Roberto

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Os últimos dias tinham sido quase como uma vida de casado. Praticamente me mudei para a casa dos Ungaretti, e para minha surpresa, ninguém parecia se importar. Pelo contrário, parecia que eles gostavam da casa cheia. Era uma família unida, o tipo de união que eu raramente via, mas que agora estava começando a me envolver também.


Meus pais ligavam e minha irmã mandava mensagens quase todos os dias, perguntando o motivo do meu sumiço. Eles ainda não sabiam da Nathália, e eu não tinha certeza de quando seria o momento certo para contar. Estava tão mergulhado naquela nova rotina que me distanciei um pouco do mundo lá fora.


Finalmente, o dia da festa dos pais dela chegou, e eu, graças a Deus, estava de folga. Decidi aproveitar o dia de uma maneira que meu corpo há muito tempo pedia: passei horas naquela hidromassagem no quarto da Nathália. Cada minuto ali era como uma bênção, as dores nas costas que vinham das longas horas de trabalho se dissolvendo na água quente. Senti um raro momento de paz, o tipo de conforto que eu não sabia que precisava até experimentá-lo.


Estava me acostumando com as boas condições que eles tinham ali. A casa era espaçosa, confortável, e a sensação de estar rodeado por esse luxo me irritava de certa forma. Não por inveja, mas porque percebia o quão diferente era da vida que sempre levei. Eu nunca fui interesseiro, mas não podia negar que ter dinheiro tornava muitas coisas mais fáceis. A realidade de como era viver com privilégios começou a mexer comigo, e isso me incomodava.


Naquele momento, enquanto relaxava, percebi que a vida que estava levando com Nathália me trazia uma mistura estranha de conforto e inquietação. O contraste entre as nossas realidades, entre o mundo que eu conhecia e o mundo dela, era nítido. E, por mais que tentasse ignorar, essa diferença gritava nos detalhes. Eu gostava de estar com ela, mas sabia que, em algum ponto, teria que encarar o que tudo aquilo significava.


Naquele dia, Nathália estava totalmente envolvida com os preparativos da festa dos pais. Por mais que estivesse imersa na função de cerimonialista, parecia ter o controle de tudo o que acontecia. A casa estava deslumbrante, a decoração impecável. As mesas estavam organizadas com precisão, de acordo com os convites; o som, perfeitamente ajustado; e até a iluminação do jardim sendo trocada. Eram tantos detalhes, todos escolhidos a dedo, com o toque de alguém que claramente tinha bom gosto — como o dela.


Nathália, entre idas e vindas ao salão de beleza e ajustes de última hora, estava ocupada o dia inteiro. Era como se cada centímetro daquele evento tivesse a marca dela. Enquanto ela se concentrava na maquiagem e nos últimos retoques, eu percebi que tinha um tempo a sós e decidi aproveitar.


Caminhei em direção ao closet dela, tentando não fazer barulho. O objetivo era simples: encontrar um anel, algum que ela não notasse que estava faltando, para tirar a medida. Não queria arriscar algo muito chamativo, mas precisava de algo que me desse a referência certa. Meu coração estava acelerado enquanto vasculhava gavetas e caixinhas, o cheiro suave de perfume dela preenchendo o ar.


Encontrei uma pequena caixa de joias no fundo de uma prateleira. Dentro dela, havia alguns anéis que pareciam ser menos usados, nada muito extravagante. Um deles me chamou a atenção. Era simples, delicado, algo que ela provavelmente não notaria se desaparecesse por um ou dois dias.


Peguei o anel, sentindo uma mistura de empolgação e ansiedade. Sabia que esse gesto era um passo importante — uma espécie de compromisso não dito, uma decisão que tomava em silêncio. Eu queria que fosse perfeito, e aquele pequeno detalhe poderia garantir isso.Guardei o anel no bolso com cuidado e saí do closet, tentando manter a calma. Logo a festa começaria, e Nathália estaria completamente focada nos convidados. E eu, apesar de estar ali ao lado dela, teria uma nova missão pessoal em mente.

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