Capítulo 31: Poder da Amizade

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Clyde tinha feito o que me disse só no final do dia seguinte, não tinha noção do tempo mas o sol já estava se pondo e um vento gelado era a único sinal de que estava anoitecendo, exceto o sol tingido de laranja. Ele apenas disse que era para andar até perto do muro que não tinha nenhum guarda soviético e me teletransportar sem que ninguém veja, e eu me pergunto por que não tinha feito isso antes.

Quando chegamos no muro, ele realmente estava vazio mas não questionei, quando teletransportamos para a Alemanha ocidental, Clyde já está à nossa espera com Isabel.

—Que demora, já estava pensando em deixar vocês aí para sempre.— Ele resmunga fumando seu charuto, com uma cara carrancuda.

—Fico aliviada em saber que vocês estão bem. Quando Clyde mencionou que estavam do outro lado do muro e que a situação era complicada, fiquei imediatamente preocupada.— Isabel abriu um sorriso genuíno e largo quando nos encontra.

—Que fofinha, ela estava preocupada com a gente.— Amare não resiste a oportunidade de provocar Isabel, que fica levemente vermelha mas não sei se era de vergonha ou raiva.

—Mas não pense que estava preocupada com você! A sua sorte foi estar com a Zana, porque sem ela, duvido que conseguiria sair dali sozinho!— Ela cruza os braços e Amare faz cara de ofendido, iniciando uma briga interminável entre os dois.

—Não tem jeito mesmo.— Thauan balança a cabeça devagar olhando a discussão dos dois.

—O que faremos agora?— Pergunto para Clyde, que nos julgava em silêncio.

—Não sei Zana, o que faremos?— Ele devolve a pergunta e eu fico confusa. —Você é a dona do talismã, e a dona da missão também, tem que começar a agir sem a minha companhia, não fique achando que eu vou aturar você quando ficar velho. Quero distância inclusive..

—Para de me esculachar gratuitamente, eu já entendi desde a primeira fala.— Olho ao redor e começo a observar melhor o ambiente. —Aqui é muito diferente do que lá.

Vejo bairros inteiros com blocos de apartamentos modernistas, de linhas retas e funcionais, há um esforço claro de reconstrução, impulsionado pelo Plano Marshall, e o progresso é visível, mas é uma recuperação lenta. As casas nas zonas suburbanas são mais acolhedoras, têm jardins pequenos, com flores começando a aparecer, dentro com certeza deve ser ainda mais acolhedor que as casas da Alemanha oriental.

As pessoas aqui parecem um pouco mais otimistas, os homens vestem-se com roupas mais modernas, ternos e gravatas, mas ainda se nota que muitos não têm acesso a peças de qualidade, há uma certa sobriedade, um desejo de parecer mais sofisticado. As mulheres, mais confiantes, usam vestidos elegantes para a época, com padrões simples e discretos, e algumas já começam a adotar maquiagem e penteados da nova moda que chega de fora.

As crianças são mais sorridentes aqui. Correm pelas ruas pavimentadas com sapatos que parecem novos, os mercados começam a encher de produtos, e as ruas estão repletas de pessoas e carros, era definitivamente mil vezes melhor que o outro lado e por isso muita gente arriscava as suas vidas para atravessar o muro.

—É claro que sim Zanaina, você acha mesmo que o comunismo funciona? É só olhar para o século 21 e tem a sua resposta.— Clyde assopra a fumaça do charuto e eu fico pensativa, realmente o movimento comunista não é muito eficaz tendo em vista que a Alemanha oriental passa fome todos igualmente e aqui parecia tudo muito diferente disso.

—Eu sabia que ele ficaria para esse lado, o jeito de capitalista não me engana.— Amare entra na conversa e Clyde dá de ombros fazendo pouco caso.

—Não me envolvo em política. Vamos logo pensar no que fazer antes que isso vire bagunça e algo nos atrapalhe novamente.— Ele responde claramente sem paciência, andando em para algum lugar.

O Preço do Sacrifício [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora