Capítulo 27 - Confia em mim, mãe

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Perspectiva de Sam

Já era noite e a casa estava mergulhada em silêncio. A luz suave da luminária ao lado da cama criava um ambiente acolhedor. Nossos filhos haviam saído para se divertir, e provavelmente só retornariam de madrugada. Mon e eu estávamos deitadas, imersas em nossas rotinas noturnas — ela lia um livro com a tranquilidade de quem se deixa perder numa história, enquanto eu tentava, sem sucesso, focar nos últimos e-mails do dia no meu laptop. Mas minha mente estava distante, presa na imagem de Mon e no pequeno Pong. Por mais que eu tentasse me distrair, o peso daquela conversa inacabada sobre filhos permanecia comigo.

Mon, sem desviar os olhos do livro, percebeu minha inquietação. Havia um tom de preocupação suave na sua voz quando falou:

— Diz logo o que está incomodando você, Khun Sam.

Fechei o laptop de repente, um movimento rápido e quase defensivo. Respirei fundo, fixando o olhar na parede.

— Você tinha pensado em ter mais filhos? — soltei, a pergunta saindo de mim com uma urgência que me surpreendeu.

Mon fechou o livro com a calma, repousando-o sobre a mesa de cabeceira antes de se virar totalmente para mim. Ela se aproximou, seus olhos buscando os meus, e senti o calor de seu corpo se aproximar do meu. Sua mão alcançou meu rosto, e ela depositou um beijo suave na minha bochecha, como se estivesse tentando me apaziguar.

— Khun Sam, eu sei que você não quer, podemos deixar esse assunto de lado. Está tudo bem. — Sua voz era suave, carregando a promessa de tranquilidade.

Mas eu não queria tranquilidade, queria respostas. Precisava entender o que aquilo significava.

— Mas você já pensou nisso, Mon? — insisti, minha voz carregando um peso que parecia se refletir na maneira como nos encarávamos, nossas pernas traçadas uma à frente da outra, como se a cama fosse um campo de batalha íntimo.

Mon suspirou, desviando o olhar por um breve momento, antes de fixá-lo novamente em mim.

— Não, Khun Sam. Nunca planejei ter mais filhos. Você sabe como foi com Napat, o quanto fui praticamente forçada a ser mãe. Eu amo meus filhos, mais do que tudo, mas a ideia de engravidar de novo... nunca fez parte dos meus planos. — Ela fez uma pausa, medindo as palavras que viriam a seguir. — A verdade é que durante todos esses anos, eu sempre desejei não ser mãe novamente.

Houve um silêncio carregado, e eu senti meu coração bater mais rápido, enquanto processava cada palavra. Ainda assim, não podia deixar de questionar.

— Isso era no passado, e agora? No presente? Você ainda deseja não ter mais filhos? — perguntei.

— Eu nunca quis ser mãe com Napat. Não me entenda mal, eu sou eternamente grata por ter meus filhos, mesmo com todas as dificuldades. Mas com você... é diferente, Khun Sam. — Sua voz suavizou, mas ganhou uma intensidade nova. — Com você, eu sou a mulher mais feliz do mundo. Você é tudo o que eu podia sonhar. Esta casa, não as paredes dela, mas o que vivemos aqui todos os dias... Você tem noção do quanto me faz feliz? Do quanto me sinto abençoada por te ver ao lado dos meus filhos, por te ver amar e ser amada por eles? Quando olho pra você e Kob, sinto meu coração bater a toda a velocidade. Eu vejo você, Khun Sam, e tudo o que estamos construindo é um sonho.

Cada palavra de Mon era como um toque, uma carícia no meu coração.

— E então, sim... nos últimos tempos, pensei que, talvez, depois de casarmos, pudéssemos ter um filho juntas. Que pudéssemos compartilhar essa experiência de criar e amar uma criança juntas. Que eu finalmente pudesse ser mãe com alguém que amo tanto, alguém tão incrível quanto você. — Ela fez uma pausa, sua mão agora repousando no meu joelho. — Mas se você não quer ter mais filhos, isso não me magoa. Eu não sinto tristeza por isso. Eu disse e repito: sou a mulher mais feliz do mundo. Todos os dias, ao seu lado, sou a mulher mais feliz do mundo.

Mon & Sam - Entre Laços E LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora