Capítulo Quarenta E Seis

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Mikhail Petrov

A luz da manhã entra suavemente através da janela, criando um padrão de sombras e brilho no quarto. Acordo devagar, os sentidos ainda embriagados pela calma da noite passada. Sophie está ao meu lado, dormindo tranquilamente. O ambiente está silencioso, salvo pelo ocasional suspiro dela e o leve som dos pássaros lá fora. Sinto uma paz que não experimentei por um longo tempo. A reconciliação que tivemos ontem à noite trouxe uma clareza que eu havia buscado desesperadamente.

Ela começa a se mover, despertando. Vejo seus olhos se abrirem lentamente, revelando um olhar sonolento, mas contente. Ela sorri ao me ver, e o sorriso dela faz meu coração se aquecer. A tensão que costumava marcar nossas interações se dissipou, substituída por uma sensação reconfortante de entendimento.

— Bom dia, Anjo — ela murmura, a voz ainda suave e cheia de sono.

— Bom dia, meu raio de sol— respondo, forçando um sorriso enquanto me alongo. A sensação da noite passada ainda está fresca, e a suavidade do seu toque me traz um conforto inesperado.

Ela se aproxima, movendo-se devagar, e começa a passar as mãos pelo meu peito. O contato é delicado e carinhoso, mas sinto uma onda de tensão. Não é a sua presença ou o carinho dela que me causa desconforto, mas a sensação do toque em um lugar onde eu escondo muito mais do que apenas o físico.

Coloco uma mão sobre a dela, gentil, mas firme. Ela para e me olha com uma expressão de surpresa e preocupação.

— Mikha, o que foi? — Ela pergunta, a voz carregada de um misto de curiosidade e preocupação.

— Não — digo, tentando manter a calma. — Não é o momento. Eu não... não posso.

Ela retira a mão lentamente, sua expressão se tornando uma mistura de confusão e tristeza. O silêncio se estabelece entre nós, e eu posso sentir o peso da minha própria hesitação.

— Por que você não deixa eu tocar o seu peito ou suas costas? — pergunta ela finalmente, sua voz é suave, mas cheia de uma sinceridade que me toca profundamente.

Olho para ela, o desejo de compartilhar o que estou guardando comigo entra em conflito com o medo de me mostrar vulnerável. Sinto que é hora de ser honesto, mas a dor associada a essas memórias me faz hesitar. Respiro fundo, tentando encontrar as palavras certas.

— Quando eu era criança — começo a dizer, a voz saindo de forma hesitante —, minha tia era... muito severa. Ela não era apenas rígida; ela tinha um jeito cruel de lidar com a disciplina, ela é o marido drogados dela.

A lembrança traz uma onda de desconforto, mas continuo, sentindo a necessidade de ser transparente. O olhar de Sophie, cheio de empatia, me dá coragem para prosseguir.

— Havia uma forma de punição que ela usava, algo que ela chamava de "lembrança permanente". Ela acreditava que deixar marcas físicas me faria lembrar das lições que ela queria ensinar. A cada erro, a cada falha, ela usava um cigarro ou uma régua, mas havia outras formas ainda mais dolorosas.

Pauso, tentando controlar a emoção na minha voz. Sophie me observa em silêncio, sua expressão um misto de tristeza e compreensão. Seus olhos brilham com uma intensidade que me faz sentir um peso aliviado.

— Eu tenho cicatrizes — digo, quase em um sussurro. — Cicatrizes que são um lembrete constante do passado doloroso. Não apenas marcas físicas, mas memórias de uma época em que eu não tinha poder para mudar nada. Não é apenas a dor que essas marcas causaram, mas o sentimento de impotência que eu carrego, por isso as tatuagens no peito e costas.

Sophie se aproxima mais, sua mão ainda repousando ao lado da minha, oferecendo um toque de apoio que é quase terapêutico. Sua presença é um contraste tão suave em relação à dor que estou descrevendo.

Na Mira Da Bratva [Vol2: Anjos Sangrentos]Onde histórias criam vida. Descubra agora