Capítulo 27 - As Peças de um quebra-cabeça Antigo

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Meus olhos estavam fixos na pilha de papéis sobre a mesa

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Meus olhos estavam fixos na pilha de papéis sobre a mesa. O coração martelando no peito só me dava mais certeza ainda de que o que é que estivesse ali não ia ser nada bom.

— Eu sei que falei que te ajudaria com isso, mas e se talvez for melhor deixar para trás um passado que você nem sequer sabe que viveu?

Finalmente, saí do transe encarando o homem ao meu lado. — Não. — respondo seca. — Eu prefiro conviver com a verdade, por mais dolorida que seja.

Respiro fundo, meus dedos tremem ao tocar na primeira página. Era um documento formal, com o logo do orfanato no canto superior. Meu nome e a data de entrada: 14 de setembro de 2001. Faltavam quatro dias para o meu aniversário de oito anos. Sinto a bile subir pela garganta com essa informação, mas continuo.

Na página seguinte, uma ficha de admissão. Li em voz baixa, cada palavra saindo de mim com um gosto amargo. "Admissão da menor Aurora. Acompanhada pela assistente social." O nome estava ilegível, borrado, como se o tempo tivesse apagado partes de mim junto com aquela tinta. Viro a folha, os olhos correndo pela escrita miúda e inclinada, tentando capturar algo mais pessoal.

Viro a página seguinte e um pedaço envelhecido apareceu. Toquei as bordas ásperas. "Entrega voluntária por parte do pai." Frase seca, sem explicação. Pai? Por que me deixou? A raiva silenciosa e uma dor no peito emergiram. Uma lágrima escorreu sem aviso prévio.

Continuo me torturando, cada página virada ficava mais dolorosa, até que parei: uma ficha de internação psiquiátrica. Meu coração disparou. Poucas informações, mas um nome me chamou atenção: Isabel D’Angelo. Março de 1997. Internação por transtornos mentais graves e perigo para a sociedade. E lá estava: mencionava uma filha. As peças se encaixavam. Seria ela minha mãe?

Desvio o olhar por alguns segundos e  continuo lendo, rápido. Entre os documentos, uma carta à mão, como um desabafo perdido: "Não posso ficar com ela. Não tenho muito tempo, eles vão me achar. Espero que um dia ela me perdoe; foi tudo pelo seu bem.” A letra trêmula, cheia de incerteza, me fez ler aquelas palavras repetidamente. Quem eram “eles”? Por que não tinha tempo? A dor dele estava ali, mas sem nome, apenas o vazio.

Passo o dedo sobre as palavras, quase como se pudesse sentir os sentimentos e entender o que o levou a tomar essa decisão. Continuo lendo, cada página uma nova camada de uma história que eu mal reconhecia como minha. Uma frase aqui, um detalhe ali. Nenhum nome. Apenas indícios. Como um quebra-cabeça em que as peças não se encaixam direito, cada documento me deixava mais confusa, mais ansiosa.

Finalmente, me levanto. Pietro vem atrás de mim, preocupado, mas eu apenas subo as escadas, deixando o homem para trás sem entender nada. Depois de um tempo ali, escuto batidas na porta.

— Entra. — Digo, com a voz embargada.

— O que eu posso fazer por você, querida? — Pergunta, se aproximando aos poucos.

Perseguição SombriaOnde histórias criam vida. Descubra agora