CAPÍTULO 31: Um pouco de loucura não faz mal se posto na dose certa

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Tem uma chama surgindo no meu coração
Está tomando conta de mim e me tirando da escuridão
Finalmente, eu posso te ver claramente
Vá em frente e revele meus defeitos, e eu vou expor todas as suas mentiras
Rolling In The Deep,
Adele

...

ATUALMENTE

B R U N O

Hoje completa exatas duas semanas desde que Guilherme foi na fazenda para negociar conosco sobre o caso da intoxicação de Yasmin. Foram dias complicados devido à espera, mas valeram a pena, principalmente porque estamos a apenas alguns passos para o golpe final e descobrirmos quem também está envolvido no plano, evitando que mais pessoas sofram dessa injustiça.

Confiro se o microfone está bem posicionado e escondido pela blusa social e respiro fundo, tentando controlar a ansiedade.

A partir de agora, tudo depende de mim. Se eu falhar, todas as informações que lutamos podem ser jogadas esgoto a fora, afinal não sabemos que tipo de poder político Flávio teria para aplicar um golpe como aquele com tanta tranquilidade e sem medo das consequências.

— Amor, irá dar certo... — A mão de Yasmin toca a minha com delicadeza, tentando me acalmar ao ponto dela precisar entrelaçar nossos dedos para me impedir de mexer mais a perna. Nem havia percebido que eu estava tremendo num tic-tac nervoso para alguém tão tranquilo como sempre fui. 

Ergo o olhar e observo minha esposa no banco do carona com uma expressão reconfortante, enquanto sorri docilmente para tranquilizar os demônios internos de ira e medo que se apossam de mim. 

— Eu confio em você.

Sorrio minimamente de volta.

Tê-la depositando tanta confiança em palavras sobre mim acaba por ser o combustível que faltava para fazer o que sabemos ser o certo. Não foi fácil fingir normalidade dentro do hospital sabendo de tudo que algumas pessoas ali possam tem feito contra Yasmin sem nem mesmo conhecê-la direito... Ter que sorrir e cumprimentar a todos, principalmente meu suposto melhor amigo, foi uma tortura devido à vontade de socar sua cara toda vez que os olhos castanhos me miravam com tanta normalidade e cinismo, como se não tivesse tentado matar minha esposa debaixo do meu nariz. Sem dúvidas, eu não podia confiar nem mesmo na minha própria sombra pelos corredores da Baía Sul, e isso foi o estopim para me afundar numa melancolia desgraçada toda vez que voltava dos plantões, tendo como única companhia uma garrafa de vinho da adega dos meus pais.

Como Yasmin, as crianças, meus pais e Seu Edson (que voltara recentemente da Bahia com toda a confusão que aconteceu) foram para o Paraná por questões de segurança e para minha esposa conseguir fazer os exames a fim de sabermos se há câncer ou não, eu fiquei literalmente sozinho no apartamento de merda que arranjei quando fui embora de casa, sendo obrigado a ver o rosto miserável de Leonardo todas as vezes que saía de casa. Entretanto, apesar de querermos brigar todas as vezes que nos víamos — algo claro só de observar a ira nos olhos de cada um —, eu o ignorava por estar cansado demais de tudo que vem acontecendo na minha vida.

Tenho mais coisas com o que me preocupar do que um policial sem princípios.

E falando nas minhas suspeitas de que Yasmin nunca teve se quer um tumor no corpo e que os sintomas da leucemia foram forjados, eu estava certo.

As únicas coisas que ela tinha no sangue eram doses altas demais de remédios contraindicados para alguém saudável e um corpo adoecido por eles ao ponto de estar a beira da morte por causa disso. Se tivesse se passado um mês ou até menos com Yasmin tomando as drogas, não teríamos a possibilidade de reverter isso. Na verdade, só pelo tempo que ela está com isso no organismo, já teremos um longo caminho para tirarmos tudo, mas não impossível. Porém, como nada no mundo é tão simples, infelizmente, ela terá que conviver com as consequências que uma intoxicação tão forte pode causar, mesmo não sendo muita coisa se comparada aos efeitos que continuar com a medicação traria.

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