Capítulo 15: Isso é um Desafio?

32 7 65
                                    

ALERTA GATILHO
Este capítulo contém escravidão explícita e detalhada sobre o navio negreiro. Lembrando que é apenas ficção, não tem artigos que comprovam como é de fato como foi, se você for sensível a esse tipo de assunto, recomendo que pule para a metade do capítulo.

POV: AMARE

Olhava para os meus pés descalços e tento não direcionar o meu olhar para nenhum deles, meu sangue escorria pelo meu rosto, prejudicando a minha visão e me impossibilitando de ficar de pé com firmeza.

Os traficantes olhavam todos nós, que estávamos em fila, com cuidado. Alguns eram jogados de lado de qualquer jeito, e outros eram jogados dentro de um navio, eles analisavam o nosso estado atual para ver se o escravo estava bem de condições, o físico era muito importante. Eu não sabia para onde iríamos, mas sabia que não era nada bom.

Olho pela última vez o meu país, consumido pela escravidão e injustiça, e dou as costas completamente. Espero que um dia isso passe, mas duvido que eu ainda esteja vivo para ver. Quanto tempo eu não sabia o que era descanso? Minhas pernas e mãos já não eram mais delicadas, meu corpo tinha marca de açoite, principalmente nas costas, felicidade? Já não sentia muito tempo. Minha visão do mundo era diferente, acredito que ele não tenha mais salvação alguma e que a única "opção" era aniquilar a extinção humana de uma vez por todas.

Não fazia ideia de onde estavam meus pais, mas imagino que estavam na mesma situação que eu ou pior, não tinha outra opção além da escravidão para nós, e agora brancos estavam aparecendo e pegando o máximo de escravos possíveis daquela região para não sei o que, talvez para exportar para outro país?

Eles gritavam conosco em um idioma que eu não entendia, mas sabia que estavam furiosos com algo. Dentro do navio não tinha uma saída de ar, tinha muitos homens em um só espaço, impossibilitando de andar com liberdade, presos em uma corrente próximos um dos outros.

—Está muito apertado, não consigo respirar!— Um dos homens gritava para o branco, que começou a chicotear piedosamente, os outros homens se afastavam com desespero para não apanhar junto.

—Não faça nada.— Um homem ao meu lado segura meu braço quando percebe que eu estava me locomovendo para lá. —Eles costumam querer sempre estar no topo do mundo, malditos europeus.— Ele resmunga baixo, seu swahili era perfeito mas não parecia africano.

Além do homem ser negro, seu rosto era diferente demais para ser africano, tinha o tom de pele mais claro que todos nós, apesar do cabelo liso e preto, repicado de qualquer jeito, como se estivesse cortado às pressas com uma faca quente. Os olhos levemente puxados, mas não eram como os dos asiáticos e indígenas, seu corpo estava tão machucado quanto o meu, mas sua expressão era descontraída.

—Quem são eles?— Pergunto, ficando no meu lugar, tentando respirar quando vejo os traficantes colocarem mais escravos no mesmo local já cheio.

—Eles? Europeus, mais especificadamente portugueses, ninguém gosta deles em nenhum lugar do mundo, são o próprio satanás na terra.— Ele respondeu com escárnio, olhando para tudo com um olhar de pena. —Provavelmente estamos indo para a América do Sul.

América do sul? Analiso o porte do homem com desconfiança, ele era esquisito demais.

—O que você sabe sobre europeus e outros países? É africano?— Pergunto estreitando os olhos, ele nota minha desconfiança e engole em seco.

—Não sou africano mas sou escravo igual você, e sobre europeus eu sei porque todo mundo saberá um dia, uma hora. E sobre a América do sul, é óbvio, estamos em um navio negreiro.

O Preço do Sacrifício [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora