Merda!

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Narrador POV

Freen preferiu colocar Becky em sua frente, na moto. Não queria correr o risco da menina estar atordoada demais para se segurar direito ou nada do tipo, era mais seguro dessa forma. Becky não estava mais se importando com o medo que ela sentia do veículo, na verdade sequer processou o que a estava levando daquele colégio.

Becky sentia ódio de si mesma. Usualmente, ela já se sentia assim, era algo que ela aprendera a conviver. A vontade de ser outra pessoa, a vontade que ela tinha de simplesmente desistir de tudo, isso só fez crescer em seu peito. Uma dor que lhe fazia pressão, que parecia que iria rasgar-lhe por dentro, uma mágoa interna e todo o ódio de si mesma pareceram aumentar, como se fossem sufocá-la.

O caminho até em casa foi tranquilo para a menina, visto que sua mente estava em outro lugar. Ela não se deu conta de quando a moto parou na porta de sua casa, nem de quando Freen desceu da mesma e retirou cuidadosamente o seu capacete. Sabia que essas coisas estavam acontecendo a sua volta, só não deixava que essas informações tivessem grande espaço em seu cérebro.

-Amor... - Freen chamou baixo, Becky ergueu seu olhar lentamente para ela.

Becky viu Freen, sentiu o toque de seus dedos em sua bochecha, mas, de repente, ela não queria estar perto dela. Não que ter Freen por perto fosse menos reconfortante agora ou houvesse deixado de fazê-la se sentir segura, era só que Becky sentia que necessitava de um tempo para ela mesma organizar seus sentimentos sobre o que havia acabado de acontecer.

-Rebecca! - Freen chamou a menina de novo, quando viu ela descer da moto praticamente correndo e entrar dentro de casa, ignorando o chamado da mais velha.
- Merda. - Freen xingou antes de começar a caminhar rapidamente para dentro de casa, procurando pela menina com os olhos e escutando passos no segundo andar.

Tinha medo da garota estar passando mal ou qualquer coisa do tipo, então subiu as escadas o mais rápido que ela conseguia, ouvindo a porta do quarto de Becky bater com toda a força.

-Rebecca? - Freen chamou, batendo algumas vezes na porta do quarto. Não sabia se estava trancado, mas não iria abrir sem a permissão da menina, não sabia se Becky queria ficar sozinha e se, de fato ela quisesse, Freen iria respeitar isso, porque depois do que aconteceu, ela definitivamente devia estar uma bagunça. -Princesa, tá tudo bem? - Freen tornou a perguntar.

-Tá. - Becky respondeu com a voz abafada. -Eu só... Me deixa sozinha. - Freen encostou a testa na porta e fechou os olhos com força, se sentia inútil novamente.

- Você vai ficar bem? - Tornou a perguntar.

-Vou. - Foi tudo o que Becky respondeu e estranhou Freen ficar em silêncio por um tempo.

-Tudo bem. Qualquer coisa eu estou no meu quarto. - Freen saiu um pouco contrariada em direção a porta do seu quarto e fechou a porta, querendo arrancar todos os seus cabelos se aquilo fosse fazê-la pensar em alguma coisa que ela poderia fazer para ajudar a menina.

Ela só podia ficar ao lado de Becky, e agora até isso lhe foi "privado". Resistiu a vontade de tacar a cabeça na parede de nervoso e decidiu deitar um pouco, quem sabe aquilo lhe deixasse mais calma e lhe permitisse pensar direito. Freen se livrou dos jeans, dos tênis e do casaco de qualquer jeito, se jogando na cama no segundo seguinte. Pensou em ligar para sua tia para contar o ocorrido, mas não sabia como Becky se sentia em relação a isso e preferiu não fazer nada.

De qualquer forma, dali a algumas horas a mulher estaria de volta do trabalho e eventualmente poderia ficar a par dos acontecimentos com a sua filha. Suspirou e rolou na cama, sono era uma coisa que ela não teria de forma alguma, mas seu corpo e sua mente estavam estranhamente cansados. Rolou para fora da cama, alcançou o celular no bolso dos jeans jogados no chão.

Meu Porto Seguro É Você 🔐 (Freenbecky)Onde histórias criam vida. Descubra agora