Capítulo 26: Vacina? tô Fora

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Rio de janeiro
Novembro, de 1904

Os gritos me despertaram muito rapidamente, e eu fui a primeira a sair completamente do transe e observar a situação atual. Lá fora estava uma verdadeira guerra, o que me confortava era o idioma português.

—Finalmente não é um país europeu.— Amare olhava lá fora com um sorriso satisfeito. —Mas as pessoas não parecem nada satisfeitas, onde será que estamos?

A porta é aberta bruscamente por policiais, pegando em nossos braços com brutalidade e empurrando para sair de casa, eu não estava entendendo absolutamente nada naquele momento.

—O que é isso? Por que estão nos jogando aqui agora?— Pergunto para o policial, mas pela expressão carrancuda eu não iria conseguir arrancar nada dele.

—Estão surdos? Este assunto já foi discutido. Vamos construir um porto e um sistema de saneamento básico, o que implica na demolição dessas casas.— Um dos policiais me responde com desgosto, seu sotaque condenou sua nacionalidade.

Então eram todos cariocas... Eu já sei onde estávamos e em que situação estávamos!

—Para onde vamos?— Escuto Thauan perguntar para o policial, que sorri debochado e revira os olhos com tédio.

—Encontrem outro lugar para ficar, é simples.— Ele dá de ombros e sai de perto de nós.

—Ah ótimo, mal cheguei e já sou um sem teto.— Amare resmunga ao nosso lado, observando tudo ao nosso redor. —Em que anos estamos? Parece tudo tão diferente.

—Bem, estamos nos anos noventa, eu suponho. No rio de janeiro.— Respondo rapidamente, tentando absorver todo o caos que estava acontecendo pela cidade.

Olhava tudo atentamente o cenário ao meu redor, algumas avenidas como a Avenida Central estivessem sendo abertas, boa parte das ruas ainda era estreita, com calçadas irregulares e cheias de vida. Viam-se carroças passando ao lado dos bondes que cortavam a cidade, e os pedestres dividiam espaço com tudo isso. Ao meu redor, as pessoas vestiam-se de acordo com suas classes sociais. Os homens da elite usavam ternos bem alinhados, com coletes, gravatas e chapéus de feltro, as mulheres usavam longos vestidos de cintura marcada, muitas vezes com espartilhos, luvas e chapéus enfeitados com flores ou penas, principalmente as que frequentavam as áreas mais nobres da cidade.

Nada mudou, mas ao mesmo tempo mudou muito.

Mas tinha algo de anormal em tudo isso, era a situação atual: pobres sendo empurrados de suas casas, enfermeiros com uniformes antigos perambulando pela cidade e uma revolta muito grande, chegamos bem na época da revolta da vacina.

—O que está acontecendo?— Isabel pergunta para mim, segurando meu braço e assustada com a multidão estressada.

—Estamos na revolta da vacina em 1904, no governo de Rodrigues Alves.— Clyde responde por mim, assistindo as pessoas surtando pelas ruas. —Povo burro.

—Mas o que seria a revolta da vacina? O que é vacina, aliás?— Amare pergunta com uma cara confusa, rindo alto de algumas pessoas caindo uma em cima da outra ao tentar escapar de um grupo de enfermeiros.

—E governo?— Thauan pergunta também, analisando minimamente todo o caos.

—Bem, vacina é um antídoto que te previne de alguma doença ou surto como a varíola, e governo é algo muito mais complexo, mas o básico do básico são as pessoas que tomam conta do país, Rodrigues Alves é o presidente do Brasil neste exato momento e Oswaldo Cruz é um médico da região, o que está causando todo esse caos.— Suspiro enquanto explico a situação atual.

O Preço do Sacrifício [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora