CAPÍTULO 04: Garotinhos e seus primeiros amores são um caso a ser estudado

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Você é minha melhor amiga?
Sinto como se um rio estivesse correndo pela minha mente
Quero te perguntar
Se tudo isso está na minha cabeça
Meu coração está batendo hoje à noite
E eu me pergunto
Se você é boa demais para ser verdade
Sweet Night,
V

...

VINTE E QUATRO ANOS ANTES

B R U N O

— O quão estranho é ser apaixonado pela sua melhor amiga? — Pergunto enquanto arrumo os materiais para o primeiro dia de aula. — Tipo, ela é minha melhor amiga a dois anos, e eu continuo agindo como um bobo toda vez que ela sorri 'pra mim, mãe!

Bufo, observando rapidamente como o dia está ensolarado fora do meu quarto.

Mamãe ri com os olhos no mesmo tom de azul que o meu, quase sumindo no processo, e afaga minha cabeça como seu eu fosse tolo demais para entender.

Faço uma leve careta, porque isso provavelmente bagunçou qualquer tentativa anterior de deixar os fios rebeldes arrumados do jeito que Yasmin mais gosta.

— Um dia, meu querido, você irá entender. — Entrega o meu lanche, que rapidamente guardo na mochila azul. — Agora, desça que você ainda tem que ir para a escola.

— Sim, senhora! — Brinco, fazendo continência, e mamãe sorri mais para logo depois dar beijos estralados na minha bochecha. — Mamãe! — Reclamo, mas acabo rindo alto ao mesmo tempo que tento fugir de seus ataques de carinho.

Sara Sanchez, a mulher mais incrível que conheci na vida e a melhor mãe do mundo, me dá um último abraço e me manda correr para o térreo com o objetivo de não perder o horário.

Sorrio para concordar e vou em direção à saída do quarto, não sem antes de dizer que a amo uma última vez.

— Eu também te amo, filho. — Sua voz é serena ao falar. — Bom primeiro dia! — Diz quando já estou no corredor.

Solto um risinho e agradeço com sinceridade.

Eu e minha mãe somos muito parecidos fisicamente graças ao cabelo loiro, pele branca e olhos azuis mais claros do que gostaria. Já em personalidade, é a ainda mais bizarro como parecemos compartilhar do mesmo neurônio. Mas, para compensar, meu irmão mais velho é como a versão mais nova do meu pai... O que não sei ao certo se é algo bom ou ruim. Ricardo Sanchez é uma pessoa boa e justa, mas dura como uma pedra ao mesmo tempo.

Segundo nosso pai, lealdade e princípios são essenciais, mas o sentimentalismo é para os fracos — algo que mamãe discorda fielmente, mas não deixa de amá-lo por isso.

A princípio, a forma como meus pais se conheceram é meio curiosa. Mamãe havia contado que amar o meu pai foi algo que nunca imaginou e era mais um relacionamento planejado pelos pais dos dois para aliar famílias de sobrenomes importantes em Santa Catarina — bem parecido com aquelas histórias do Romantismo, uma das minhas vertentes literárias favoritas! Depois de muito custo e certa compreensão do jeito de cada um, eles aprenderam que, apesar das diferenças, poderiam fazer o casamento dar certo de uma maneira que houvesse carinho e amor por ambas as partes.

Assim que chego na sala, a primeira pessoa que vejo é meu pai com o semblante neutro de sempre, cabelos castanhos claros meio bagunçados, roupa despojada e olhos azuis escuros fixos no jornal de papel... Papai é um homem bastante tradicional, então ainda prefere usar o clássico e velho jeito de ler as notícias da semana.

— Bom dia, pai. — Cumprimento-o de uma maneira menos carinhosa do que com minha mãe, pois conheço meu pai o suficiente para saber que não aprovaria uma animação às seis da manhã.

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