Você fez algumas coisas sobre as quais não consegue falar
Mas à noite, você as vive de novo
Você não estaria despedaçado no chão agora
Se tivesse visto antes o que sabe agora
Innocent,
Taylor Swift...
NOVE MESES ANTES
Y A S M I N
Na minha opinião, o último trimestre de gravidez é o mais difícil de se administrar, seja pelo tamanho da barriga, seja pelo medo do que possa vir a acontecer durante o parto do nosso bebê. Porém, dessa vez, confesso que estou é bem cansada de simplesmente existir na verdade. Tudo está desmoronando ao meu redor, mas ao menos ainda tenho a companhia da minha pequena Safira vinte e quatro horas por dia.
Sorrio comigo mesma de frente para o espelho do quarto e passo a mão na barriga redonda, mas não muito grande para quase trinta e oito semanas.
— Acho que isso é reflexo da gravidez dos gêmeos, já que me sentia um balão inflável. — Sopro uma pequena risada e coloco o cabelo para trás da orelha.
Apesar dos pesares, essa gravidez é uma das poucas coisas boas da minha vida... Ter descoberto o câncer só me afastou ainda mais de Bruno, que vem ficando distante pouco a pouco graças às minhas ações impulsivas, tanto que a alguns dias apareceu bêbado na porta de casa e agindo como um corpo semi-morto — aquilo me enfureceu em níveis astronômicos e, mais uma vez, brigamos, ou melhor, eu briguei e ele ouviu tudo calado até dormir pesado no sofá para não precisar me "enfrentar". E como se isso não bastasse, Diogo me beijou à força na semana passada, e tive que me afastar dele, a única pessoa que conseguia ter conversas realmente decentes nos últimos tempos comigo, por motivos óbvios.
Ou seja, mais e mais decepções, só contribuindo para que eu me isolasse mais que o normal.
Meu sorriso morre diante do espelho.
— Por quê? — Nem eu mesma sei a quê me refiro, mas prefiro deixar que a parte subjetiva do meu cérebro trabalhe na resposta.
Os únicos que ainda me presto ao trabalho de agir normalmente são meus filhos; fora isso, a Yasmin de depois-de-descobrir-a-leucemia age de acordo com as frustrações que a vida está a submetendo... Eu realmente gostava da companhia de Diogo, mesmo que suas falas fossem um pouco confusas às vezes. Ele me ajudou a não desistir de continuar mesmo quando eu queria que o mundo desabasse sob minha cabeça e terminasse comigo de vez.
Porém, não foi só isso.
Eu precisava continuar vivendo pela minha filha, ela merece sentir o ar nos pulmões, dar os primeiros passos, sorrir para as coisas mais bobas, crescer, conhecer o amor e, quem sabe, viver um conto de fadas moderno com algum amor de infância ou algo do tipo. Ademais, esse foi o principal motivo para eu decidir adiar as sessões de quimioterapia para depois que minha menina nascesse, permitindo que o câncer se desenvolva mais no meu corpo; caso contrário, ela poderia morrer por minha culpa.
Sinto que Safira surpreenderá muitas pessoas ainda.
— Menos um dia... — Olho para o calendário colado no espelho e fecho os olhos com força.
A cada meia-noite que passa, é mais um lembrete que meu tempo está se esgotando nessa terra.
— É melhor ir dormir. — Falo para mim mesma, tiro as sandálias dos pés e aperto do robe de cetim branco e longo (o pijama mais confortável que encontrei para usar durante a gravidez) no corpo, torcendo com o objetivo de Bruno ter algum imprevisto e chegar bem depois do fim do plantão.
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Corações & Erros || ✔
Romance"E se nós tivéssemos tentado mais? Será que seria o suficiente?" O mundo não é somente feito de juras à beira-mar e sonhos de um casamento perfeito. Ele também é feito de desencontros, brigas, palavras que não deveriam ter sido ditas, traições... En...