Happy Tears

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Dentro de minutos ela estava no Mustang, cruzando em velocidade agradável as curvas familiares de River Road, com a barragem à direita e uma eclética mistura de casas à esquerda. Casas modernas misturadas a fazendas dos tempos pré-guerra, com trailers e cabanas intercaladas por toda parte. Algumas estavam em ótimas condições, outras mal se aguentavam em pé.

A vida e o tempo afetaram cada uma delas, algumas de modo adverso, outras de modo favorável, e tudo dependia das circunstâncias por detrás da família e da casa. O tempo e a vida a afetaram também, e Lin. A vida dela, que lhe fora tirada tão rapidamente, e o tempo de Kath, o tempo que ela ainda precisava aguentar até revê-la.

Ela se aproximou de uma das enormes fazendas no pedaço de asfalto entre Montz e Ormond. Era da categoria que mal se aguentava em pé, mais ou menos nas mesmas condições que a fazenda Raywatt, tirando o teto novo. Será que a casa voltaria um dia a ser a mesma? E Kath, voltaria a ser a mesma? Ela resolveu sair de River Road e pegar o rumo do salão de beleza, e não ficou surpresa ao ver o velho Plymouth Fury verde de Inez estacionado à porta.

Pelo menos naquela semana Inez ficaria mais à vontade no salão, sem as visitas espectrais de Lin.

Kath estacionou perto da lata velha de Inez, desligou a ignição e ficou pensando por um momento na semana anterior e na atual.

Graças a Deus não estava chovendo.

Ela precisava de um pouquinho de tempo antes de sentir gotas de chuva na pele e se lembrar da interpretação de Lin sobre o outro lado de uma gota de chuva. Talvez as forças superiores pudessem segurar a chuva na baía um pouquinho, pelo menos a chuva ao redor da pequena parte da Louisiana.
Decidindo que precisava começar o dia oficialmente, ela saiu do carro e entrou no salão, onde encontrou Inez debruçada sobre uma bacia de xampu com o qual lavava os longos cabelos e uma boa parte do chão ao redor da pia. Kath soltou a bolsa sobre a cadeira.

— Estou atrasada apenas cinco minutos. Você não podia esperar em vez de tentar inundar o salão?

Inez gargalhou e levantou o vaporizador, só que se esqueceu de fechá-lo, de modo que acabou ensopando a parte da frente do vestido de Kath.

— Que bom que você é a melhor manicure do pedaço, senhora.

Kath disse, virando o potente spray de volta à cabeça de Inez.

— Senão, você estaria despedida.
— Pfff.

Inez disse, se virando para voltar a cabeça para o teto e mergulhar os cabelos na pia.

— Você só fala, chère, e seu bico está enorme.
— Bem, perdoe-me, mas não vou pedir desculpas por estar de bico. Estou tendo um dia difícil.

Kath respingou condicionador nas mãos e passou nos cabelos de Inez.

Inez fez um "tsc-tsc" de desaprovação e arregalou os grandes olhos negros.

— Nada de fantasmas hoje.
— Isso mesmo. Hoje, nenhum.

Kath disse, inalando a fragrância de maçã enquanto esfregava o cabelo da outra.

Ela fechou a torneira e tirou o excesso de creme, depois pegou uma toalha branca das que havia detrás do balcão.

— Vai dar tudo certo.

Inez disse, dando tapinhas na mão de Kath e segurando a toalha enrolada na cabeça.

— Eu sei.

Kath admitiu, forçando um sorriso.

— Mas vai levar um tempinho.

Ela levou Inez a outra cadeira e depois localizou a cor de tintura que Inez usava, preto brilhante.

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