Capítulo 33: Faz o L

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A manifestação estava tomando conta de toda Minnesota, nem o COVID parava a quantidade de pessoas que estavam manifestando e gerando revolta no governo. Pelo o que eu vi no telefone de algumas pessoas junto conosco, nas redes sociais tinha um grande projeto chamado “Black lives matter”, que era em apoio para o George Froyd e condenando o policial a prisão.

A queima da casa branca foi um pouco caótica, mas sei que os meninos adoraram toda a justiça que estava sendo feita, nunca vi Amare tão feliz quanto agora, seus olhos demonstravam puro divertimento. Ele se juntou com outras pessoas negras e mesmo não sabendo falar inglês, soube se comunicar e interagir muito bem, Thauan ficou mais conservado por ser desconfiado com as pessoas, porém olhava tudo com admiração genuína.

—Estamos aparecendo na televisão, isso é muito maneiro.— Uma menina do meu lado comenta com a outra pessoa, mostrando o celular para ela.

—Finalmente vamos ser reconhecidos e levados mais a sério.— A outra menina diz, levantando o seu cartaz para o alto. —E os anonymous já se pronunciaram?

—Sim! A internet está pegando fogo. Eles interromperam a transmissão de comunicação dos policiais para enviar um comunicado.— A outra responde com um sorriso largo. —Eu adoro esses hackers.

Os anonymous eram os grandes protagonistas dessa época, em qualquer oportunidade de fazer um caos na internet, eles conseguem fazer em apenas um simples vídeo. E eu lembro bem o conteúdo desse vídeo ameaçador sobre o presidente atual do Brasil, Jair Bolsonaro. Além de invadir walkie talkie de policiais, expor documentos confidenciais de Donald Trump e até mesmo trouxe algumas provas que o carro da princesa Diana foi realmente sabotado, tudo isso durante a madrugada no Brasil e eu me lembro que Tábata até foi dormir na minha casa apenas para acompanhar a grande tour do twitter, que não parava de chegar notícias novas, em plena pandemia.

Foi o nosso maior divertimento na época, ver os próximos passos dos anonymous e o vazamento da senha do cartão e identidade do Bolsonaro.

—Vamos para a casa, os anonymous vai aparecer na televisão em breve.— Falo para os demais, assim que vejo que a manifestação já estava acabando, espero que eu não levei processo por queimar a casa branca.

—O que é anonymous?— Isabel pergunta, enquanto começamos a andar tranquilamente para a casa, já era final de tarde e começou a esfriar ainda mais.

—São um grupo de hackers muito famosos na internet que aparecem através de vídeos e falam os próximos passos que eles irão fazer, às vezes eles expõem muitas coisas, vazam documentos pessoais e muito mais. Eles usam máscara e voz modificada, é realmente um evento muito interessante de ver, às vezes eles ficam sumidos e voltam bem de repente com alguma bomba.— Falo me encolhendo pelo vento frio, ser piriguete às vezes custa muito caro.

—Não sei o que é internet, e nem hacker. Mas eles parecem ser muito perigosos.— Amare comenta escondendo o rosto no capuz do moletom.

—Não vale a pena vocês saberem o que é internet, é um lado do mundo que também é muito ruim.— Falo mantendo a minha expressão neutra. —Mas, eles são perigosos para aqueles que escondem algo, achando que a internet é uma terra sem lei.

—Foi legal hoje, pela primeira vez eu pude me expressar meus sentimentos de forma livre, sem ser morto ou chicoteado.— Amare olha para o chão, vejo triste em seu rosto por saber que voltaríamos para a época de trevas.

—Que bom que gostou daqui, infelizmente não é nosso lugar mas eu posso prometer que eu não vou deixar vocês nas mãos dos portugueses de novo antes de partir.

Como antes dito eu não poderia prometer nada se eu não tenho certeza do meu próprio futuro nessa missão, mas eu queria muito deixar apenas uma coisa antes de ir: a liberdade, até mesmo de Isabel, ela merecia viver como uma moça livre e sem casamento arranjado ou obrigações que ela não quer fazer. Mas eu definitivamente não sei como fazer isso.

O Preço do Sacrifício [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora