Perspectiva de Khun Nueng
— Anueng? — digo, sentindo meu coração apertar ao ver, à minha frente, o grande amor da minha vida.
Ela se aproxima devagar, com os olhos vermelhos e quase transbordando de lágrimas.
— Ar-Nueng... — ela murmura, como se fosse um suspiro, e me abraça com força.
— O que você tá fazendo aqui? — pergunto, sem conseguir retribuir o abraço. Meus braços permanecem caídos ao lado do meu corpo enquanto ela me aperta pelo pescoço.
Sem se afastar, ela responde:
— Conheci seus sobrinhos hoje. Ouvi eles falando do seu aniversário. Quando me dei conta, já estava vindo te ver. — diz, e sinto suas lágrimas caindo no meu ombro.
Com cuidado, a afasto e olho fundo em seus olhos, enxugando as lágrimas que escorrem pelo seu rosto.
— Você não devia estar aqui — digo, tentando manter a calma.
— Eu já vou embora. Só vim ver como você tá e te dar os parabéns. — Ela se afasta um pouco e começa a olhar ao redor. — Eu nem devia estar aqui, entrei pela porta de serviço. Nem tô vestida pra ocasião. — fala, se olhando com um sorriso meio sem jeito.
Ali, na minha frente, estava o único amor da minha vida. Apesar dos 42 anos, ela ainda tinha um rosto de menina. Vestia jeans justos, uma camisa branca e tênis. Era verdade, ela não estava vestida para aquele lugar.
— Como você entrou? — pergunto, tentando manter a conversa em algo mais casual.
— As senhoras do palácio me deixaram entrar. — responde, sorrindo.
Anueng passou tantos anos comigo no palácio que conquistou a confiança e o carinho das empregadas.
— Bem, acho que é melhor eu ir. — diz, me dando um beijo rápido no rosto. — Feliz aniversário, Ar-Nueng.
Ela se vira para sair, mas rapidamente a puxo com força pelo braço.
— Espera.
Nossos corpos ficam próximos.
— Como você tá? — pergunto, querendo prolongar aquele reencontro.
— Tô bem. — Ela responde, com um sorriso bobo e bonito. — Fiquei feliz de saber que você se reconectou com a Khun Sam.
— Sim, ela voltou pra Tailândia. Estamos trabalhando juntas. — justifico.
— Já fazia muito tempo. Conheci o Kob e o Jesse, eles são uns amores. — comenta. Estamos falando trivialidades, mas sinto que ela quer mais.
— São sim. Meus outros sobrinhos também.
— A Khun Sam tem uma família enorme! — diz, quase rindo.
— Ela sempre fez tudo em grande. — respondo. — E sua filha?
— Ela tá bem. Tá linda. — Ela se afasta um pouco, como se a pergunta exigisse essa distância. — Tem 4 anos agora.
— Me mostra. Nunca a vi. — peço, apontando para o celular dela.
Ela pega o celular e me mostra uma foto de uma menina com um ar travesso, cabelos lisos e castanhos claros, usando um boné ao contrário.
— Ela tem muito de você. É realmente muito linda. — digo, analisando a foto com um sorriso no rosto. — Fico feliz por você. — olho bem no fundo dos seus olhos. — Juro que estou muito feliz por você.
— Obrigada. — diz ela, corando e olhando para a foto da filha no celular. — Então, e uma academia! Nunca imaginei te ver tão envolvida com jovens e crianças. Tem corrido bem?
— Não imaginou? — pergunto, surpresa com o comentário.
— Bem... — ela se atrapalha, desviando o olhar. — Nunca pensei que você quisesse ficar rodeada de crianças. Afinal, você nunca quis ter nenhuma!
— Não querer um filho não significa que eu não goste de crianças. — respondo, sentindo uma pontada de ofensa. — Eu amo o Pong, meu sobrinho mais novo! Ele estuda comigo, e fui eu quem o apresentei à Sam e à Mon.
O clima fica constrangedor, a menção a crianças cria uma barreira invisível entre nós. Ficamos em silêncio, como se as palavras estivessem presas na garganta. A tensão paira no ar, e é Anueng quem finalmente quebra o silêncio.
— Bem. Vou indo. Você deve voltar para a sua festa. — diz ela, virando-se para sair, claramente desconfortável.
— Espera. — digo, puxando-a de novo para perto.
Puxo com tanta força que nossos narizes se tocam, e posso sentir sua respiração quente no meu rosto. Nossos olhares se encontram, os olhos castanhos dela, cheios de uma inocência que eu não encontro em mais ninguém, me prendem no tempo.
— Ar-Nueng, por favor... — ela sussurra, seus olhos caindo para minha boca.
— Já faz muitos anos, Anueng. — murmuro, meu olhar se fixando nos lábios dela.
— Por isso mesmo. — Ela responde, respirando fundo. — Eu sou casada.
Largo-a no instante em que ela diz isso. Eu sabia que ela era casada, mas por um breve momento me deixei levar pela nostalgia, transportada para um tempo em que éramos uma da outra, sem complicações. Mas agora, o peso da realidade cai sobre mim. Viro as costas e começo a caminhar em direção ao banheiro, tentando fugir da tempestade de emoções.
Enquanto caminho, sinto suas mãos pequenas e delicadas se fecharem ao redor da minha cintura. Ela aproxima o rosto da minha nuca, e posso ouvir o som suave da sua respiração enquanto ela me cheira. O momento é carregado de silêncio e tensão. Não há nada que possamos dizer, porque as palavras não seriam suficientes.
Eu me viro, e lá está ela, os olhos brilhando para mim, como se implorasse por algo que não pode ter. Coloco minha mão atrás do seu pescoço e a puxo para um beijo. Um beijo que parece durar uma eternidade, nos levando a um lugar onde o tempo não importa. Estamos tão imersas naquele momento que não percebemos minha irmã, Sam, se aproximar.
— Opa, desculpem. — diz Sam, e nos afastamos imediatamente, como se tivéssemos sido pegas fazendo algo proibido.
Sam olha ao redor, nos vendo ali, naquele corredor apertado ao lado do banheiro, e comenta, com um sorriso irônico:
— Não sabia que este corredor dava para um portal no tempo.
Eu e Anueng ficamos sem jeito, o constrangimento estampado em nossos rostos. Ela, ainda mais, parece uma criança que foi pega em flagrante.
— Nueng, estão te esperando na festa para cantar os parabéns. Parece mais adequado que você volte para lá. — diz Sam, claramente desaprovando o que tinha acabado de testemunhar.
Anueng leva as mãos à boca, percebendo o que havia acabado de fazer, e, sem dizer nada, corre na direção da porta dos fundos, como se fugisse de algo que não pode enfrentar.
— Você tinha que ser tão direta? — pergunto, irritada, para minha irmã.
— Ela é casada, Nueng. — Sam diz, como se fosse óbvio.
— Tipo sua mulher era quando vocês se envolveram de novo? — resmungo, deixando claro meu descontentamento.
Nota da autora: Não estou conseguindo escrever muito, mas deixo um capítulo para vocês. Segunda feira voltam os capítulos diários.
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Mon & Sam - Entre Laços E Liberdade
FanficApós um divórcio marcado por uma suposta traição, Mon e Sam seguiram caminhos separados. Vinte e um anos depois, a vida de ambas toma um rumo inesperado quando Jesse, a filha mais velha de Mon, começa a estagiar na empresa de Sam, a Diversity. Sem s...