Capítulo 63 - Eu quero a mamãe Mon

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Perspectiva de Sam

Já fazia alguns dias desde o incidente no hospital. Minha irmã continuava sumida, pedira uma licença do trabalho, como sempre tomando atitudes irresponsáveis. Minha paciência estava no limite. Hoje, eu precisava entrevistar professores para substituir temporariamente uma das nossas que estava grávida. O dia já havia sido um caos: todas as entrevistas que conduzi foram uma decepção. Os candidatos eram mal qualificados ou simplesmente insuportáveis. Agora, estava na última entrevista do dia.

Uma batida à porta.

– Entre – digo sem desviar os olhos do laptop, rolando a tela para chegar ao currículo.

A candidata se senta, e começo a falar enquanto ainda estou distraída.

– Olá, senhora Mary – digo automaticamente. Mas ao levantar os olhos, paro de repente. Reconheço a figura à minha frente.

– Hana – ela corrige, com um sorriso suave nos lábios. – Mas achei que se visse meu nome, você não me receberia.

Meu estômago dá um nó.

– O que você está fazendo aqui? – pergunto, tentando controlar minha surpresa.

Hana se levanta lentamente e começa a andar pelo meu gabinete, como se tivesse todo o tempo do mundo, o olhar fixo em mim, predatório.

– Tenho tentado te encontrar, Sam. Mas você não é fácil de achar. Então, vi essa oportunidade e pensei: por que não? Aqui, você não teria como fugir – diz ela, pousando as mãos sobre a minha mesa e se inclinando para frente, o olhar intenso penetrando o meu.

– Hana, o que você quer? Seja direta.

– Sam! Que audácia! – Ela solta uma risada amarga. – Você fugiu do Japão. Fugiu de mim. Estávamos juntas, tínhamos uma casa nova, e você simplesmente desapareceu! Tem noção da vergonha que me fez passar? – sua voz agora tem uma mistura de raiva e dor.

– Eu sinto muito, Hana. – Falo, envergonhada, incapaz de encará-la por completo. – Não foi certo o que eu fiz, eu sei disso. Mas eu não podia continuar com o que tínhamos. Eu não te amava... – hesito, mas continuo. – Você sempre soube que meu coração pertencia a outra pessoa.

– Ah, sim. A essa tal de Mon – ela diz com uma ironia afiada. – Eu vi vocês juntas na televisão. Sabe, Sam, você me enganou por todos esses anos. Como acha que isso me faz sentir?

– Eu imagino, Hana. – Minha voz sai baixa, quase um sussurro. – E sinto muito por isso. Eu não fui justa com você. Se houver algo que eu possa fazer para compensar...

Ela me interrompe com um tom ainda mais incisivo.

– Eu estava disposta a ser a mãe do seu filho, Sam! Eu te dei tudo de mim! – Seu tom fica mais carregado de ressentimento.

– Mas meu filho já tinha uma mãe à espera dele aqui. – Tento me manter calma. – O Kob é biologicamente filho da Mon.

– Ah, eu percebi assim que vi a cara dela na televisão – ela rebate, o veneno escorrendo em cada palavra. – Mas me diz, Sam, o que ela tem que eu não tinha? Aquela mulher... sem graça...

Num rompante, me levanto da cadeira e aponto um dedo bem próximo ao rosto dela.

– Nem se atreva a falar assim dela! – digo, tentando me conter. Respiro fundo e volto a me sentar, exausta com aquela conversa. – Hana, me diz o que você quer de mim.

Hana dá a volta à minha mesa, devagar, como se saboreasse cada passo, até que vira minha cadeira em direção a ela. Meu corpo tenso, sem saber o que esperar. Ela se aproxima, abaixando-se para ficar à minha altura, e começa a sussurrar.

Mon & Sam - Entre Laços E LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora