PRÓLOGO: O medo é o pior inimigo daqueles que o temem

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DEDICATÓRIA
Às pessoas da minha vida que sempre me ensinaram que, enquanto houver vida, haverá esperança.

...

ATUALMENTE

Y A S M I N

Antes de mais nada, quero dizer que isto não é um conto de fadas. Não é um romance fofinho onde os protagonistas se apaixonam perdidamente e são felizes para sempre, formam uma família e envelhecem juntos... Essa é a história de como eu perdi o amor da minha vida.

— Respire fundo, Yasmin. Respire. — Minha sogra pede enquanto aperto a sua mão, e um grito horrível de dor transpassa minha garganta como se o mundo estivesse desabando sobre minhas costas, mas eu não pudesse suportar.

Falar parece fácil...

— Onde ele está, Sara? — Uma vontade absurda de chorar me preenche. Só que eu já estou chorando pateticamente na frente de todos aqui desde o início. Para piorar, meus lábios estão trêmulos, apesar de fazer uma força absurda para que consiga realizar o necessário.

Eu estou com medo... E eu odeio ter medo.

Mas, dessa vez, não é somente pelo fato dele não estar aqui. É também porque tenho receio de algo ter acontecido com ele.

— Onde está o meu marido? Por favor, só me diga onde ele está... — Outro grito sai tão doloroso quanto o anterior assim que termino de falar. Respiro fundo com a cabeça girando e recosto-a na maca para tentar amenizar a situação caótica.

Não era para ser assim.

Olho para Sara a minha direita. Ela tem uma expressão preocupada e culpada, mas a culpa não é dela. Não é culpa de ninguém, somente minha e dele.

— Eu não sei, querida... — Fala com sinceridade e aperta um pouco mais a minha mão numa tentativa ilusória de me passar forças. — Mas você precisa ser forte, tudo bem? Eu estou aqui, prometo ficar com você até o fim. — Tira uma mecha rebelde de cabelo preto do meu rosto, e aceno em concordância. Mesmo que eu não seja das mais adeptas a usá-lo solto, hoje é uma exceção. Beleza é o menor dos problemas agora.

Eu preciso ser forte por mim e pelos meus filhos, eles são os únicos por quem daria a minha vida para proteger... Eles são, definitivamente, os meus maiores tesouros.

Respiro fundo e faço força mais uma vez. Eu estava em trabalho de parto a quase duas horas e nada dele — a pessoa que jurei fidelidade na frente do altar — aparecer.

Para piorar, está sendo muito difícil desde o momento em que minha bolsa estourou. Meu marido não atende a porcaria do telefone, meu pai está do outro lado do país — o que não é sua culpa — e somente meus sogros estão aqui comigo. Por sorte, as crianças ainda estão na escola, então é mais fácil de administrar tudo isso e uma forma de acalentar a turbulência da minha cabeça.

Solto outra respiração e faço força mais uma vez como se minha vida dependesse disso... E ela depende, na verdade.

Entretanto, é inútil. Nada aconteceu, e minha filha continua teimando em vir ao mundo, me lembrando vagamente da minha própria personalidade, mesmo que minha cabeça esteja confusa demais para pensar claramente.

Por favor, filha, colabora com a mamãe. Penso com sinceridade e mordo os lábios ao ponto de sentir o gosto metálico do sangue na boca.

Repito o movimento de força por tantas vezes que sinto que isto nunca irá acabar. Olho para o relógio na parede e já se passaram mais quarenta minutos intermináveis. Além disso, o tic tac do relógio é o único barulho perfeitamente audível que atinge os meus ouvidos, perturbando o mais íntimo do meu ser. É como um lembrete de que o tempo está passando e não pude fazer nada para mudá-lo... Ou melhor, eu não me esforcei para mudar algo e agora colherei os frutos disso.

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