Capítulo 6: Destinos Traçados

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Minha única opção de chegar perto era pagando, pelo o que eu entendi da situação, estavam vendendo escravos da África e infelizmente pessoas faziam filas para pegar um, como se não fossem pessoas comuns. Clyde me ajudou a juntar dinheiro com um resmungo e o escravo nos seguia de cabeça baixa, sem relutar com absolutamente nada.

Ele achou que somos opressores brancos, o Clyde pode até ser, mas com certeza eu não era, e iria provar isso.

—Zana, você vai construir uma casa nova com as suas próprias mãos, está me entendendo?— Clyde reclama mais uma vez pela lotação da pequena casa que tínhamos. —Cada dia mais você anda adotando gente, daqui a pouco a católica vai estar aqui também.

—Eu não tenho escolhas, sinto necessidade de fazer isso e eu só vou lá e faço.— Me defendo, olhando várias vezes para trás, com medo do homem fugir.

Ele tinha aparência simples. Negro, tão alto quanto Thauan, seu cabelo ia até o ombro, com tranças entrelaçados nele, também tinha sobrancelhas bem grossas. Estava apenas com uma calça, sua feição e cabelo estavam sujas e desgrenhadas, obviamente ele não recebeu o mínimo de saneamento básico.

—O que vai fazer com ele então? Provavelmente ele não sabe português.— Clyde também olha para o pobre homem e analisa com cuidado.

—Vou tentar me comunicar e dizer a ele que eu não sou europeia, e que jamais seria uma opressora, como fiz com Thauan.— Digo com um sorriso confiante, mas eu não estava tão confiante assim. —Hm, olá, você consegue me entender?— O homem me olha com indiferença, ele não parecia querer amizade.

Quando eu percebi que o mesmo não me responderia, esperei chegar até em casa para conversar com mais calma, talvez ele vendo que somos pobres, consiga se sentir mais confortável. Ele continua nos seguindo em silêncio, sem olhar para cima ou para meu rosto, sua expressão era raivosa, mas não tentou nada contra nós.

Thauan cortava troncos de árvores do lado de fora com um machado, estava tão distraído no seu trabalho que nem percebeu a presença do novo habitante da casa. Fúria, como ele apelidou a égua do policial, estava pastando não muito longe dele, os dois viraram melhores amigos.

—Thauan, outra pessoa irá morar conosco.— Os olhos negros se encontraram com os meus primeiro, para só depois olhar para o indivíduo. —Eu não sei como ele se chama ainda, não quis conversar comigo.

—Onde encontrou?— Ele me pergunta analisando o homem, ambos se olham desconfiados, se confrontando silenciosamente. —É escravo?

—Sim, veio de um navio negreiro, paguei por ele pois era a única opção que eu tinha para poder me aproximar sem levantar suspeitas algumas.— Respondo me remexendo desconfortável com a situação, me sentia uma portuguesa colonizadora gastando dinheiro e apoiando a escravidão indiretamente.

—Me comprou apenas para ter oportunidades de se aproximar?— O homem me pergunta em um português perfeito, surpreendendo todo mundo.

—Ele fala português.— Thauan resmunga cruzando os braços. —É inteligente.

—Então você estava entendendo tudo o que eu disse, por que não me respondeu antes?— Pergunto mesmo sabendo a resposta, seu olhar ainda estava no chão.

—Porque eu quero contato com nenhum branco, seja homens ou mulheres, jovens ou adultos. Tenho o maior repúdio de todos vocês.— Ele diz determinado, mas sentia medo no seu olhar do que eu poderia fazer com ele.

Era determinado e muito confiante, mas se estivesse em mãos erradas, estaria em encrenca agora.

—Não precisa, eu sou do bem e não significa que eu comprei você, que você será um escravo aqui.— Digo enquanto desamarro sua mão da corda, com medo dele sair correndo dali.

O Preço do Sacrifício [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora