Capítulo 36: A Lua me Traiu

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Eu poderia dizer que estava vendo três patetas tentando jogar bola, mas não era verdade. A realidade é que Amare e Thauan se adaptaram naturalmente ao futebol como se já soubessem jogar há muito tempo, meu irmão emprestou dois do seu short que ainda estavam na casa da mamãe, o sol estava castigando e de calça moletom não era tão confortável.

Todos estavam suando ao excesso e respiravam ofegantes, mas não estavam dispostos a parar tão cedo, Joel ensinou que os chinelos eram o gol e usou garrafa d'água para marcar onde cada um tinha direito a avançar ou não. As pessoas paravam para olhar três homens musculosos sem camisa e de shortinho jogar futebol como um bando de animal selvagem, dentro desse jogo descobri um lado de Amare que eu não conhecia: o espírito competitivo. Ele derrubava Thauan e Joel como se a vida dele dependia apenas do gol, meu irmão era o goleiro quase sempre e levava bolada quase o tempo todo.

—Muito bom ver homem gostoso jogar bola.— Me assusto com Juliana do meu lado olhando meu irmão com um sorriso.

—Juliana? Desde quando você chegou?— Pergunto assustada e a mesma dá de ombros.

—Ah gata, eu apareço do nada mesmo, vim ver o que esse sem vergonha estava fazendo.

Juliana tinha vinte e seis anos de idade, dois anos mais nova que meu irmão e teve Tábata com quatorze e meu irmão tinha dezesseis na época. Juliana sempre levou as coisas na esportiva, continuou a escola mesmo com uma filha para criar e atualmente faz faculdade de biologia. Ela tinha uma aparência comum de garota carioca, negra e com marquinhas evidentes de praia, muito mais baixa que meu irmão, cabelos muito enrolados e batiam em seus ombros, além de ter olhos cor de mel.

—Ele não vai para casa tão cedo agora, ele quer provar para os amigos da Zana que é melhor que eles no futebol e falhando miseravelmente.— Tábata comenta rindo do próprio pai caindo no meio do asfalto e ralando seu joelho.

—É uma pamonha mesmo.— Juliana resmunga baixo balançando a cabeça.

—Tia, tem sorvete hoje?— Quatro meninos chegam na birosca de roupa escolar e mochila nas costas, devem ter aproximadamente seus onze anos.

—Por que não teria?— Pergunto confusa, será que o bar está falindo?

—Porque da última vez não tinha nada aqui, tudo capengando.— Um deles respondeu sem pudor nenhum.

—Verdade tia, só tinha cachaça que aquele velho ali no karaokê tava bebendo tudo.— O terceiro apontou para meu avô, que estava ajeitando o microfone estressado.

—Mas hoje tem pirralhos, querem que sabor?— Juliana pergunta abrindo o freezer e fazendo as crianças enfiar a cabeça lá dentro.

As crianças acabaram escolhendo picolés e saíram satisfeitas, ficaram olhando o futebol dos meninos e no final Joel chamou para jogar junto porque estava cansado de levar bolada.

—A LUA ME TRAIU, ACREDITEI QUE ERA PRA VALER, A LUA ME TRAIIIIIIU.— Meu avô começa a cantar e dançar no karaokê, acho que as pessoas estão de saco cheio o vovô Arlindo berrando nessa birosca.

—Cadê Isabel? Até agora eu não a vi.— Pergunto para Tábata, que dá de ombros.

—Olha, da última vez que eu vi ela foi com a tia Patrícia e a minha vó.

—Ai meu Deus, você deixou a Isabel com aquelas duas malucas? Se essa menina saber alguma saliência, ela está ferrada! A mãe dela vai matar ela...— Falo com os olhos arregalados, não confiando nem um pouco na índole da minha mãe e da tia Patrícia.

—E essa Isabel é santa? Aposto que não, do jeito que estavam olhando os garotos jogando bola.— Juliana diz tomando um sorvete tranquilamente.

—Mãe, ela é de outro ano, tem que ver ela falando.— Tábata comenta muito animada.

O Preço do Sacrifício [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora