28. Conheço Jesus.

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Quase três semanas já se passaram desde a nossa ida. Carol tinha achado uma casa pequena e rodeada de árvores que serviu bem para gente.

As tarefas de casa eram divididas: Carol cozinhava, eu caçava e Maeve arrumava. Funcionava bem, era quase como se fossemos uma família comum em uma casa de campo, quase como se o Apocalipse não existisse. A única coisa que destruía esse sentimento era a minha rotina: eu acordava cedo, afiada minhas facas, ia para a floresta caçar, matava alguns zumbis enquanto falava sozinha, depois voltava para casa, abria coelhos e esquilos ao meio para Carol preparar o almoço, almoçava e ia treinar combate corpo a corpo com Maeve e ela. Depois era treinamento com armas, depois de manipulação -uma matéria que Carol achou bem necessária-, então entrávamos em casa e líamos histórias até a hora de dormir.

A rotina era boa, a única coisa que estragava era a tentativa incessante de algumas pessoas do meu antigo grupo de tentarem se reaproximar de mim. Eu não gostava, afinal, tinha saído de Alexandria exatamente para evitar todos eles.

– O que vai fazer hoje de tarde? Caçar? – Perguntou Carol, enquanto bebericava seu chá de hortelã sem açúcar.

– E treinar com a Maeve. Precisa que eu faça algo em especial? – Perguntei, também bebericando meu chá sem doce.

– Precisava que desse uma olhada nas armadilhas e no nosso alarme de segurança.

– Eu dou uma olhada. – Disse, engolindo de uma vez meu chá e descansando a xícara em cima da ilha da cozinha. – Pode tomar conta da Maeve para mim?

– Você já vai? – Perguntou Carol ao me ver levantar.

– Quanto mais cedo eu for, mais cedo vou terminar. – Respondi, ajeitando o cinto cheio de facas na cintura e amarrando o cabelo numa trança mal feita.

Preciso cortar o cabelo.

– Não deixe Maeve sair sozinha, Carol. Não. Deixe.

– Eu vou tentar, mas ela é muito teimosa, igual você. – Disse Carol, soltando uma risadinha que eu não tive vontade nenhuma de acompanhar.

– Não deixe ela sair. – Pontuei uma última vez, não me dando o trabalho de olhar para trás quando sai de casa.
 
Desde a última vez, quando pedi para Carol cuidar de Maeve e ela não o fez direito, eu vivia desconfiada. Maeve era como eu: teimosa, cabeça dura e impulsiva. Ela não gostava de receber ordens em geral, mas pedir para ela ficar em casa por segurança, era o mesmo que ameaçar Drac, o coelho branco que ela tinha adotado, de virar nosso almoço.

– Sim, ela melhorou bastante. – Disse para a imagem formada de Joel. – Os chutes laterais são melhores do que os que eu dava aos doze anos. O problema é que ela é muito impulsiva, não analisa o oponente. Mas ela vai melhorar.

Você parece louca falando assim com um fantasma. A Voz me julgou, mas parecia mais uma implicância que um julgamento. Seu tom quase risonho mostrava isso.

Sim, eu sabia que estava parecendo uma louca falando sozinha, mas desde que sai de Alexandria e perdi muitas das minhas companhias, comecei um estranho, porém consolador costume de falar com Joel e Ethan. Eu sentia falta deles. Sentia falta do meu antigo grupo de Alexandria também.

– Eu não acho que vá demorar muito pra ela ficar tão boa quanto... bem, quanto eu era. E nem adianta fazer cara feia, Joel, eu sei que você concorda.

Era estranhamente vazio, de qualquer forma. Não importava o que eu fazia, se eu falava com o Joel e o Ethan imaginários, se eu passava o dia matando zumbis ou se eu passava o dia brincando com a Maeve, eu simples não conseguia me sentir... completa? Acho que viva seria o termo correto.

𝐋𝐞'𝐑𝐨𝐮𝐱 - 𝐂𝐚𝐫𝐥 𝐆𝐫𝐢𝐦𝐞𝐬.Onde histórias criam vida. Descubra agora