Corações & Erros || ✔

CAPÍTULO 20: Nunca duvide do destino, ele pode te surpreender em meio à dor

Não tenha medo, pare de chorar
Me dê a mão, venha cá
Vou proteger-te de todo mal
Não há razão pra chorar

No seu olhar eu posso ver
A força pra lutar e pra vencer
O amor nos une para sempre
No Meu Coração Você Vai Sempre Estar,
Ed Motta (Tarzan)

...

ATENÇÃO ⚠️
Este capítulo pode conter gatilhos, como aborto espontâneo. Caso seja sensível ao tema, pule para a segunda parte (após a primeira divisória).

NOVE ANOS ATRÁS

B R U N O

O que dizer sobre a busca pela felicidade? Uma utopia, um desejo intrínseco de todo ser humano, uma idiotice ou uma analogia daquilo que viveremos apenas no Céu? Bom, eu sinceramente não sei responder essa pergunta. A única coisa que sei, vivo e sinto neste momento é a dor de ver minha esposa sofrendo por algo que foge do nosso controle.

Com cautela e um pouco de dificuldade pela roupa social que uso, eu me sento no chão do banheiro, pego Yasmin em meus braços e a coloco no meu colo, agarrando-a o máximo que posso para tentar confortar seu coração quebrado em mil pedaços mais uma vez.

— Eu não entendo, Bruno... E-eu realmente n-não entendo... — Sua voz trêmula para tentar esconder o choro compulsivo me quebra ao ponto de fechar os olhos para não chorar junto.

Essa situação é tão dolorosa para mim quanto para Yasmin, mas preciso ser seu porto seguro agora. Não há outra opção.

— Há coisas que nunca iremos entender, meu amor... Nós fizemos o possível, ele ou ela está num lugar melhor agora. — Sussurro em seu ouvido e apoio meu queixo em sua cabeça, sentindo cada célula do meu corpo querendo transbordar de tristeza e remorso por não poder fazer algo, mesmo estudando durante anos para salvar a vida das pessoas. 

Na vida real, fora da faculdade, ninguém te prepara para perder um filho. 

— Eu me sinto tão culpada, Bruno! Tão, tão culpada... Estava indo tudo bem e aí... Aí eu vi o sangue escorrendo e... Meu Deus, me desculpa! — Ela volta a chorar e soluçar alto, deixando que seus sentimentos sejam liberados da forma mais humana possível.

— Não é sua culpa, Yasmin, nunca foi, me ouviu? Nunca será sua culpa. Independentemente de qualquer coisa, nós estaremos juntos como um só. As suas dores e felicidades são minhas, e eu vou sempre estar com você, na saúde e na doença. — Falo de maneira firme e respiro fundo para conter um soluço que insiste em querer sair da minha garganta. — Só Deus sabe das coisas que realmente passamos aqui; então, devemos ter calma... O nosso filho está num lugar melhor, eu sei disso... Eu quero acreditar nisso... — Dessa vez, torna-se impossível não chorar.

Imaginar que talvez Ele tenha nos abandonado é doloroso e o mais fácil de se agarrar, mas também luto contra as dores do coração e tento pensar com clareza. Deus escreve certo por linhas tortas, não é mesmo? Pois bem, ainda há esperança... Sempre haverá. Enquanto houver vida, um resquício da esperança deve existir.

Porém, isso não me impede de deixar que meus muros caiam, enquanto as lágrimas rolam por meu rosto em um silêncio triste ao mesmo tempo que seguro e tento confortar Yasmin, que chora apoiada no meu peito como uma mãe que acaba de perder um filho — o que, ironicamente, acabou de acontecer. Nem mesmo o diploma como cirurgião cardiovascular que conquistei ontem, depois de cinco anos de especialização, é algo realmente importante agora; pois, nesse momento, ele não passa de um pedaço de papel inútil.