Capítulo 23: Cruz e Sapatos Vermelhos

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Dançar foi uma má ideia, é claro que eu teria que fingir que estava com a doença perto dos doentes, mas eu havia me esquecido completamente que eu não poderia parar de dançar a partir do momento que eu entrasse na roda, e se arrependimento matasse, eu já estaria morta nesse exato momento. As pessoas dançavam grudadas umas nas outras, como se tivesse pedindo socorro ou tentando ajudar mutuamente, o suor e os olhos arregalados eram uma cena pavorosa, por mais engraçado que seja olhando de fora.

Algumas pessoas caíram no chão de exaustão e logo após morriam literalmente de cansaço, fora a desnutrição e a desidratação, pois não paravam de dançar um segundo sequer, a população já estava assustada e sem saber o que fazer com o povo que se multiplicava na roda a cada hora e minutos do dia. Frau já não estava mais entre nós, havia morrido algumas horas justamente dançando, me lembrava muito Barbie e as 12 princesas bailarinas, saudades de quando essas maluquices só existiam na televisão.

Meu suor escorria nas costas pelo sol do começo da tarde, às vezes eu fraquejava nos movimentos, mas me lembrava que não poderia parar e continuei, tentando acompanhar as pessoas doentes. Olhava cada pescoço na tentativa de achar meu talismã, e eu achei agarrado em uma mulher que dançava na roda, me aproximei sutilmente e tentei tirar de seu pescoço esbarrando ou sorrateiramente igual um bandido do centro do rio, mas não consegui. A situação era muito séria e eu precisava de um plano melhor para tirar sem alguém falar que eu estava roubando.

No final da tarde, mais e mais pessoas estavam se formando na roda e eu consegui sair dessa dança maluca sem muito esforço, já que a população atual mantém a distância social para não ser infectada, e as doentes estavam ocupadas demais fazendo passos de danças e rodopiando. Cheguei em casa exausta e frustrada, era muita humilhação passar por isso.

—Não achamos o seu cordão em lugar nenhum, estou começando a suspeitar que Clyde nos trouxe para cá só para zoar com a nossa cara.— Amare diz debochado, olhando de canto de olho para Clyde.

—Ah sim claro, eu iria vir para 1518 só para zoar com vocês, eu sou bem esse tipo de gente mesmo.— Clyde responde irônico. —Para a sua informação, se eu quisesse "zoar" vocês, levaria para os tempos modernos.

—E o que tem lá?— Amare pergunta confuso e Clyde apenas sorri torto.

—Muitas coisas.

—Eu achei o talismã, mas infelizmente ele está no pescoço de uma mulher contagiada pela epidemia da dança, não sei o que fazer para tirar.— Comento se sentando e relaxando a postura, dançar nunca foi meu maior forte, e fazer isso por muitas horas me deixou cansada.

—Arrancar dela.— Thauan dá de ombros, como se fosse uma coisa muito simples de se fazer.

—Hoje, ouvimos o médico local dizer que isso é apenas "sangue quente" a enlouquecer as pessoas, e que estimular ainda mais a dança fará com que parem de vez. A cidade inteira está agora repleta de música e bandas, e mais tarde será construído um espaço dedicado para que as pessoas possam dançar dia após dia.— Isabel diz preocupada, balançando a cabeça negativamente.

—Não acho que aplicar mais dança vai fazer com que parem, o certo seria proibir a dança e a música.— Amare diz alisando a barba rala que começava a se formar na sua mandíbula.

—Mas não vai parar as pessoas, na verdade vai piorar tudo ainda mais.— Digo bebendo um pouco de água, antes de continuar. —Agora que eu sei onde está o meu colar, vai ser mais fácil conseguir recuperar.

—Mais de quatrocentas pessoas estão dançando na cidade de frança neste exato momento.— Clyde comenta fumando seu charuto, e analisando no seu relógio de pulso. —Em breve o médico de outro local vai vir analisar esse surto, e aí outra parte da história vai acontecer.

O Preço do Sacrifício [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora