Gods

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Kath Raywatt pegou uma colherada de rabo de lagostim frito da panela de ferro fundido, inalou o aroma apimentado, virou-se para Non e sorriu.

— Certo, traga-me aquela tigela.

Ela disse, apontando para o prato e exibindo uma unha pintada de vermelho. Arrumara as unhas hoje cedo no próprio salão.

Unhas feitas, sobrancelhas pinçadas, pele hidratada, cabelos aparados. E esta noite ela pretendia testar a eficácia daquilo tudo com Non Comeaux.

— Esta tigela?

Ele levantou o prato de cerâmica branca, cuja saliente parte do meio era enfeitada por um grosso anel azul.

O prato vinha com uma pilha de cebolas verdes e amarelas e pimentões vermelhos picados, trazendo para a cozinha mais um aroma inebriante. Ele segurou a tigela fora do alcance dela.

— Está querendo isto aqui, chèrel.

Ele perguntou, com os olhos castanhos brilhando de forma maldosa.

Sabia que ela o desejava e, a julgar pelo sorriso presunçoso naquele rosto lindo, provavelmente sabia o tamanho de tal desejo.

— Estou, sim.

Ela engoliu em seco e rezou para que não viesse nenhum chamado de Adeline Raywatt até as coisas esquentarem um pouco com Non. Durante os últimos seis meses a falecida avó tratou de impedir que Kath tivesse vida sexual.

Bem, ao menos em se tratando de vida sexual com homens. Ultimamente, Kath andava fazendo valer o dinheiro gasto em vibradores. Graças a Deus vovó Adeline não tinha como estragar pilhas nem impedir que ela lesse romances ou usasse a imaginação.

Mas Adeline tinha o poder de perturbar Kath se não atendesse ao chamado de um espírito. Em outras palavras, quando a pele de Kath começava a arder, sinalizando que uma carta lhe aguardava, tinha de retornar imediatamente à fazenda Raywatt para cumprir a obrigação. Enfim, qual era o termo determinante nesta frase?

Tinha. Tinha de retornar.

Mas por que agora? Por que desta vez? Por que vovó Adeline não lhe dava um pouquinho mais de tempo, só até Non fazê-la se contorcer de prazer?

Era tiro e queda, sempre que Kath experimentava aquela elevação deliciosa, bem no momento decisivo em que o orgasmo anunciava a chegada, algum espírito aflito resolvia lhe visitar.

Não era exatamente o recomendável a uma mulher que gosta de sexo.

Esta noite, por exemplo.

O convite de Non Comeaux para um "jantar aconchegante em meu terraço sob galhos imponentes de carvalho e sentindo a brisa cálida de julho" deixou Kath mais acesa do que uma árvore de Natal cheia de lampadinhas. Naturalmente, a imagem que veio à mente foi de eles dois à vontade na varanda, com os estômagos satisfeitos depois de uma refeição deliciosa e apetites sexuais igualmente saciados sob o cobertor infinito de estrelas.
Infelizmente, Kath havia tido um dia infernal no salão de beleza, nada deu certo, especialmente na parte de coloração. E o pior era que ela sabia o que aquilo significava. Era apenas uma questão de tempo para Adeline mandar um recado para distrair a neta do meio.

Meio.

Garota do meio em uma lista de primos e filha do meio, com o playboy Mile de irmão mais velho e o meigo Eunwoo de caçula. Filhos do meio sempre tinham a tendência de querer mais atenção, certo? Bem, ela estava pronta para exigir agora. De Non.

Respirou fundo e se preparou para pedir ao mais lindo cajun bronzeado, musculoso e moreno para esquecer o jantar e, em vez disso, ficarem nus, mas antes que ela pudesse fazer a sugestão, ele inalou o cheiro inebriante que vinha da cozinha, emitiu um som másculo e gutural e sorriu.

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