Corações & Erros || ✔

CAPÍTULO 28: Um segundo de fraqueza pode destruir o homem mais honesto

Eu nunca tive a intenção de te causar alguma mágoa
Eu nunca tive a intenção de te causar alguma dor
Só queria te ver rindo ao menos uma vez
Só queria te ver rindo na chuva púrpura
Purple Rain,
Prince

...

NOVE MESES ANTES

B R U N O

O barulho dos carros e motos correndo apressados pela estrada abafa um pouco o turbilhão de pensamentos que rondam minha mente. Está se tornando cada vez mais difícil de entender Yasmin e, às vezes, sinto vontade de desistir... Mas, segundos depois, sempre afasto essa ideia maluca e recobro a consciência. Não posso deixar minha esposa em plenos oito meses de gravidez sozinha, somente um cara muito filho da mãe faria isso com uma mulher — e o que não falta no mundo são homens assim.

Balanço a cabeça e olho para o céu estrelado da praça qualquer onde estou.

— O que há de errado com você, Yasmin? — Pergunto para o vento morno que beija meu rosto nessa noite.

Eu vim para cá em busca de paz, já que não tenho isso em casa a algum tempo, então apenas preferi me dar um descanso e saí direto do trabalho para cá. Na verdade, foi Bella quem deu a ideia e, como estou evitando a todo custo enfrentar o dragão raivoso que me espera, acabei aceitando.

Não é nada pessoal, mas ficar em casa se tornou uma verdadeira tortura, e a única coisa que ameniza isso são os meus filhos.

— Meu Deus, o que eu faço? — A pergunta é genuína, e um cheiro conhecido de shampoo extremamente forte surge ao meu redor.

— Que cara de bicho morto é essa, Bruno? — Estou tão cansado física e mentalmente que nem me assusto com a voz que surge de repente ao meu redor.

Sorrio fechado com a cabeça ainda virada para cima e, devagar, me viro em direção à ruiva bem vestida por ter acabado de sair do trabalho no Ministério Público da cidade.

— Boa noite, Bella.

— Boa noite, amigo! Meu Deus, eu estou moída! — Praticamente se joga ao meu lado no banco da praça com a bolsa de grife, nem parecendo ser a mulher culta que usa como máscara na frente das pessoas. Ela está realmente cansada. — Você acredita que hoje fui obrigada a passar quase dez horas seguidas dentro do tribunal?

— Mas esse não é o seu trabalho? — Sopro uma risada fraca. Estou tão exausto que meus olhos estão pesados de sono.

— É, mas ter que ouvir a lorota de advogados criminalistas de quinta categoria é um verdadeiro inferno! E pior: ele não estava fazendo a defesa de um simples ladrão vagabundo, era um integrante da La Corona!

— Espera! La Corona já chegou em Santa Catarina? — Meus olhos se arregalam verdadeiramente agora.

La Corona é uma facção criminosa que teve início em meados de 2016 na Guiana Central — um território criado em 2004 da repartição de terras concedidas da Venezuela para a Guiana — a partir de grandes integrantes do alto escalão do poder do país que planejavam assaltos milionários nas fronteiras, controle da massa populacional própria, gigantescos esquemas de corrupção que envolviam outros países, financiamento da produção de drogas para o restante da América Latina e etc. Por isso que se autointitularam "A Coroa" em espanhol, afinal não foram simples integrantes comuns da sociedade que a fundaram... Só não imaginava que chegariam tão rápido no Brasil e, principalmente, aqui em Florianópolis.