Capítulo 50 - Proteger Sam

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Perspectiva de Sam

Eu andava de um lado para o outro no meu gabinete, sentindo o peso do silêncio e da tensão no ar. À minha frente, sentado em uma cadeira, estava um homem que, apesar de sua familiaridade, era para mim um completo estranho. Ele me olhava como se esperasse uma reação.

— Você não pode simplesmente invadir a vida dos meus filhos assim! — Digo, com a voz carregada de frustração enquanto continuo a caminhar, tentando processar tudo aquilo.

— Desculpa, Sam. Eu estava lá fora, esperando ver você e a sua irmã, para que pudéssemos conversar, e o garoto... ele foi tão amável, me convidou para entrar. — Ele se explica, sua voz trêmula, quase suplicante.

O silêncio se instala novamente, pesado, e ele parece desconfortável com minha falta de resposta, como se estivesse prestes a se encolher sob o peso da minha reprovação.

— O Kit é muito doce. — Ele comenta, tentando quebrar o gelo.

— Ele é. Meu menino é um anjo, e por isso mesmo eu peço que não se aproxime dele desse jeito. Você não tinha o direito! Eu não tinha falado nada com eles! — Digo, sentindo a raiva e a dor se misturarem em minha voz.

— Me desculpa, Sam. Eu só queria poder ver você de novo... — Ele responde, com um suspiro pesado. — Desde aquele dia em sua casa, você não me sai da cabeça. Você é a cara da sua mãe.

Eu paro de andar, meu olhar se fixa nele. As lágrimas correm pelo seu rosto enrugado, e, por um momento, vejo ali um reflexo da minha própria dor.

Toc, toc...

Alguém bate à porta, e antes que eu possa responder, Mon entra com um saco na mão, com a expressão doce.

— Oi, amor, vim trazer seu almoço. — Ela diz com um sorriso, não percebendo imediatamente a presença do homem. — Ah, desculpa, não sabia que você estava com alguém.

O homem se levanta com certa dificuldade, suas mãos tremendo ligeiramente. Mon o reconhece, e vejo seu semblante mudar. Ela pousa o saco de comida perto da porta e se aproxima, sua postura se tornando protetora, quase como um escudo entre mim e ele.

— Olá, senhor. — Diz Mon, cordial mas com um tom firme.

Ela me olha, e no fundo dos meus olhos vê o caos de emoções que estou sentindo — confusão, raiva, tristeza. Mon decide ficar, ficando do meu lado.

— Sou a Mon. — Ela diz, estendendo a mão.

— Muito prazer, senhorita. Não imagina como estou feliz em conhecê-la. — Ele responde com um sorriso, frágil mas sincero.

Mon se aproxima de mim e me beija no rosto, sussurrando com cuidado.

— Você está bem?

Eu apenas balanço os ombros, sem saber como responder.

— Seu filho o encontrou lá fora e decidiu tomar um chá com ele no refeitório. — Explico, tentando conter minha irritação.

— Entendi. — Mon responde, com uma leve confusão no rosto, que rapidamente se transforma em uma expressão determinada. — Não acho certo que o senhor force uma entrada na vida da sua filha, depois de todos esses anos. — Ela diz, agora assumindo uma postura mais dura, incomum nela.

— Não estou tentando forçar nada, senhorita Mon. — Ele diz, se sentando com esforço, parecendo ainda mais frágil. — Só queria ter a chance de conhecer minha filha. Vocês são mães, imagino que possam entender.

— Me desculpe. — Diz Mon, sua voz agora mais fria, como se cada palavra fosse um muro levantado entre ele e nós. — Mas não consigo entender. Nada neste mundo me faria, nem por um segundo, me afastar dos meus filhos, ainda mais por tantos anos. — Ela olha para mim, com um olhar feroz e determinado. — Tenho certeza de que a Khun Sam também não.

Ele suspira, cansado, suas costas curvando-se um pouco mais.

— Senhorita, ao contrário de vocês, que são, como me contou o garoto, mães carinhosas e liberais, meus pais não eram assim. Eu tinha uma vida que não queria viver.

— Eu conheci sua mãe. — Mon diz, sem perder a compostura. — Ela abençoou meu casamento com sua filha. Então, por favor, não venha com desculpas. E me desculpe por ser tão direta, não é do meu feitio falar assim com pessoas mais velhas, mas primeiro vêm meus filhos e minha mulher. E o senhor está a magoá-la, coisa que eu não admito.

Puxo o braço de Mon, tentando acalmá-la. Ela me dá a mão, seu toque é firme, mas ela me olha com um sorriso pequeno, tentando me tranquilizar.

— Vai ficar tudo bem, amor. — Ela murmura suavemente para mim, seu olhar cheio de amor e determinação.

Ele se levanta, as costas ainda mais arqueadas, e começa a se dirigir para a porta, como se o peso de tudo aquilo estivesse prestes a derrubá-lo.

— Sam. — Ele diz, com a voz rouca, antes de sair. — Quando sua mãe faleceu, seus avós queriam me fazer casar novamente. Eu mal havia conseguido lidar com a dor de perder sua mãe. Eu a amei tanto... Eu precisei lidar com esse luto longe. Quando quis voltar, seu avô fez questão de apagar minha existência. Se você achou que sua avó foi dura com você, não faz ideia de como era seu avô. Eu vejo o quanto você ama essa mulher e claramente ela a ama com todas as forças. Se um dia a perdesse, eu imagino que você também perderia a cabeça, fugiria talvez... Eu só lamento ter voltado apenas agora, mas os anos me trouxeram muita vergonha. Vergonha que só agora consegui encarar.

Essas palavras me atingem como um chicote, me fazendo lembrar do meu divórcio com Mon. De como, depois de nos separarmos, eu fui embora do país e fiquei anos sem voltar. Como me afastei das minhas amigas e tive Kob em segredo, sozinha no Japão. Aquela dor, de perder quem se ama, eu conhecia bem.

Mon me olha, e eu sei que ela entende. Ela também fugiu de mim depois do nosso divórcio. E agora, aqui estamos, lado a lado, 20 anos depois, mais fortes do que nunca.

— Espere. — Mon diz, sua voz alta o suficiente para parar o homem na porta.

Eu a olho, surpresa, sem saber o que ela está prestes a fazer.

— Vá jantar lá em casa esta noite.

Meu coração acelera. Eu não sei se estou pronta, mas talvez seja hora de confrontar o passado de uma vez por todas. Mon me segura firme, seu olhar me diz que, não importa o que aconteça, ela estará ao meu lado.




Mon & Sam - Entre Laços E LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora