Acordo com a luz do sol invadindo o quarto, esquentando meu rosto e me arrancando da “paz” que queria tanto manter. Hoje não tem como evitar. Desligo o alarme no celular, que já estava tocando há minutos, e me arrasto até o banheiro. A água fria do chuveiro me desperta como um choque de realidade. Me olho no espelho, ainda longe de estar pronta, e forço um sorriso que não chega aos olhos. Respiro fundo. É isso que a gente faz, engole os sentimentos, enfia tudo lá no fundo da alma e segue fingindo que está tudo bem.
Na cozinha, o som da cafeteira e o cheiro do café fresco são o único conforto do meu dia. Seguro a xícara nas mãos e sinto o calor nos dedos. Quando vou tomar o primeiro gole, a campainha toca. Solto um suspiro irritado. Quem aparece sem avisar a essa hora? Ignoro na esperança de que desistam, mas toca de novo.
— Já vai! — grito, mais irritada do que pretendia, e vou até a porta com passos pesados. Quando abro, sinto minhas pernas fraquejarem.
— Oi... Sei que já devia estar no trabalho, mas precisava ver se você tá bem — diz ela, com aquele olhar que sempre me desmonta.
— Ângela... — minha voz falha, e só consigo ficar ali, olhando pra ela. Eu estava segurando tudo, mas, ao ver minha amiga, a barragem rompe. Ela não espera uma palavra a mais, me puxa para um abraço apertado.
— O que tá acontecendo? Você sumiu. Não responde, não atende... — A preocupação na voz dela me faz desmoronar de vez.
— Descobri que sou adotada, Angel. Tudo... tudo foi uma mentira — confesso entre soluços. A verdade finalmente dita em voz alta parece ainda mais pesada carregada de uma dor esmagadora.
Ela me guia até o sofá, e eu conto tudo — sobre os documentos que achei com Lorenzo, que Pietro estava me dando apoio e o colapso que tive. Ângela me ouve em silêncio, seus olhos cheios de uma dor que espelha a minha.
— Sinto muito — ela diz, a voz embargada. E ficamos ali, abraçadas no silêncio que só ela sabe como preencher. Ela é meu porto seguro, a única que consegue me manter à tona quando sinto que estou me afogando.
O resto do dia se arrasta. Trabalho até tarde, presa na hora extra que parecia um castigo. O cansaço é insuportável, e enquanto arrumo minhas coisas, tentando equilibrar tudo nos braços o celular acende com uma notificação. Vejo o nome "Mamãe" na tela, e um gelo se instala em meu estômago. Deixo cair os papéis e me amaldiçoo pela terceira vez no dia.
Dante aparece do nada, juntando os papéis que caíram das minhas mãos trêmulas. Agradeço rapidamente, tentando conter as lágrimas que ameaçam cair. Ele pergunta se estou bem, mas eu só consigo mentir. Não consigo arrastar mais ninguém para esse caos.
Em casa, ligo para Lorenzo, ainda tomada pela raiva. — Aurora eu sei por que está ligando mas… — Nem dá tempo de ele falar direito antes que eu dispare.
— Que merda você fez, Lorenzo?
— Aurora, você me excluiu da sua vida. Eu só queria respostas! — Ele rebate, a voz carregada de dor e frustração. — Ela precisa nos dar explicações. Você simplesmente saiu de cena me deixando com tudo isso nos ombros, nem sequer pensou em como iria me sentir.
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Perseguição Sombria
FanfictionNão recomendado para menores de 18 anos!! SINOPSE: Aurora Fiore Martinez retorna a Verona, sua cidade natal,vivendo agora na casa dos seus falecidos avós,ela sente que fez a escolha certa. Itália sempre foi seu lar. No entanto, ao enfrentar os desaf...