Roberto

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"Caralho," pensei, ao perceber que minha cara já estava estampada na primeira folha do jornal. A indignação me consumia.


Bati continência para Mathias, minha raiva transbordando. "Chama a tenente Erica aqui agora!" exigi, a voz carregada de furia. Mathias respondeu com uma continência de volta e saiu apressado para convocá-la.


Erica entrou em minha sala com um sorriso cínico no rosto, desconfiada. Sem perder tempo, atirei o jornal em cima da mesa e cruzei os braços, fixando o olhar nela. A expressão dela mudou rapidamente ao perceber que não estava de brincadeira, e logo ficou em silêncio.


"A próxima vez que você encostar em mim sem a minha permissão, terá punição disciplinar. Você está me entendendo? Você me entendeu?" As palavras saíram com um peso que ecoou na sala.


"Entendi!" Ela abaixou a cabeça, mas não era suficiente para mim.


"Não escutei!" gritei, a frustração tomando conta.


"Entendi, Capitão!" A resposta dela foi rápida, e pude ver o entendimento em seus olhos."Descansar!" ordenei, e ela bateu continência antes de sair, o ar pesado entre nós ainda me deixando inquieto. A raiva e a confusão que eu sentia me acompanhariam por mais um tempo, mas pelo menos havia estabelecido limites claros.


Peguei meu celular e, ao olhar para a tela de bloqueio, vi uma foto minha e de Nathália. Um suspiro frustrado escapou dos meus lábios. A essa altura, ele provavelmente já tinha visto essa porcaria e poderia pensar o que quisesse sobre nós.


Nesse momento, Carvalho entrou na minha sala, interrompendo meus pensamentos. "Vamos buscar o Gouveia para o Hospital Militar," ele anunciou. A ideia de ter que dividir o mesmo espaço que Erica me deixou ainda mais irritado. Era óbvio que Nathália estaria naquele hospital, e a possibilidade de isso dar merda era enorme.


A tensão no ar parecia aumentar a cada segundo. A mistura de emoções que eu sentia por Nathália e a frustração em relação a Erica me deixava ainda mais ansioso. Respirei fundo, tentando me concentrar na missão.


Chegamos ao hospital, e meu coração deu uma leve acelerada ao ver o carro dela estacionado. Era como se uma onda de emoções me atingisse.


Partimos em direção ao elevador, que estava vazio. Me posicionei ao fundo, digitando o botão do quarto andar. O elevador parou rapidamente no segundo andar, e as portas se abriram.Nathália estava ali, segurando dois copos de café, e ela parecia linda em sua roupa de médica azul. No entanto, ao me olhar nos olhos, percebi que havia uma decepção clara em seu olhar.


 Ela encarou Erica dos pés à cabeça, com uma expressão de nojo que não podia ser disfarçada.

A cena me fez sentir uma onda de culpa. Nathália se posicionou em um cantinho, parecendo menor do que realmente era, abaixou a cabeça e permaneceu em silêncio até chegarmos ao destino. As portas do elevador mal abriram, e ela saiu rapidamente, indo em direção a uma grande porta.


Eu a observei partir, uma sensação de impotência me invadindo. Era doloroso ver como a situação entre nós havia mudado, e eu queria fazer algo, mas as palavras não saíam.


Carvalho me olhou com uma expressão de deboche, mas ele não fazia ideia do que estava acontecendo. Eu estava comendo aquela buceta maravilhosa a  quase uma semana e completamente apaixonado por ela.

Ele bateu na porta da unidade, e uma enfermeira atendeu, informando que estavam ocupados com um procedimento em um paciente. Precisaríamos esperar. A ansiedade estava me consumindo; eu queria arrombar aquela porta e entrar só para olhar para Nathália novamente, mesmo sem saber se ela ainda era minha.

Depois de quase 30 minutos, a porta se abriu, e lá estava ela, com os olhos e o nariz vermelhos. O impulso de abraçá-la naquele instante foi quase incontrolável. Ela estava chorando, e aquilo me partia o coração.

"Pois não, em que posso ajudar, senhores?" ela perguntou, tentando manter a postura profissional, erguendo a cabeça.

"Viemos buscar o Gouveia. Queremos a transferência dele para o Hospital Militar!" respondi, tentando manter a firmeza na voz.

Nathália assentiu e pediu para que o médico do batalhão entrasse. Quando tentamos entrar junto, ela nos barrou.

"Porra!

Só o médico do batalhão entra! Não estamos no horário de visitas. Peço que aguardem aqui, por favor!" A voz dela era doce e tranquila

A frustração subiu em mim, e Carvalho Mathias e Erica pareciam tão entediados quanto eu. Ficamos com cara de idiotas na porta, esperando mais 40 minutos até que o médico do batalhão finalmente saiu, carregando vários papéis e exames do Neto.

Logo, Gouveia foi levado em uma maca, rodeado por aparelhos, acompanhado por dois enfermeiros que nos acompanharam até o batalhão. A imagem dele em uma maca me lembrou da fragilidade da vida, e a tensão entre mim e Nathália parecia aumentar a cada segundo que passava.

Esperei, acreditando que Nathália sairia dali para falar comigo, mas a frustração só aumentava. O tempo parecia se arrastar, e cada segundo era um lembrete da distância que se formava entre nós. Fui obrigado a ir junto para o batalhão, enfrentando mais um pouco do remorso que me consumia lentamente.


As mensagens que eu enviava no WhatsApp eram ignoradas com uma precisão dolorosa. Aquilo estava me deixando com um ódio crescente, não só pela situação, mas também por mim mesmo. Cada vibração do celular, uma esperança frustrada. Eu me sentia impotente e preso em um ciclo de arrependimento e desespero, sem saber como resolver tudo isso.


Ao chegarmos ao batalhão, a tensão era palpável. Eu queria encontrar Nathália, explicar, pedir desculpas, mas a verdade é que as palavras pareciam escassas e inadequadas. As lembranças de momentos bons entre nós faziam o peso do silêncio parecer ainda mais insuportável.


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