CAPÍTULO 09: O tempo passa e, consequentemente, novas alianças são necessárias

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Eu sou forte por fora
Não por dentro
Nunca fui perfeito
Mas nem você foi
Leave Out All the Rest,
Linkin Park

...

ATUALMENTE

Y A S M I N

Os acionistas poderiam ter escolhido qualquer dia para eu vir assumir a empresa pela primeira vez, mas parece que até mesmo nisso minha sorte está contra mim, uma vez que estou dentro do carro com um olhar vago para a enorme construção de vidro repleta de plantas na parte dentro, no dia do aniversário de falecimento da minha mãe.

Respiro fundo, fecho os olhos com força e aperto os dedos no volante.

— Um dia de cada vez, Yasmin. — Sopro as palavras e forço um sorriso político no rosto.

Minha mãe não gostaria que eu ficasse remoendo o passado, mesmo que esse passado me consumisse toda vez que as lembranças do seu corpo caído e desacordado no pé da escada voltasse a minha mente como se não tivessem se passado vinte anos do ocorrido... Nem mesmo a imagem do sangue escorrendo por seu nariz, o olhar desesperado do meu pai para ergué-la do chão ou nós dois dentro do carro em alta velocidade, rezando para que o inevitável não acontecesse, poderia ser uma visão melhor. Porém, o que mais doeu foi chegarmos ao hospital e poucas horas angustiantes depois descobrirmos que mamãe faleceu. Apenas isso. Nada mais.

Eu e papai ficamos arrasados durante meses a fio... Entretanto, ambos fomos obrigados a seguir em frente por um emprego que não poderia esperar e por uma escola que precisava dar seguimento. No fim das contas, éramos dois corpos vazios vivendo no automático até que o luto passasse.

Uma lágrima quase escorre por meu rosto, mas a limpo a tempo de não borrar a maquiagem leve que fiz.

Após a morte de mamãe, papai e eu nos esforçávamos muito para levantar da cama ou fazer coisas simples, como as nossas corridas matinais ou tomar café. Tanto que só consegui voltar às lutas depois de dois anos, mas apenas para fins de saúde e hobbie. Competições estavam fora de cogitação, já que minha torcedora favorita não estaria mais lá.

— Nada como um dia após o outro... — Tento convencer a mim mesma e saio do carro com uma bolsa tote simples de couro, depois de conferir pelo retrovisor se o coque do cabelo está firme. Eu preciso seguir em frente pelos meus filhos ou nenhum dos últimos sete meses que se passaram valerão a pena.

Confesso que partiu meu coração deixar Safira com meu pai para ir trabalhar, mas é um mal necessário e esperei esses sete meses justamente para que ela fosse grandinha o suficiente para conseguir ficar longe de mim ao menos pela parte da manhã. Por sorte, os meninos já estudam, então é um alívio a mais, além do fato de papai estar me ajudando com os meus filhos nos últimos tempos ao ponto de ter vindo morar conosco para isso.

Sem dúvidas, ele foi um pontinho de paz no meio do meu furacão de emoções e, como somos parecidos até demais, não foi difícil que papai percebesse quando estava esgotada para fazer qualquer coisa.

Outras pessoas que me ajudaram bastante foram os meus sogros que levavam Junior, Breno e Benjamin para passear sempre que possível para que eu pudesse respirar por algumas horas.

Entretanto, o mais difícil de verdade foi ter que responder às perguntas das crianças acerca do pai. Não posso mentir e dizer que Bruno não foi presente na vida deles tanto que vem visitá-los nos fins de semana e feriados, mas doeu absurdamente ele passar pelo portão de casa, dizer um "Bom dia" sem olhar nos meus olhos um segundo sequer e pegar os nossos filhos para ir embora.

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