Roberto

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Em meio à função de vigilância, ao prazer provocado pela tensão acumulada e ao resultado negativo do teste de gravidez, além da rotina caótica dentro do batalhão, costuma dizer: "Quando a pressão aumenta em casa, o pau vem na rua." Essa frase reflete bem o estado de espírito que permeia nosso trabalho.

Naquele dia, eu e André retornamos ao batalhão em uma sexta-feira à tarde, utilizando um veículo GOL descaracterizado, que frequentemente era enviado em operações sigilosas. Nossa missão era monitorar um indivíduo que atuava como intermediário entre os vagabundos da região, responsável por fazer as conexões entre diferentes grupos de tráfico.

Infelizmente, após algum tempo de vigilância, perdemos a pista do suspeito. Como já havia se passado 24 horas desde o início do nosso plantão, decidimos retornar à área próxima à favela para reavaliar a situação e buscar novas informações. Durante a trajetória, nos deparamos com uma bifurcação, mas André, que estava ao volante, tomou o lado errado. Quando percebemos, já estávamos descendo uma ladeira extremamente íngreme, que nos levava ao miolo da favela.

A descida abrupta trouxe à tona um sentimento de apreensão. O ambiente ao nosso redor mudou rapidamente: o asfalto deu lugar a ruas de terra batida, cercadas por casas simples e movimentadas. O som de vozes, música e risadas se misturavam ao clima tenso da operação. Sabíamos que era crucial manter a descrição, pois qualquer movimento em falso poderia chamar a atenção indesejada.

Ao finalmente alcançar o fundo da favela, começamos a avaliar as opções disponíveis. A situação é cautelar, pois estamos em território desconhecido e perigoso. O instinto de sobrevivência se intensificou, e a necessidade de retomar o controle da situação se tornou nossa prioridade.

Não havia como recuar, frear ou abandonar o carro e correr a pé; deslizávamos pelo meio da favela, e nosso veículo tornava-se uma bandeira visível. Eram dois homens em um GOL, e a realidade era clara: ou éramos bandidos ou policiais, e em ambos os casos, estávamos em uma situação arriscada. Nos dois casos iríamos tomar tiro.

À medida que seguíamos lentamente pela ladeira, avistamos um grupo de traficantes reunidos no meio da rua, envolvidos na distribuição de cargas e armas. O ambiente estava carregado de tensão, e uma intuição forte me dizia que eu e André só tínhamos uma saída: acelerar.

"Acelera, André! Pisa até o fundo e abaixa a cabeça!" A ordem saiu quase como um instinto. Não havia mais tempo para hesitações. A adrenalina pulsava nas veias enquanto o carro respondia ao comando, e o motor rugiu ao ser pressionado ao máximo. O mundo ao nosso redor se tornou um borrão enquanto descíamos a ladeira em alta velocidade, e a realidade da situação tornava-se cada vez mais intensa.

Os olhares dos traficantes se voltaram em nossa direção, e o desespero começou a se misturar à determinação. O carro disparou pela rua estreita, e o som de pneus queimando ecoou no ar, misturando-se ao caos ao nosso redor. Sabíamos que a sobrevivência dependia da nossa capacidade de agir rapidamente. A velocidade nos oferecia uma chance, mas também nos colocava em uma situação ainda mais perigosa. O coração batia acelerado, e a única certeza era que não podíamos parar.

Caralho aquilo parecia um jogo de boliche. O carro disparou ladeira abaixo, e, em meio ao desespero, atropelamos uns cinco vagabundos. Foi uma puta pancada; voou moleque para todos os lados, e o impacto ecoou em nossas mentes como um estrondo ensurdecedor. O carro capotou algumas vezes, mas, milagrosamente, conseguimos nos desvencilhar do veículo em meio àquela tempestade de caos.

No momento em que os primeiros tiros começaram a ressoar ao nosso redor, a adrenalina tomou conta de nós. Corremos, atirando para nos proteger e buscando cobertura onde podíamos. A única coisa que importava era a nossa sobrevivência. Não olhamos mais para trás; o instinto de sobrevivência nos impulsionava a avançar pelos becos estreitos, na direção oposta à entrada da favela.

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