Nathália

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Adentrei o hospital correndo, peguei o elevador e digitei o número do terceiro andar, que levava ao bloco no final do corredor. Ao longe, avistei os pais de Raissa e meu irmão Gabriel, que, assim que me viu, veio rapidamente ao meu encontro com uma enxurrada de perguntas:

— Onde você estava? O que aconteceu com você? — ele indagava, impassível, e ainda acrescentou, em tom firme: — Nathália Ungaretti, parece que você esteve em uma briga!

Suas últimas palavras me fizeram lembrar da calcinha, e um frio percorreu minha espinha. "Minha calcinha, a minha favorita!", pensei. Mantive uma expressão neutra e respondi secamente:

— Não me enche o saco! Me deixa em paz!

Por dentro, eu tremia. E se alguém a encontrasse? E se descobrissem o que aconteceu? A culpa recaía sobre mim. Tentei afastar esses pensamentos e perguntei:

— Como está a Raissa?

— Ainda está em cirurgia, não recebemos notícias até agora — respondeu Gabriel, preocupado.

Olhei para os pais de Raissa, que estavam abraçados e chorando. Decidi me aproximar e abraçá-los com carinho. Eles retribuíram o gesto. Foi então que ouvimos o ranger da porta. O médico que a operava saiu para nos dar notícias.

Ele chamou pelos familiares e informou que, infelizmente, precisou realizar a remoção total do útero de Raissa e que ela ficaria na UTI pela próxima semana. Todos ficamos em silêncio, enquanto os pais dela choravam comovidos pela gravidade da situação. Gabriel parecia refletir profundamente sobre a lição de que, para proteger os outros, é preciso também se proteger.

Gabriel fez um gesto com a cabeça, sugerindo que nos afastássemos, e eu concordei.

— Tia Dina, eu e Gabriel vamos até a cafeteria do hospital. Qualquer coisa, pode nos chamar — disse, e ela assentiu. Eu podia ver a tristeza profunda em seus olhos.

Enquanto caminhávamos pelo corredor em direção à cafeteria, Gabriel, sempre curioso, disparou:

— Desembucha, Nathália... O que aconteceu para você chegar daquele jeito, toda vermelha e ofegante?

Revirei os olhos diante da sua insistência.

— Nathália... Nathy... Eu vi você nascer. Eu te conheço. O que você aprontou?

Soltei de uma vez, sem rodeios, para evitar mais questionamentos:

— Eu transei com o Roberto dentro da viatura... e minha calcinha ficou no veículo.

Gabriel engasgou com a própria saliva e, surpreso, exclamou:

— Como é que é? Você sabe que isso pode complicá-lo, não sabe? Quer virar motivo de piada entre os militares, Nathália? — falou, visivelmente irritado.

— Tá, Gabriel... Não me deixa pior, eu já me sinto péssima! — respondi, frustrada.

— Nathália... O que está acontecendo com você? Não te reconheço mais! Está agindo por impulso, sem nenhuma responsabilidade. Quer ser presa?

— Gabriel, eu não sei o que está acontecendo comigo... Estou completamente fora de mim... Estou apaixonada, não vou negar.

Eu e Gabriel sempre fomos muito unidos, como unha e carne. Ele me entendia profundamente, e nosso vínculo era eterno, um sentimento genuíno e profundo. Ele era meu porto seguro, meu apoio incondicional. Sentamos na cafeteria e tomamos café enquanto conversávamos sobre coisas aleatórias da vida. Pouco depois, tia Dina veio ao nosso encontro:

— Raissa foi direto para a UTI, meus queridos! Eu e o pai dela já vamos voltar para casa. Agradeço a vocês por terem vindo! — disse ela, com ternura.

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