais nada, morrer é bem melhor do que ficar aqui.

—Chame o Afonso! Ele contraiu varíola, não é evidente?— Uma outra mulher diz, consigo abrir meus olhos e vejo duas indígenas me olhando com preocupação, com certeza vieram comigo durante a invasão e agora serve de concubinas para Afonso.

—Afonso jamais chamaria um médico para consultar um indígena...— Outra pessoa diz, agora um homem, provavelmente escravo junto a mim.

Não conseguia identificar as vozes, por mais que eu tenha ficado quase três ou quatro luas por aqui com eles, a dor intensa no meu corpo não me deixava pensar absolutamente nada.

—Então ele perderá o seu melhor escravo, porque Thauan morrerá se continuar com uma febre tão alta.— Uma das mulheres que seguravam a minha cabeça, coloca um pano molhado em minha testa com delicadeza, sua expressão era de preocupação e lágrimas nos olhos. —Aguenta firme Thauan, sei que não quer morrer assim, você é o orgulho dos tupinambás.— Ela fala em tupi, e eu curvo meus lábios para dar um sorriso.

Provavelmente o último que irei dar em toda a minha vida, pois Afonso tirou toda a minha felicidade na noite que invadiu a minha aldeia, e me fez como escravo. Nunca esqueço da maldita cara que esse imbecil europeu deu quando comprou toda a minha família e matou todos na minha frente como castigo da minha rebeldia.

• • •

ALGUNS MESES ATRÁS

Olho o horizonte além das montanhas, estava um pôr do sol bonito e tranquilo, apesar de sempre estar calor em Imperial, um vento gelado no topo do morro arrepia os pelos do meu corpo.

O tom laranja do céu me lembrou os meus sonhos com a mulher de cabelos vermelhos como fogo, faz um bom tempo que eu sonho com isso, mas não conheço nenhuma mulher como ela antes, eu só simplesmente sonho. Já conversei com Cauã e ele apenas sorri, dizendo que "uma hora você verá com seus próprios olhos", mas eu tenho impaciência.

Essa mulher existe mesmo? Acho impossível eu encontrar alguém assim, talvez seja só coisa da minha cabeça.

—Pensando demais, novamente.— Escuto a voz da minha irmã, se sentando ao meu lado no morro.

Taiane era uma das mulheres mais bonitas da aldeia, os homens sonhavam em tê-la como esposa, mas ela não se importava com casamento. Muito pelo contrário, sempre queria acompanhar meu pai para as missões, caçava comigo e sabia ordenar um arco e flecha muito bem, era o nosso orgulho, por mais que mulheres indígenas fossem ensinadas a cuidar da casa e do seu marido.

O Preço do Sacrifício [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora