Capítulo 43 - Quem ama não abandona

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Perspectiva de Nueng

Eu não conseguia falar. Era como se estivesse vendo um fantasma diante de mim. As minhas mãos tremiam, e as pernas pareciam incapazes de me sustentar. A sala, antes cheia de vida, agora se tornou um vácuo de incredulidade.

Ele estava ali, parado na entrada da minha sala de aula.

— Me desculpe por aparecer assim, interrompendo seu trabalho... Na realidade eu sabia que não haveria uma forma ideal de aparecer.

Eu engoli em seco, as palavras presas na garganta.

— Você... você está vivo! — As palavras saíram trêmulas, um reflexo de todo o caos dentro de mim.

— Nueng... — Ele começou, os olhos buscando os meus, desesperados para se conectar com algo que parecia ter se perdido há muito tempo. — Eu gostaria de conversar com você.

Dei um passo hesitante em sua direção, estendendo a mão como se precisasse tocá-lo para acreditar que ele estava mesmo ali, que não era fruto da minha imaginação ou de uma lembrança distante que havia ressurgido para me atormentar.

— Como isso é possível? — Sussurrei, ainda incrédula, os dedos roçando a manga da camisa dele.

Meus joelhos ameaçaram fraquejar, então puxei uma cadeira e me sentei.

— Filha, eu lamento tanto... — Ele começou, com a voz embargada, cada palavra carregada de anos de distância e culpa. — Não imagina a vergonha que sinto ao estar aqui, depois de tanto tempo. Eu estava na Tailândia e vi as notícias sobre a academia com o nome da sua irmã... e, de alguma forma, criei coragem para vir ver como estava minha menina.

— Menina? — Rebati, a incredulidade e a mágoa misturando-se em minha voz. Não éramos mais crianças esperando por um pai ausente.

Ele abaixou os olhos.

— Nueng, você precisa entender... — Ele continuou, a voz agora carregada de uma tristeza antiga. — Meu desaparecimento nunca foi por causa de você ou das suas irmãs. Eu simplesmente não conseguia mais lidar com o peso do nosso nome, com o fardo de pertencer à realeza. Eu vivia a minha vida sugado pelos seus avós, preso a expectativas que nunca quis para mim. Tudo o que eu queria era viver uma vida comum.

Cada palavra dele era como uma faca reabrindo feridas que eu pensava ter cicatrizado. A ausência dele tinha moldado quem eu era, e vê-lo ali, tentando se justificar, era mais doloroso do que eu poderia ter imaginado.

— Nós achávamos que você tinha morrido! — Minha voz saiu embargada, carregando anos de mágoa acumulada.

— Depois que sua mãe faleceu, perdi a única pessoa que conseguia me manter são naquele palácio. Simplesmente fui embora, fugi como um covarde. Anos depois, soube que sua avó tinha lhes contado que, assim como sua mãe, eu havia morrido. Não tive coragem de voltar.

Minhas mãos apertaram os braços da cadeira com tanta força que os nós dos meus dedos ficaram brancos.

— Você nem a Sam conheceu! Fugiu e deixou um bebê nos braços da nossa avó! Você imagina pelo que passamos?

Ele abaixou a cabeça, o peso das minhas palavras caindo sobre ele como pedras.

— Não, filha. Não consigo imaginar. — Ele murmurou, os ombros caídos em uma postura de derrota.

— Song morreu e você nem nessa ocasião decidiu voltar? Por que agora? Por que agora?

Ele se apoiou em uma das mesas dos meus alunos, respirando com dificuldade. Eu percebi que ele estava começando a se sentir mal, mas me recusei a oferecer qualquer ajuda. Não havia ajudado minha avó quando ela fingia ataques cardíacos; não era agora que eu iria estender a mão para um homem que havia se tornado um estranho.

Mon & Sam - Entre Laços E LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora