EPÍLOGO: Lembranças e conchinhas do mar

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Ainda que os ventos do tempo se transformem
Em um mundo onde nada permanece igual
Através disso tudo nosso amor ainda persistirá

Em seus olhos, posso ver meus sonhos refletidos
Em seus olhos, encontrei respostas para minhas perguntas
Em seus olhos, posso ver as razões do nosso amor estar vivo
In Your Eyes,
George Benson

...

ONZE ANOS DEPOIS

B R U N O

O que é um dia perfeito? Definitivamente, essa uma resposta que não sei dar, mas posso apostar numa sugestão: estar junto às pessoas que você ama independentemente das circunstâncias, seja numa casa luxuosa dentro de uma fazenda milionária, ou numa casa simples de praia que conquistou ao longo dos anos de trabalho. Minha família é minha maior felicidade sem sombra de dúvidas, pois sem ela eu não seria o homem que me tornei.

Sorrio nostálgico ao ver a quebra das ondas do mar na areia branca da Praia da Saudade nesse fim de tarde.

Muitas coisas aconteceram desde que meu irmão e Flávio foram presos depois de um julgamento extenso de meses a fio, já que seus advogados eram bons e a cada sessão no tribunal descobria-se mais e mais gente do estado (e fora dele) envolvida no adoecimento proposital de pessoas para que pudessem desviar dinheiro sujo e recebê-lo com juros depois. Foi um escândalo nacional daqueles, uma vez que havia até mesmo dois prefeitos de cidades de tamanhos consideráveis envolvidos... Ninguém esperava que a maldade do ser humano pudesse chegar àquele nível.

Confesso que também fiquei abismado na época. Mesmo tendo noção de onde aqueles dois estavam se envolvendo, não imaginava que haveria tanta gente por trás, assim como Guilherme — agora não só meu advogado mais confiável, mas um amigo de longa data — havia dito logo quando nos conhecemos. E falando no homem que garantiu que a dignidade da minha esposa fosse mantida, ele me ligou a pouco mais de uma hora para avisar que estava a caminho daqui com Alice, sua esposa, e Fabrício e Artur, seus filhos, para um fim de semana entre famílias.

— Papai! Papai! Olha o que achei! — Heitor vem correndo em minha direção com um sorriso enorme e idêntico ao da mãe, olhos azuis cristalinos como os meus extremamente felizes, cachos castanhos esvoaçantes, pele branca bronzeada pelo sol e mãos cheias de areia.

Sorrio em sua direção e me preparo para segurar o menino que provavelmente se jogará no meu colo e me derrubará na areia, já que estou sentado e ele é bem grande para um garoto de apenas oito anos.

— Olha, olha! — Estende a mão e me mostra algumas conchinhas do mar que vive colecionando toda vez que viemos para cá. — Achei uma vermelha dessa vez! Será que a mamãe vai gostar?

Sopro uma risada por sua pergunta inocente.

Heitor, definitivamente, é mais apegado à mãe do que a mim.

— Tenho certeza que ela irá amar! — Minha resposta o deixa ainda mais feliz até sair correndo como uma pipoca para dentro de casa com os pés sujos, me fazendo rir e apoiar as mãos na areia para me acomodar melhor ao ambiente que me acalma até nos piores dias com seu vento morno e revigorante.

Nem eu, nem Yasmin esperávamos outra gravidez depois de tudo que aconteceu, principalmente porque ela havia acabado de se recuperar da depressão depois de anos de tratamento — três para ser mais exato. Ambos os processos não foram fáceis e a paciência e o amor foram nossos maiores aliados na época, pois para cada cinco dias bons da minha esposa, oito eram ruins e assim seguimos tentando até se tornarem dez dias bons e três ruins, onze dias bons e quatro medianos, quinze dias bons e um à beira do precipício e, por fim, sem dias ruins como antes. Como disse, não foi um processo fácil, inclusive para mim que tive que conciliar o meu tempo em cuidar de Yasmin, trabalhar e estar presente na vidas das crianças... Foram dias cansativos, porém deu tudo certo depois de muita persistência e agora estamos aqui com outros problemas, mas que não vêm ao caso agora.

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