Destinos

Nathália

A sensação de solidão tomou conta de mim assim que cheguei em casa. A Valda não estava, Gabriel provavelmente estava por aí, e meus pais continuavam viajando. A casa parecia ter dobrado de tamanho, e a ausência de qualquer ruído realçava esse vazio. Enquanto caminhava pela sala, tentava lembrar dos momentos tranquilos que passei com o Roberto. O silêncio, porém, me obrigava a reforçar todos os alarmes, como sempre fazia. As luzes fracas dentro de casa criavam um ambiente quase misterioso, algo que me deixava inquieta.

Subi direto para o meu quarto, e a primeira coisa que fiz foi me jogar em um banho quente e relaxante, tentando acalmar meus pensamentos. Vesti um pijama confortável e desci para a cozinha, na esperança de encontrar algo na geladeira que aliviasse a sensação estranha que me envolvia. Foi quando ouvi o barulho familiar do carro do Gabriel entrando na garagem. Ele não demorou a abrir a porta da sala e vir diretamente para a cozinha.

– Maninha! – Gabriel me deu um beijo na testa, como sempre fazia. O abracei de volta, mas logo percebi que algo não estava certo.

– Gabriel, que cara é essa? – perguntei, franzindo o cenho. Era óbvio que ele estava perturbado.Ele hesitou por um momento, desviando o olhar antes de finalmente responder.

– Raissa pirou... Eu acho... – fez uma pausa, claramente relutante em continuar. – Acho que ela vai morrer.

Fechei os olhos por um segundo, processando aquela informação. A lembrança de que eu não havia me cuidado naquela manhã com Roberto passou rapidamente pela minha mente, mas eu logo afastei o pensamento.

– Gabriel, não pense assim, ela vai ficar bem! – tentei soar confiante, mas sabia bem como essas situações podiam ser complicadas. Abortos clandestinos sempre levavam a consequências graves. Eu queria acreditar nas minhas próprias palavras, mas uma parte de mim sabia que estava tentando enganar a mim mesma.

– Nathy... eu não sou idiota – ele disse, com um tom misto de frustração e tristeza. – Eu sou médico também, esqueceu?

– Eu sei, Gabriel... Eu sei... – suspirei, sem saber o que mais dizer.

Ele mudou de assunto rapidamente, talvez querendo desviar o foco daquela conversa pesada.– E você e o caveira? Se falaram depois daquele dia que você foi buscar o jaleco no batalhão? – Gabriel não conseguiu esconder a curiosidade.

Sorri, percebendo que ele queria me distrair.

– Só conto o que rolou se você comprar tacos mexicanos pra gente jantar! – falei, tentando chantageá-lo de leve.

Gabriel, como sempre, entrou na brincadeira e logo fez o pedido pelo iFood.

– Nathy... antes disso, vou tomar um banho e já desço! – ele disse, e o vi correndo pela casa em direção ao quarto. Alguns minutos depois, ele voltou, agora mais relaxado, com um sorriso no rosto.

Eu ainda estava na cozinha, esperando por ele com uma cerveja gelada em mãos. Gabriel e eu sempre fomos uma dupla inseparável, além de irmãos, éramos grandes amigos. Não havia segredos entre nós. Ele se sentou ao meu lado na ilha gourmet, pronto para ouvir o que eu tinha a dizer.