Capítulo 22

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Hi, hi!


S/n estava ao lado da recepção do hotel em que ela e Mina haviam passado tantas noites juntas, esperando o gerente assistente voltar com sua bolsa.

Ela a havia deixado lá há três noites. Depois de verificar dentro do quarto, ela havia deixado suas coisas, sua lingerie e produtos de higiene pessoal, no pressuposto de que ela e Mina voltariam para o quarto depois da patinação no gelo.

Ela pensou que estava sendo muito prática e eficiente, evitando a necessidade de carregar a bolsa com ela, mas elas nunca retornaram ao hotel, e ela se esquecera completamente até que um membro da equipe do hotel a ligou para avisá-la que eles haviam guardado a bolsa até que ela pudesse busca-la.

Parecia estranho, estar no hotel novamente.

Cada detalhe do piso de mármore da entrada e a decoração elegante do lobby eram familiares.

Mas duvidava que fosse reservar um quarto neste hotel novamente.

Ele a lembrava de Mina, que não respondeu a seu e-mail.

Dizer-lhe que ela não poderia mais contratar seus serviços, havia sido doloroso.

Mina estava acordada e sentada na cama quando ela voltou do banheiro naquela manhã, e os olhos castanhos já sabiam.

Mina tinha mais experiência com o mundo do que qualquer mulher que S/n já conhecera.

Ela já devia estar esperando que algo acontecesse depois da noite que passaram juntas.

S/n balbuciou algum tipo de explicação, concluindo que não poderia ser mais sua cliente.

Enquanto falava, a expressão de Mina havia ficado mais e mais fechada.

— Eu sinto muito...

Ela havia dito com a voz trêmula, tentando combater a maneira como Mina estava se fechando enquanto ela assistia.

— Eu só não sinto mais que é profissional para mim. E eu não posso mais.

— S/n, não tem que ser...

— Está tudo bagunçado!

S/n a interrompeu, com medo do que ela poderia dizer.

A garota não estava preparada para ouvir qualquer coisa que pudesse sair de sua boca.

— Não há como não ser confuso entre nós agora. Eu não me sinto do jeito que deveria.

— Eu não me sinto...

— Mina, por favor. Eu sinto muito.

Suas tentativas de falar e a expressão de seus olhos estavam deixando S/n em pânico.

Ela não sabia o que Mina queria dizer, mas vinha captando pequenos sinais e pistas dela há meses.

E finalmente, depois da intensidade da noite anterior, as peças foram se juntando.

Ela não sabia exatamente o que sentia pela mulher, mas sabia que não era a única com fortes sentimentos ali.

Porém, não podia deixá-la dizer nada, nem mesmo o que ela ansiava por ouvir Mina dizer.

— Qualquer coisa que disser vai confundir ainda mais as coisas. Eu não posso mais ficar com você.

Em seguida, ela acrescentou em um murmúrio fraco, já que não podia suportar o som de suas últimas palavras:

— Não agora, ou de qualquer maneira.

O rosto de Mina havia congelado em uma expressão calma e vazia, e S/n sabia que ela não iria mais tentar argumentar.

— Eu gostaria que pudéssemos ser amigas.

Ela acrescentou, mesmo sabendo que aquela expressão no rosto de sua acompanhante pressagiava o pior.

— Se... se você achar que é possível. Sei que as coisas não têm sido muito boas entre nós, mas você significa muito para mim. E eu gostaria... eu gostaria de ser sua amiga.

Quando Mina não respondeu, S/n disse sem convicção:

— Eu vou enviar um e-mail para você. Nós podemos só... só nos ver.

Mina estava sentada quase nua em sua cama, com a cabeça levemente baixa, o cabelo caido em seu rosto, o lençol caído sobre seu colo e então S/n viu pela primeira vez a mulher puxar o lençol e cobrir os seios.

Tinha sido a coisa mais difícil do mundo para S/n colocar seus sapatos e preparar-se para deixá-la.

Ela hesitou antes de sair, o mundo se desequilibrando sob seus pés.

— Eu... eu sinto muito. Eu não sei se preciso pagar pela noite passada.

E isso havia apagado qualquer pequena possibilidade de um adeus afetuoso.

Naquela manhã, S/n esteve trabalhando no medo, na autopreservação, na necessidade de recuperar qualquer parte de sua segurança.

Mas ela estragou tudo.

