14 - Desabafo

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Marília Mendonça:

Ela levanta a cabeça pra me olhar... esses olhos.

Sempre quando somos decepcionados por alguém ficamos com aquele pensamento "é a última vez que vou me abrir com alguém", mas no fundo todos sabemos que não é bem assim que funciona. Sim, você vai amar de novo e vai se decepcionar milhares de vezes, é inevitável, é a vida. A vida é só uma, mas finais e começos temos todos os dias. É ilusão pensar que você não vai amar de novo e que você vai fechar seu coração pra sempre, pode até ser assim por algum tempo, mas uma hora ou outra vai aparecer um sorriso, um cheiro, um jeito, um alguém que vai mexer com você.

Maraisa trazia cada vez mais aquela Marília que não existia mais, eu me preocupava com ela. Em poucas semanas eu já estava aqui com a garota deitada em meu peito eu lhe fazendo carinho e querendo saber o que tinha acontecido com ela.

Ela estava trazendo uma Marília de muitos anos atrás, eu não estava muito feliz com isso, só que no fundo eu tinha que cuidar dessa garota. Mesmo contra a minha vontade, eu estava ali fazendo.

Eu me sentia como fazia tempo que não sentia, eu sentia que Maraisa estava realmente entregue a mim. Como eu iria tratar essa garota como uma qualquer? Eu não daria conta.

— Estou esperando Maraisa, quero saber o que está acontecendo. Quero saber tudo.

Ela pisca algumas vezes e se senta na cama puxando o lençol que cobria apenas suas coxas e sexo, respirando fundo.

— Eu não sei se eu devo me abrir com você. Eu estou passando por sentimentos, sensações e reações nunca passados antes Marília.

— Confie em mim... — Seguro em sua mão.

Cada minuto que se passava eu sentia que essa garota não entendia nada sobre sentimentos, sobre compartilha-lhos, sobre ter alguém que lhe ajude em momentos difíceis. Eu tive isso, eu só não quis ter mais, só que eu já tive.

Eu me sento e puxo ela pra junto de mim, lhe abraço fazendo ela suspirar.

— Você nunca tinha recebido afeto, carinha, nada do tipo né? — Pergunto.

Ela tira a cabeça de meu peito para me olhar, seus olhos estavam marejados.

— Nunca. Tudo que eu já recebi na vida foi desprezo, raiva, brutalidade, e tudo de ruim... eu tinha tudo pra ser uma pessoa ruim...

Ela vira o rosto nitidamente com raiva.

Seguro em seu queixo suavemente e viro o rosto dela pra mim, onde limpo uma lágrima.

— Mais você não é... me conta o que está acontecendo...

— Não tem muito o que contar, meu pai tem controle sobre mim, sempre teve, se eu não for a favor do que ele quer de mim eu...

Ela estava com receio de falar.

— Você o que?

Ela me olha com aqueles olhos intensos, penetrantes.

— Por que você está me tratando bem agora? — Pergunta me olhando.

Respiro fundo.

— Nem eu mesma sei Maraisa, só quero te ajudar... vem cá... — Puxo ela novamente para se deitar em meu peito — Agora vai, me fala tudo logo de uma vez...

Silêncio

— Se eu não fizer tudo que meu pai quer, eu sempre saiu machucada de alguma forma, eu tenho certeza que ele nunca me amou, ele nunca me deixou ter uma vida normal, nunca tive uma infância normal, ou uma adolescência como todo mundo, sempre fui obrigada a fazer o que ele queria, que era sempre estudar, treinar e, não podia ter amigos. É a mesma coisa que está acontecendo aqui... só que tem uma única coisa diferente, ele quer que eu namore com o Danilo e eu tenho certeza que é porque depois que ele viu a Lauana em cima de mim ele achou que eu gostava de mulher... não tiro a sua razão óbvio, só que antes de você nem eu sabia disso. — Ela disparou a falar — eu nem sabia que eu iria gostar de uma mulher. — Eu engulo em seco e ela continua — Eu nunca soube nada mesmo, até antes de eu vir pra cá nunca tinha desabafado com ninguém. Acho que de alguma forma Deus ou o universo ficou com dó de mim... mesmo nessa escola que eu nem queria estar, eu tenho pessoas que eu sinto que gostam de mim de verdade e me ajudariam com o que eu precisasse.

— Você não queria estar aqui? — Pergunto

Ela nega com a cabeça.

— Não é isso que eu quero pra mim. E só estou aqui porque ainda sou menor de idade, quando eu fizer meus 18, adeus pai. Eu até quero tentar me adaptar, tentar ver se eu gosto pra seguir com isso... só que não sei...

— Você se dá muito bem em todas as disciplinas.

— Como sabe?

— Porque eu vi. — Confesso.

— Sempre fui obrigada a estudar muito, treinar e tudo mais. Sempre tive uma "babá" do exército no meu pé.

Da pra perceber que o pai dela é pior que eu imaginava. E algo em mim me impulsiona a querer cuidar dessa garota que está agora em meus braços.

Eu não podia me amolecer desse tanto. O que estaria acontecendo comigo?

Ela se levanta se sentando na cama, me deixando ver parte de ser corpo nu, ela era incrivelmente linda. Sua pela clarinha que agora tinha algumas marcas vermelhas que logo sumiriam, o cabelo castanho escuro quase negro e longo. Os traços delicados, as curvas, tinha razão muitos ficar no pé da garota.

— Acho melhor eu voltar para o alojamento, já está bem tarde. — Ela diz calma.

Eu me sento na frente dela, e deslizo uma mão por seu rosto em um carinho.

— Você tem razão, é melhor você ir, não quero mais problemas pra você.

Maraisa abre um sorriso lindo.

— Obrigada por ter cuidado de mim... — Ela morde o lábio inferior que faz logo uma corrente elétrica passar pelo meu corpo e ir de encontro a minha boceta.

Ela sai completamente da cama me dando a visão completa de seu corpo esculpido.

Maraisa sai catando suas roupas pelo quarto e vestindo rapidamente.

Maraisa Henrique:

Termino de vestir minhas roupas, ainda sentindo uma leve ardência entre o meio de minhas pernas, sentia o olhar da Marília queimando em mim em casa movimento meu.

Então me despeço da loira com um beijo e saiu devagar do quarto dela. Estava tudo vazio e silencioso. Passo tranquila pelo pátio seguindo para o alojamento.

— Maraisa...

Meu coração quase sai pela boca me viro pra ver quem me chamava.

Lauana.

Army School - Malila Onde histórias criam vida. Descubra agora