porque não

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-Acho que agora vem a parte mais difícil, né? - Becky perguntou receosa.

-Eu diria que ela já passou. - Freen respondeu, correndo os dedos pelo braço nu da menina. - Meu maior medo era sua mãe.

-Mas os seus pais... - Becky procurou palavras para explicar a Freen o que ela estava tentando dizer. - Quer dizer, o que eles vão achar de mim? Eu não sou exatamente o tipo de garota que... - Freen interrompeu, revirando os olhos.

-Para com essa porra, Rebecca. - Falou séria. - Eu já te disse que isso não importa.

-Para você com isso, Freen. - Becky não parecia nem um pouco feliz com o rumo da conversa e se levantou do colo de Freen, começando a andar pela sala. - É muito fácil para você falar que não importa, que não faz diferença, que não isso, que não aquilo. Você não tem a mínima ideia de como eu me sinto, ninguém tem.

-Princesa, não fala assim. Eu só quero ajudar você.

-Ajudar o que? A única pessoa que pode me ajudar sou eu mesma, mas acredite, isso não é lá uma tarefa muito fácil. - Becky estava brava consigo mesma

Becky sempre se sentiu "confortável" dentro da sua condição. Ela estava acostumada a viver daquela forma, era a única forma de vida que ela conhecia. Nunca havia tentado mudar, ela não tinha motivos que a fizessem querer melhorar. Nem mesmo sua mãe, visto que respeitava e já havia desistido de forçar Becky a tentar começar algum tipo de tratamento, ela sabia que não daria certo, não se a filha não quisesse.

O problema disso tudo era que agora ela tinha um motivo. Motivo esse que a encarava como se não soubesse o que fazer, porque, falando daquele jeito, realmente parecia que não havia nada a ser feito. Freen se sentia mal por não haver nada a seu alcance, apesar de saber que poderia fazer qualquer coisa que Becky pedisse, não parecia... Suficiente.

Agora, Becky tinha que se forçar a tentar ser alguma coisa que ela não era, não como uma segunda personalidade, um alter ego ou qualquer coisa do tipo, mas exatamente a pessoa que ela deveria ser, e a menina não sabia lidar com isso. Isso tudo não a dava vontade de fazer nada diferente em sua vida e, para piorar, ela ainda se sentia confortável em sua condição, apenas com alguns ajustes.

O que Becky não percebia, mas Freen e sua mãe sim, era que Becky já havia feito grandes avanços, ainda que não enxergasse isso. O que ela tinha com Freen, era um tipo de conexão que ela não achou que iria estabelecer nunca, com ninguém, em toda a sua vida e sim, aquilo, com certeza, se tratava de um grande avanço. Ela só precisava transmitir tudo isso a outras pessoas, o problema era que a menina não
sabia como utilizar essa ponte aparentemente inexistente entre ela e o resto do mundo.

As pessoas eram cruéis. A maioria das pessoas não se importava com os sentimentos da garota, ninguém nunca se importou e aquilo a fazia ter repulsa das pessoas normais, embora ela soubesse que toda a generalização era uma falácia e ela não poderia falar por toda a humanidade. Freen era uma prova de que as pessoas podiam ser diferentes, mas seria a sua família outro enorme conjunto de exceções? Becky daria essa sorte, novamente?

Ela não sabia.

E aquilo a fazia ter medo da família de Freen, medo do que eles poderiam achar dela. Medo da própria reação, quando se visse cara a cara com eles. Becky não podia sair correndo deles, não parecia justo, não parecia e não era normal.

-Fica calma. - A voz de Freen saiu baixa, mais rouca do que o normal. - Não tem nada de errado com você, amor, é só... - Becky a interrompeu.

-Quer parar de dizer isso? Você está sendo hipócrita! - Becky não gritava, apesar de desejar fazer tal coisa. Ela apenas aumentou um pouco o tom de voz, deixando Freen meio assustada. - Tem um monte de coisas erradas comigo, você é cega, por um acaso? Não adianta dizer coisas legais só para fazer eu me sentir melhor, você tem que parar com isso.

Meu Porto Seguro É Você 🔐 (Freenbecky)Onde histórias criam vida. Descubra agora