Nós seremos uma linha tênue
Nós vamos ficar bem
Fine Line,
Harry Styles...
ATENÇÃO ⚠️
Este capítulo terá tentativa de suicídio explícita.ATUALMENTE
Y A S M I N
Forço um sorriso que não chega aos olhos e aceno em despedida para meu pai que acaba de entrar num táxi com uma mochila para voltar ao nosso estado, devido à morte de uma das minhas tias.
— Deus te acompanhe, minha filha. — Sibila lá de dentro, e engulo em seco ao ver o carro se distanciar pela estrada arborizada e iluminada por postes, já que o dia ainda não amanheceu completamente.
Uma lágrima silenciosa desce assim que me viro para dentro de casa, olho ao redor e percebo que finalmente estou sozinha como queria a muito tempo. Deixo a porta aberta sem me importar se alguém poderia entrar ou não, porque não faz diferença — ou melhor, não fará.
Ninguém se importa o suficiente para ficar ou ver o que eu irei fazer comigo mesma.
Com os pés descalços no chão frio e liso pelo porcelanato de classe A, eu vago pela casa como um corpo sem alma, sentindo uma dor absurda querendo consumir cada celular do meu ser tão cansado de sentir algo assim ao ponto de querer gritar para o mundo. Quando finalmente paro em frente a uma parede de vidro que dá acesso ao jardim dos fundos, a única coisa que consigo ver é meu reflexo morto ali.
A camisola branca desgastada e grande para um corpo que se tornou tão magro pela quantidade de remédios e tristezas, o cabelo ralo pelas quedas graças à quimioterapia de merda e um rosto completamente sem... Sem... Sem nada. Sinceramente, eu não sei dizer o que há aqui, já que tudo falta. Falta até mesmo pedaço do meu coração, um pedaço da minha alma, um pedaço da mulher que um dia eu já fui.
É tão complicado explicar isso às outras pessoas, porque não tem como falar o gosto do amargo para alguém que nunca experimentou uma comida realmente amarga — acho que essa é a melhor analogia que poderia fazer. No mais, descrever o que há aqui dentro é perca de tempo.
É perca de tempo porque eu mesma não sei dizer.
— As crianças ficarão melhores sem mim... — Sussurro para meu reflexo distorcido e me viro em direção à cozinha. — Eu estrago tudo, escondo tudo e não consigo falar absolutamente nada. Quem quer ficar com alguém assim? — A pergunta martela na minha mente à medida que meus pés frios como o gelo me levam até um compartimento específico do cômodo, escondido até mesmo das crianças.
Com o polegar esquerdo, permito o livre acesso ao pequeno cofre atrás de um quadro do Sagrado Coração de Jesus — trazido por meu pai — ao lado dos armários de madeira rústica. E assim ele abre, revelando uma pistola 9 mm nova e quase nunca usada. A última vez que toquei nela foi quando meu pai chegara de surpresa na antiga casa após a minha separação a meses atrás, mas nunca se quer cogitei a possibilidade de mexer nela com o intuito que tenho agora.
Seguro firme na arma de fogo, sento-me no chão de frente para o cofre e posiciono o cano em direção a minha cabeça, mas sem pôr o dedo no gatilho ainda.
— É o melhor a se fazer. — Nesse ponto, minhas lágrimas já secaram. Na verdade, nem sei se há lágrimas para caírem de tão desidratada de água e esperança que estou.
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Corações & Erros || ✔
Romance"E se nós tivéssemos tentado mais? Será que seria o suficiente?" O mundo não é somente feito de juras à beira-mar e sonhos de um casamento perfeito. Ele também é feito de desencontros, brigas, palavras que não deveriam ter sido ditas, traições... En...