Lidou com isso terrivelmente.

Ela tentou falar com Mina mais tarde naquele dia para pedir desculpas e tentar explicar-se melhor, mas a mulher ainda não havia respondido ao seu e-mail.

E tinha certeza agora de que Mina não o faria.

A escritora estava certa sobre sua decisão.

Não tinha certeza sobre a natureza dos sentimentos de Mina, mas tinha certeza que a mulher a via como mais do que uma cliente.

Ela e Mina, no entanto, só haviam se relacionado de forma artificial, porque ela sempre esteve pagando.

Mesmo tendo conseguido forjar um vínculo, apesar das circunstâncias, ela não conseguia vê-las num relacionamento saudável.

Elas tiveram que dar um passo atrás antes de poder dar qualquer passo à frente, e agora, qualquer passo à frente parecia impossível.

Um assistente foi-lhe devolver a bolsa, e depois que S/n agradeceu, ele disse:

— Sua amiga está no bar, se estiver procurando por ela.

S/n piscou surpresa para ele.

— Minha amiga?

— Sim. Sua amiga. Ela está no bar. Perdão, senhora, eu pensei que você estivesse aqui para encontrá-la.

S/n resmungou um obrigada e caminhou pelo saguão em direção ao bar do hotel.

Eram quase sete da noite, mas o bar não estava muito lotado.

A brasileira parou na entrada do local e olhou para uma mulher sentada sozinha de costas para a porta em uma das mesas.

Ela parecia magra e civilizada nas bem modeladas calças e caros sapatos de salto alto.

Havia ainda um bom gole de uísque em seu copo.

E ela tinha o cabelo completamente platinado.

Sem questionar o instinto, S/n caminhou até ela.

Puxou uma cadeira ao seu lado na mesa e sentou-se na borda.

Mina se contraiu surpresa por sua chegada, mas foi sua única reação.

Ela tomou um gole de uísque e olhou firmemente para a menor, sem falar ou sorrir.

— Oi 

  S/n deu-lhe um sorriso hesitante.

— Olá.

— Você não respondeu ao meu e-mail.

Mina hesitou, passando a língua ao longo da linha entre os lábios.

— Você ia responder?

Perguntou S/n, certificando-se de não parecer irritada ou agressiva.

— Eu não sei.

— Sinto muito sobre o outro dia

Disse S/n, tentando mais uma vez fazer-se clara.

— Eu fiz tudo errado. Me desculpe se te machuquei ou... ou se eu te tratei desconsideradamente.

Mina soltou um pequeno suspiro.

— Está tudo bem. Eu entendo porquê você tomou a decisão. Só acho que havia outras opções para você escolher.

— Havia

Admitiu S/n, sua barriga torcendo de nervoso.

Ela não poderia — simplesmente não poderia — deixar Mina oferecer-lhe outra opção.

Se fosse algo pelo menos próximo do que ela queria tão desesperadamente, não seria capaz de resistir à mulher.

E sua relação confusa só iria ficar ainda mais confusa.

— Mas esta é a única opção que pode funcionar. Você não vê?

A voz falhou em sua seriedade.

— Eu tenho lhe pagado para me foder por meses e não sou a única mulher que faz isso. Você é uma garota de programa. Eu não posso suportar a ideia de você com suas outras clientes. Eu as odeio. Odeio. Eu não vou ser capaz de superar, mesmo se você largasse isso futuramente, ainda há essa dinâmica estranha entre nós. Tirar o dinheiro não vai, magicamente, consertar as coisas. Eu não sei o que você... o que você quer de mim, mas tudo o que pode ter agora, é amizade.

Mina olhou para ela por um longo tempo.

Mas ela poderia dizer que a mulher estava realmente pensando sobre o que ela disse.

Finalmente, acenou com a cabeça.

S/n soltou um grande suspiro.

Pela primeira vez, sentiu um silvo de esperança.

— Por favor, Mina, não me afaste. Eu acho que... Eu acho que poderíamos realmente ajudar uma à outra. Eu ainda quero você na minha vida. Eu preciso de você na minha vida.

Mina terminou o último gole de seu uísque e olhou para a mesa por um tempo agonizantemente longo.

Até que, finalmente, murmurou:

— Eu preciso de você também.


Quem sentiu pena da Mina? Tadinha. 

Minha acompanhante [Mina/You]Onde histórias criam vida. Descubra agora