Mais trovoadas e relâmpagos soaram como se fossem uma vingança.
— Será que não tem ninguém aí em cima que me permita quebrar estas regras? Só uma vez?
Ela gritou para o teto, mas as palavras foram abafadas pelas trovoadas mais uma vez.
— Não podem me dar permissão?
Kath sussurrou, enquanto as lágrimas formavam trajetos que desciam das maçãs do rosto às orelhas. Ela passou os dedos no rosto para secá-las, mas outras lágrimas vieram na sequência.
A última badalada do sino soou mais alta do que as anteriores e proclamou de forma ruidosa que o dia da passagem de Lin havia chegado.
Kath fechou os olhos, sentindo-se derrotada. Então começou a sentir o pescoço ardendo. Os olhos se abriram.
— Não.
Mas ela reconheceu a familiar ardência e soube exatamente o que significava. Uma nova tarefa.
O que significava que a tarefa anterior, Lin, havia feito a passagem.
— Não!
Ela gritou, jogando as cobertas de lado e se sentando na cama.
Antes mesmo que pusesse os pés no chão, a queimadura passou do pescoço para se alojar no peito e fazer os mamilos doerem. Com a carne ardendo, ela ficou de pé, sentindo o fogo se espalhar do peito para os membros.
A respiração estava fanhosa e todos os nervos latejavam de angústia. Angústia, pois ela sabia o que aquela ardência significava, e angústia porque Lin se fora. Ela atravessou o quarto, sentindo os pés descalços arderem como se estivesse pisando em brasa.
Por que a ardência já estava assim tão forte? Ela já estava a caminho da sala de estar de vovó Adeline para pegar a carta que, sem dúvida, estaria lhe esperando. Outra carta.
Outro fantasma. Um fantasma que não era Lin. Ela não queria ir.
Queria ignorar as convocações e fazer as forças superiores sofrerem um pouco, para variar, mas quem estava sofrendo era ela.
O corpo doía tanto que ela mal conseguia descer as escadas.
Foi descendo a escadaria, se apoiando no corrimão e rangendo os dentes devido à sensação ardente nas palmas das mãos. Um trovão sacudiu a casa enquanto Kath sofria com a intensidade da chamada.
Por que estava ardendo tanto assim? Seria uma punição por ela quase ter quebrado a maldita regra?
— Eu... não... fiz nada.
Ela disse, apesar de a garganta estar em brasas. Certa vez, sofrerá um caso terrível de infecção na garganta, e a dor fora tão intensa que ela chorava a cada vez que engolia.
Mas isto estava pior.
— Por quê?
Perguntou, depois levou a mão à garganta, sentindo que aquela mera palavra parecia rasgar algo ao sair. Então ela acrescentou em pensamento: Por que esta noite? Por que já me mandaram outro fantasma? E por que eu não posso ter Lin, uma vezinha só?
A sala estava iluminada pelo abajur de cúpula franjada de Adeline Raywatt, aquele mesmo abajur que ficava sempre aceso, mesmo quando faltava eletricidade.
Era uma lembrança constante de que vovó Adeline estava por perto e de que os primos podiam ser convocados a qualquer momento. Como agora. Em frente ao sofá de veludo vermelho, o jogo de chá prateado estava no centro da mesinha de centro de mogno.
E no meio da bandeja de prata, como Kath já esperava, estava um envelope cor de lavanda com um nome escrito à mão pela caligrafia rebuscada da avó. Kath. Ela foi em frente, os pés doendo a cada passo, até conseguir se sentar no sofá e alcançar o envelope.
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Paradise
FanfictionKath Raywatt tem um segredo: ela é uma médium dedicada a ajudar os espíritos a passar para o outro lado. Infelizmente, Kath tem estado tão ocupada com o mundo etéreo que se descuidou de sua vida terrena. Ao encontrar a falecida, porém sexy, Lin Sas...