"Que mulher teimosa essa, Nathália, puta que pariu!" – pensei, enquanto a via sumir pela porta de casa. Eu sabia que ela não ia me perdoar tão fácil, mas desistir dela? Jamais. Não era assim que as coisas iam terminar. Se ao menos ela me desse mais uma chance... uma única chance. Ver Nathália entrando na casa que, até pouco tempo, ainda era nosso lar me deixava com um desespero que eu mal conseguia controlar. Era uma agonia sufocante saber que aquele lugar agora estava fechado para mim, que eu não fazia mais parte do mundo dela. A imagem dela ali, tão perto e ao mesmo tempo tão distante, só me fazia pensar no quanto eu queria estar ao lado dela, sentir seu cheiro, tocar sua pele, passar a noite a fodendo aquela buceta gostosa, como tantas vezes fazia. Como eu pude ser tão burro a ponto de quase perder tudo isso?
Minha carência e saudade tinham nome, sobrenome e um sorriso lindo. Era ela. Eu estava completamente louco – perdido em uma obsessão que só crescia a cada dia. Seguia Nathália em todos os lugares, nas sombras, sem que ela sequer desconfiasse. Ser treinado para isso tinha suas vantagens; eu sabia me esconder, conhecia as melhores maneiras de não ser visto. Eu precisava saber de tudo sobre ela, cada passo, cada conversa, cada momento que ela vivia sem mim. Esse desejo por controle, por ter certeza de que ela estava bem – ou talvez só de ainda fazer parte da vida dela – me consumia de um jeito que eu nunca tinha sentido antes. Ela era minha, e essa era a única verdade que minha mente parecia aceitar.
Já se passavam seis longos meses desde que tudo aquilo havia acontecido. Seis meses de uma vida vazia, onde nenhuma outra pessoa ocupava meu espaço ou minha cama. Eu não tinha interesse em ninguém; parecia que, de alguma forma, minha vida girava apenas ao redor dela, de Nathália. E era assim, dia após dia, que eu me encontrava envolvido nessa obsessão silenciosa – sem que ela soubesse, sem que ninguém percebesse.
Minha rotina se resumia a vigiá-la, a acompanhar cada movimento dela, saber cada detalhe da sua vida. Eu precisava dessa proximidade, ainda que escondida, para manter um mínimo de controle sobre a dor e a saudade que ela me deixava. Era um vício, uma necessidade de vê-la feliz, mesmo que sem mim.
Foi num desses dias, enquanto eu a observava em silêncio, que vi a pior cena da minha vida. Nathália saía do hospital, o rosto iluminado por um sorriso largo, daqueles que eu achava que só eu conseguia arrancar dela. Mas, ao lado dela, havia outro cara – um desgraçado qualquer que a fazia rir daquele jeito, como se ele fosse o centro do mundo dela agora. Eu observava, com o peito se apertando, enquanto ele passava a mão pelo pescoço dela de uma forma íntima, os dedos roçando lentamente nos lábios dela.
O ciúme que me consumiu foi tão intenso que minhas mãos começaram a tremer. Cada toque que ele dava nela era como uma faca me cortando. A imagem deles juntos me dilacerava, e naquele momento, tudo o que eu queria era arrancá-la de perto dele, tirá-la daquele mundo em que eu não fazia mais parte.
Ele tentou beijá-la, inclinando-se na direção dela com aquele olhar que eu conhecia bem, de quem queria mais. Meu coração quase parou. Mas, para minha surpresa – e um alívio inexplicável – ela virou o rosto no último segundo, e o beijo dele acabou ficando apenas na bochecha.
Eu soltei o ar que nem percebi estar segurando. Aquilo não mudava o fato de que ele estava perto demais, que ela o deixava tocá-la de um jeito íntimo, mas, ao menos, ela não tinha cedido. Por mais que meu ciúme ainda ardesse, essa pequena reação me deu uma pontada de esperança. Talvez eu ainda tivesse uma chance, uma última oportunidade de recuperar o que tínhamos antes que fosse tarde demais.
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Destinos
Storie d'amoreNathália Ungaretti é uma médica responsável, ética e muito humana, que trabalha na emergência de um hospital em um bairro nobre do Rio de Janeiro. Seu destino muda depois que ela conhece o Capitão do BOPE.