Marília Mendonça:
Eu estava sim me sentindo culpada, mesmo tendo feito o que devia ser feito.
Maraisa me irritava de todas as formas possíveis, eu não devia ter me deixado levar assim tão fácil, ela me deixa possessa com essa aproximação de Danilo, Lauana, Gabi.
Sempre estava junto de Bruno, Maiara e Luisa só que esses davam pra ver que eram apenas seus amigos mesmo.
Ela tinha acabado de pegar no sono, encolhida na poltrona macia.
— Ainda está aqui? — Dona Maria me tira de meus devaneios.
— Há sim...
Ela sorri.
— Nunca te vi com tanto cuidado com um aluno assim antes...
Rolo meus olhos.
— Querendo ou não o pai dela não dá a mínima e, eu me sinto culpada — Admito pra ela não poder pensar outra coisa.
— Pelo jeito essa garota passa, ou já passou por coisas bens ruins, as vezes ela tem o olhar longe e perdido. Também com um pai como o Marco. A pobrezinha não teve o amor da mãe e nem tem do pai. Me admira ela ser uma menina doce e educada.
Engulo em seco com as palavras da senhora que parecia conhecer bem a Maraisa.
— O que aconteceu com a mãe dela? — Pergunto.
— Pelo que fiquei sabendo, perdeu a vida na hora do parto, tinha ouvido dizer que era pra ser duas meninas, mas acho que foram apenas boatos. Marco e Almira se conheceram nas olimpíadas das escolas, ela era de outra e ele dessa. Era bem diferente do que é hoje...
De repente me vem algo na mente, Maraisa citou uma irmã quando estava bebada, será o que ela quis dizer?
— De lá pra cá Marco virou essa pessoa sem amor, sem afeto sem sentimento, quem sofre é a menina, não sei como consegue tratar a filha como se não fosse sua — Ela olha Maraisa que ainda dormia. — Nitidamente ela nem queria estar aqui, só que vejo que aqui ela encontrou pessoas que se importam com ela. — Ela me olha.
Encontrou mesmo.
Escuto a porta abrindo fazendo Maraisa acordar assustada olhando pra pessoa que abriu a porta.
— Quero falar com a Carla, podem sair por favor.
Merda.
Olho pra Maraisa que estava assustada.
Mesmo receosa eu e Dona Maria saímos, deixando Maraisa com o pai.
Se eu escutasse qualquer alteração eu entraria e fodase qualquer coisa. Estava com os punhos cerrados, quando Dona Maria segura minha mão como se me falasse pra manter a calma.
Como manteria a calma? se esse homem toda vez batia nela?
Se ele não falasse acima do tom não dava pra ouvir nada do lado de fora.
Depois de longos dez minutos contados por mim ele sai pisando duro sem nos olhar.
Eu e dona Maria entra, porém a senhora passa para os fundos do local me deixando com a Maraisa, que tinha lágrimas nos olhos, porém um olhar perdido e sem vida.
— Antes de ter vindo pra cá era mais fácil, eu não precisava ver ele todos os dias — Ela diz olhando para o nada secando as lágrimas que desciam.
Eu me aproximo dela lhe abraçando sem me importar com nada. Ela me abraça de volta segurando firme a minha camisa, deitando a cabeça perto de meu peito. Começando a chorar mais baixinho me fazendo me sentir ainda mais culpada.
— O que ele falou pra você? — Pergunto quando sinto que ela se acalmou um pouco.
— As mesmas coisas de sempre, que eu sou uma incompetente, que tudo isso é frescura, que eu não faço nada certo... entre todas as coisas ruins que existem — Diz entre soluços eu lhe aperto mais em mim.
Um sentimento desconhecido por mim me invade, de raiva, raiva daquele que faz tanto mal a Maraisa.
— Obrigada Marília.
— Pelo que? — Pergunto confusa e ela ergue a cabeça para me olhar.
— Pelo abraço.
Primeira vez que escuto alguém agradecer por um abraço.
— Por desde o começo aqui, mesmo contra a sua vontade, você tenta me ajudar. Isso tudo é novo pra mim. Por isso eu agradeço.
Sinto meu coração apertar.
Faço um carinho em seu rosto, limpando onde ainda estava molhado, ela fecha os olhos.
— Não precisa agradecer, vou sempre tentar ajudar você, em tudo... — Admito finalmente, ela abre os olhos e da um leve sorriso.
Eu sabia que tudo era muito novo pra ela e, mesmo não querendo sentir eu tinha um pouco de medo desse sentimento crescendo em mim. Eu não sabia por quanto tempo isso iria durar. Por quanto tempo ela iria permitir isso, por quando tempo eu me permitiria sentir.
Não queria mais amar a ninguém, não fui feliz, o destino não quis. O meu primeiro amor morreu como flor, ainda em botão, deixando espinhos que dilaceram meu coração, se é que aquilo era mesmo amor, talvez fosse apego.
•••
Enquanto Maraisa jantava eu vim no meu quarto comer algo e tomar banho.
Seria torturando pra mim passar a noite longe dela sem saber se ela ficaria bem ou não. Não sabia se ela passaria a noite na enfermaria ou se iria para o quarto. Me troco rapidamente vestindo uma calça jeans um top é uma blusa de frio por cima.
Vejo de longe os amigos da Maraisa saindo da enfermaria. Claro que Gabi estava no meio.
Bufo.
Sigo meu caminho entrando no local vendo que Maraisa agora estava no leito, bem agasalhada e coberta. Chego perto sentindo o cheiro de seu sabonete, sinal que tinha ido tomar banho.
— A febre dela melhorou? — Pergunto Dona Maria, as duas me olham.
— Tinha melhorado, mas voltou, não tão alta mais ainda tem febre.
Assinto.
— Ela vai passar a noite aqui?
— Vai sim, vou ficar de olho nela.
Menos mal.
— As amigas dela queriam ficar, mas não deixei, eu posso ficar e essas crianças precisam descansar. — Ela diz engraçada. — E você também precisa Marília.
— Eu estou bem. — Falo enquanto meus olhos vão para Maraisa que permanecia calada, meio aérea.
— Ela vai ficar bem... as vezes acho que essas coisas são mais psicológicas. Só que ela me disse que o pai acha frescura ir ao psicólogo.
Eu estava pegando uma raiva do nosso comandante, nunca sentida antes.
— Ele sempre achou que era, nunca me deixou ir... — Finalmente escuto a sua voz doce.
Eu suspiro. A situação era complicada.
Seria um longo ano.
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Army School - Malila
FanfictionEstar começando a seguir uma carreira em uma escola interna do exército com apenas 17 anos, não era bem o que Maraisa queria de sua vida, fazia porque seu pai o coronel comandante da escola lhe obrigava, o mesmo sempre foi bastante rígido com a filh...