CAPÍTULO 03: As partidas de quem mais amamos são as que mais doem

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Eu sei que juramos que nunca sairíamos do lado um do outro
Mas devo dizer adeus
Airplane Mode,
Hayd

...

ATUALMENTE

B R U N O

— Eu vou embora.

Ainda não são sete horas da manhã e o nosso mundo particular já se tornou um caos. Pego minhas malas com a raiva me consumindo assim como um vulcão em erupção, prestes a cometer alguma catástrofe natural; então, é óbvio que preciso sair o mais rápido daqui, pois não sei o que fazer, nem como agir. Sinceramente, eu não sei. Ficar e ver minha mulher me olhando como se eu não existisse? Me sentir ainda mais culpado pelo o que fiz? Ver o rosto decepcionado dos meus filhos diariamente? Aguentar o julgamento da minha família?

Não. Definitivamente, não. Todas essas alternativas estão fora de cogitação. Preferia nadar com tubarões a ter os meus erros revelados diante dos meus olhos, mesmo já tendo consciência deles.

Não me orgulho de nada, é verdade; mas, na mesma medida que o arrependimento é o motivo do meu coração bater tão violentamente, a raiva me consome ao ponto de estar cego e com vontade de chutar tudo pelos ares, sumindo para um universo paralelo ao real.

Fecho os olhos com força e abro a porta com brutalidade para pegar minhas roupas e enfiá-las da pior forma possível dentro das malas.

— Suas roupas estão do outro lado. — A voz de Yasmin me faz paralisar. Mesmo estando chateada, triste e decepcionada por dentro, ela ainda me "ajuda" com seu humor morto dos últimos tempos.

E isso me enfurece.

Vou para o outro lado do closet — que até hoje não entendi muito bem a necessidade de ser tão grande se somos apenas duas pessoas no quarto — e pego o que ela falou.

Sua voz só me faz ter mais certeza de que quero ir embora. Não suportaria ficar nem mais cinco minutos dentro dessa casa com uma desconhecida, porque essa não é minha esposa. A Yasmin que conheço não é assim.

Essa... Essa versão morta por dentro não é a mulher com quem me casei.

Tudo começou a ficar estranho quando Yasmin descobriu a gravidez de Safira. E antes que minha consciência venha dizer que deveria ser mais paciente, quero lembrá-la de todas as merdas que fui obrigado a ouvir quando simplesmente queria ajudá-la.

Yasmin não se permitiu ser salva de algo que eu mesmo nem sei o que seja!

Ela apenas se fechou para o mundo de uma forma bizarra, ficando mais séria, apática, fria e insensível. Eu tentei — realmente tentei — entender o que estava acontecendo, mas é impossível ajudar quem não quer ser ajudado. Sabe o quão doloroso é tentar se aproximar da sua esposa dia após dia, noite após noite e ser rejeitado no fim? Tentar conversar e não ser escutado ou receber uma resposta com ignorância? Tentar fazer absolutamente tudo e ser enxotado como um saco de lixo com comida podre?

Porra, eu tentei! Fiz cada coisa ao meu alcance, mas em algum momento do percurso eu cansei. Cansei de insistir em alguém que não lutava, pois um casamento só funciona se os dois lados da gangorra balançarem. De nada adianta um descer e outro ficar parado, inerte, olhando o horizonte e esperando que algo extraordinário aconteça.

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