Capítulo 1: Merecedor de Todo Sofrimento

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O urso pardo estava na minha frente, era maior que eu, com grandes patas e olhos tão negros que penetravam a minha alma. Ele não queria me atacar, só me olhava sentado, observando com atenção cada movimento meu.

Abro os olhos de uma vez só, não era a primeira vez que eu sonhava com um urso pardo, na verdade estava sonhando com isso a muito tempo e sempre nessa mesma posição, com os olhos expressivos. Olho ao meu redor e estranho completamente o lugar, o que era esse lugar?

—Finalmente abriu os olhos, achei que tinha morrido de uma vez por todas, seria meu maior sonho?— A voz do Clyde vinha de algum canto, e não era da minha cabeça.

Olho para o lado da cama em que eu estava e tomo o maior susto da minha vida, quanto tempo eu não via o Clyde humano que parecia uma alucinação. Ele estava com as roupas típicas da era vitoriana: Colete, chapéu e casaco, sua aparência não havia mudado nada desde a última vez que eu o vi, uma grande vantagem para os Viturinos, nunca envelhecemos.

—Você me olha parecendo que eu morri e ressuscitei, é porque não se viu.— Ele pega um charuto do bolso do casaco que vestia.

Me levanto rápido, olhando para a casa pequena, provavelmente construída de madeira, barro e telhas. Dentro, o espaço sem divisões, exceto por uma cortina ou biombo para separar a área de dormir. Havia uma lareira de pedra para aquecer e cozinhar, a cama de palha coberta com uma manta de lã, um banco de madeira e uma mesa pequena. As paredes decoradas com ervas secas e utensílios de uso diário, e o chão de terra batida. A iluminação vinha uma lamparinas a óleo, além do sol lá fora.

—Em que ano estamos Clyde?— Olho para o mesmo, que não me respondeu e continuou fumando seu charuto.

Reviro os olhos e olho para o espelho perto da minha cama e me assusto com a minha aparência, pela primeira vez na vida eu me vi tão diferente assim. Eu tinha olhos verdes e sardas por todo meu rosto, um cabelo cor de fogo e um vestido de cores neutras, com diversas camadas.

—O que significa isso? Por que eu sou ruiva? Por que eu estou vestida parecendo uma camponesa da idade média?

—Porque você é.— Clyde se levanta com uma bengala na mão, não acredito que ele me levou para mil e quinhentos. —Bem vinda ao século quinze.

—E eu preciso ser ruiva em pleno século quinze? Muito engraçadinho.— Ironizo, dando uma última olhada no meu rosto e roupas. —E por que estamos em um ano tão antigo?

—Tem muitas coisas aqui para descobrir, mas o importante por agora é que você tem vinte e cinco agora, e estamos no ano mil quinhentos e oitenta, é melhor se acostumando com a minha aparência, não irei andar como gato preto tão cedo.— Clyde abre a porta de madeira com um rangido, Olhando ao redor. —Melhor cobrir  esse teu cabelo, sabe como são as coisas né?

Clyde estava zombando da situação, mas eu estava desesperada, como ele me manda para a idade média de cabelos ruivos em uma casa capenga e possivelmente um gato preto acompanhada? Mil e quinhentos é um ano muito arriscado para mulheres, eu seria facilmente queimada se eu não tomar os devidos cuidados. Pego um lenço de cabelo resmungando e prendo tentando esconder o máximo a cabeleira, que era grande e muito volumosa.

—Vamos sair, você precisa se acostumar com a nova civilização.— Clyde me avisa, saindo de casa, trato de acompanhá-lo.

A casa era localizada em um matagal bem afastado de tudo e eu não sabia se isso era bom ou ruim, alguns tempinhos andando para fora da floresta, eu finalmente vejo a população. As mulheres vestiam roupas iguais a minha, algumas com chapéus e outras com lenços, sapatos de couro e cesta de palhas, os homens estavam de calças apertadas e túnicas, uma vestimenta completamente ridícula mas não posso dizer muito coisa. Tinha carruagens, mercadorias e padres pregando algo em português de Portugal, o meu maior pesadelo era viver essa era e agora aqui estou.

O Preço do Sacrifício [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora