Nathália

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Roberto estava claramente ciumento, e essa atitude grudenta quase me sufocava. Era como se ele quisesse compensar os anos perdidos em uma só semana, mas tudo estava acontecendo rápido demais. Afinal, foram cinco anos longe, cada um vivendo a própria vida, e agora só faltava ele querer voltar a morar comigo, como se nada tivesse acontecido. Aquilo era um erro que eu não pretendia repetir.


Não havia dúvida de que o amava, mas a confiança, essa sim, era algo que se reconstruía aos poucos, com tempo e atitudes, e não com palavras ditas em um momento de carência. Ele precisava entender isso e respeitar meu ritmo, porque, por mais que eu desejasse dar certo, precisava de certeza antes de mergulhar de cabeça novamente.


Subi para o meu antigo quarto em busca de um pouco de paz e espaço para revisar os documentos do meu contrato de trabalho. Voltar para o mesmo hospital, mas agora como diretora geral, era uma conquista e tanto. Anos de experiência em hospitais no exterior me deram uma visão mais ampla de como administrar e transformar aquele lugar em algo extraordinário, e a ideia de fazer dele o melhor hospital do Rio me enchia de motivação. Agora, cada decisão e cada mudança refletiriam todo o aprendizado e a determinação que trouxe de volta para o Brasil.

Não demorou muito para que Roberto viesse atrás de mim, entrando no quarto em silêncio e deitando-se na cama de costas, apenas me observando. Eu podia sentir seu olhar acompanhando cada movimento meu enquanto revisava os documentos. Ele parecia entender que eu precisava de espaço, mas ao mesmo tempo queria estar por perto, como se só o fato de me observar pudesse diminuir a distância que o tempo tinha colocado entre nós. Eu tentava manter o foco nas páginas à minha frente, mas era impossível ignorar a presença dele ali, tão familiar e ao mesmo tempo tão carregada de histórias que ainda precisavam ser resolvidas.

Guardei os documentos de volta nas pastas e virei para encará-lo, meu olhar firme, mas o coração ainda vulnerável.— Roberto... — comecei, soltando um suspiro — a gente não pode simplesmente fingir que as coisas voltaram ao normal. Muita coisa aconteceu, e... — hesitei por um instante, sentindo as palavras se formarem na garganta — ainda tem partes de mim que estão machucadas.Ele permaneceu em silêncio, seus olhos me encarando com uma intensidade silenciosa, como se quisesse absorver tudo o que eu estava tentando dizer. Era difícil expressar como me sentia, como as feridas deixadas ainda pesavam no presente. Sabia que ele queria fazer as pazes, mas também sabia que, para mim, não seria tão simples assim.

— Eu sei, Nathália. Sei que não posso apagar o que fiz. — Ele olha para o chão, parecendo lutar contra as próprias emoções. — Quando você foi embora, eu realmente achei que não fosse te ver nunca mais. E eu... — faz uma pausa, os olhos baixos e a voz carregada de arrependimento. — Demorei pra entender o que tinha perdido.Aquele momento de vulnerabilidade dele me pegou de surpresa, e a sinceridade nas palavras dele fazia meu coração hesitar. Roberto nunca foi de admitir erros tão abertamente, mas ali, sem as máscaras de sempre, ele mostrava uma parte dele que eu quase nem reconhecia.


— Eu percebo que você tá tentando, Roberto, mas a verdade é que não posso simplesmente esquecer o que houve. — Minha voz saiu calma, mas carregada de tudo que eu ainda sentia. — Às vezes, fico pensando se você realmente mudou... ou se só está com medo de ficar sozinho.Ele ergueu o olhar, parecendo surpreso com a minha franqueza, mas sem desviar. Eu sabia que minhas palavras eram duras, mas precisava ser honesta. Não queria me enganar, nem a ele.


— Não, não é isso. Eu mudei, Nathália. — Ele disse, a voz cheia de determinação e, pela primeira vez em muito tempo, de uma sinceridade que parecia vir direto do coração. — Acredite, eu sinto falta de tudo que tínhamos. De você, da nossa rotina... cada detalhe. — Ele fez uma breve pausa, os olhos presos aos meus. — O que eu fiz foi imperdoável, mas estou aqui pra te provar que estou disposto a fazer o que for preciso pra te reconquistar.As palavras dele me atingiram de um jeito profundo. Ele não estava só se desculpando; estava realmente disposto a lutar, a transformar o arrependimento em ações. Eu só precisava entender até onde meu coração estava disposto a permitir.

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