CAPÍTULO 01: Arrependimentos e rancores podem destruir qualquer relacionamento

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Eu digo a mim mesma que você não significa nada
Que o que nós temos, não tem nenhum poder sobre mim
Mas quando você não está lá, eu simplesmente desmorono
Only Love Can Hurt Like This,
Paloma Fight

...

ATUALMENTE

Y A S M I N

O que está acontecendo?

Essa pergunta martela na minha cabeça incessantemente, fazendo-a parecer que irá explodir! Num momento, estou em trabalho de parto e pensando que irei morrer; depois, fico muito feliz e aliviada por minha filha finalmente nascer; e por fim, meu sogro está sendo segurado para não espancar Bruno num corredor de hospital.

Engulo em seco com as mãos trêmulas.

O que está acontecendo?

Tento respirar fundo, mas nada adianta. Eu estou tão nervosa quanto antes, e o barulho enjoativo do aparelho de batimentos cardíacos disparado piora a situação. O enfermeiro tenta injetar alguma coisa em mim, entretanto o empurro para não me tocar.

Quanto a enfermeira que estava indo levar Safira, ela simplesmente sumiu numa corrida rápida para levar minha filha o quanto antes para a ala de recém-nascidos e tirá-la da confusão. Os gritos com certeza não fariam bem a um ser tão precoce.

Já Sara, correu para o corredor num ato reflexo de mãe preocupada com o filho.

— Você ficou maluco, porra? O que estava pensando? — Ricardo, o pai de Bruno, praticamente cospe as palavras ao mesmo tempo que tenta se soltar dos dois homens que o seguram. — Perdeu o juízo? Eu não te criei para ser um filho da puta, moleque!

Bruno se ergue do chão, recusando a ajuda das pessoas que se oferecem para isso. Ele apenas se desvencilha dos toques, concerta o jaleco no corpo e sorri com ódio à medida que limpa a boca com o dorso da mão.

— Acho que já estou velho demais para me chamar de moleque, pai. — Sua voz é totalmente sarcástica, o que me surpreende num misto susto e falta de entendimento.

Bruno e Ricardo sempre foram extremamente unidos, os dois são um exemplo de relação pai e filho. Dificilmente as pessoas — inclusive eu, que cresci ao lado deles — viram uma cena dessas em trinta e seis anos, ou seja, a nossa idade. Enquanto Ricardo está fora de si, Bruno é frio como uma pedra de gelo. Sua barba e cabelos loiros parecem compor ainda mais essa visão incomum na família Sanchez.

Franzo as sobrancelhas.

O que está acontecendo?

— Que se foda! — Ricardo consegue sair do aperto e vai até o filho com passos duros, mas agora permanece apenas com o dedo apontado em sua direção.

Bruno engole em seco e olha para mim de esguelha. Contudo, diferentemente das tantas outras vezes que trocamos olhares furtivos, seus olhos demonstram algo que não sei decifrar... Parecem rancorosos ou algo muito pior.

— Pensa que eu não te vi saindo daquela sala de merda com aquela vadia? Tem noção do que fez? Você perdeu o nascimento da sua filha e deixou a sua mulher sozinha por causa da porra de uma foda, seu imprestável! Moleque é pouco para o filho da mãe que está sendo agora.

Pisco algumas vezes, sem acreditar no que meu cérebro compreendeu daquele simples monólogo, carregado de xingamentos e insultos.

Bruno dá de ombros.

— O que posso fazer se você entrou na hora e lugar errados? — Ri como um idiota e recebe mais um soco de Ricardo.

Mais gritos.

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