CAPÍTULO 24: O começo do erro é sempre mais florido

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Eu e você, o que está acontecendo?
Tudo que parecemos saber é como mostrar
Os sentimentos que estão errados
Don't Go Away,
Oasis

...

UM ANO E MEIO ANTES

B R U N O

Encosto a cabeça na parede do hospital, deixando minhas forças irem embora e o corpo ceder até atingir o chão, então coloco as mãos no cabelo coberto pela touca cirúrgica azul e deixo que uma lágrima de felicidade escorra.

— Meu Deus, obrigado... Nós conseguimos mais uma vez... Salvamos a mãe e o bebê. — Sussurro comigo mesmo, e um sorriso genuíno de leveza permeia meu rosto.

Foram longas sete horas ininterruptas de uma cirurgia cardiovascular em uma jovem grávida de cinco meses, o que exigiu um esforço imenso da minha equipe para que nem a mãe, nem a criança saíssem prejudicadas. Perder uma das duas não era uma opção! E, por Nossa Senhora, as duas ficaram bem e agora é só esperar o efeito da anestesia passar para garantir que ambas estão completamente sem sequelas.

— Doutor Sanchez, parabéns! A cirurgia foi um sucesso! — Marcos, um dos enfermeiros mais competentes que já conheci, senta-se do meu lado no chão e sorri com a sensação de trabalho bem feito. Ele está tão cansado, mas satisfeito quanto eu.

Concordo com a cabeça e coloco a mão sobre a boca para conter a risada de descrença misturada a alívio.

— Não foi só eu, Marcos, todos nós fomos verdadeiros heróis dentro daquela sala. — Falo a verdade. Muitos dão os créditos apenas aos médicos responsáveis e se esquecem da equipe por trás, a qual é essencial para que tudo se concretize. — Sozinho, eu não teria feito nem metade, amigo.

Meu colega de profissão me olha de esguelha e ri nasalado.

— Você é um bom médico, Bruno. Sinto que seu futuro ainda é muito promissor na área se se dedicar mais ainda. — Seu comentário me tira um sorriso ladino.

— Não discordo, cara, mas para isso teria que abdicar de outra coisa tão importante quanto em troca: minha família. — Coço o queixo, sentindo-me estranho sem a barba.

Yasmin quase me matou quando viu que eu havia tirado! Seguro a vontade de rir pela lembrança.

— Minha mulher e meus filhos merecem o pouco tempo que tenho para eles, o hospital já me tira o suficiente. — Comento e, de esguelha, consigo ver Marcos me olhando de forma compreensiva. — Amo meu trabalho, mas eles vêm em primeiro lugar. Além disso, com a descoberta recente da nova gravidez e os nossos três garotos já grandinhos, minha esposa precisa ainda mais de mim.

— O tempo passa e minha admiração por você só aumenta, doutor.

— Eu só tento fazer o melhor pelas pessoas que amo, Marcos. O resto, a gente dá um jeito. — Sopro uma risada, já me levantando para continuar o trabalho e sendo acompanhado pelo enfermeiro. Ainda tenho mais algumas horas de plantão para cumprir antes de fazer uma surpresa para Yasmin.

Sorrio discretamente comigo mesmo, me preparando para atender o próximo paciente.

Como estou trabalhando o dia inteiro, não pude ir com minha esposa para a consulta do pré-natal, mesmo que seja algo que sempre faço questão de participar. Além disso, hoje é o dia de finalmente ouvirmos o coração do nosso bebê! Não tem como não ficar ansioso para chegar em casa e saber de tudo, inclusive ver os vídeos que Yasmin prometeu fazer daquele momento.

Assim que viramos o primeiro corredor onde ficam as alas cirúrgicas, Mariana, a enfermeira-chefe da Baía Sul, vem correndo em nossa direção para avisar que precisaremos entrar em cena mais uma vez, visto que um idoso acabou de chegar em estado crítico.

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