Capítulo 23

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Dois Meses Depois

— Ok!


S/n disse da cozinha de Mina.

Com muito cuidado, ela levou o bolo de chocolate com glacê de caramelo e 10 velas acesas em direção à sala de estar.

Como tudo o que separava a cozinha da sala de estar era um balcão com tampo de granito, ela fez isso sem nenhum incidente.

— Está pronto!

Mina estava lendo no sofá enquanto S/n preparava seu bolo.

Quando a garota se aproximou, viu-a fechar o livro e guardá-lo discretamente em seu estojo de couro, que estava no chão, perto do sofá.

Ela vinha fazendo muito isso ultimamente — tirando qualquer livro que estivesse lendo das vistas de S/n.

Mas a escritora nada comentou sobre isso, no entanto.

Apenas sorriu enquanto apoiava o bolo na mesa.

— Parabéns pra você...

S/n começou a cantar, com alegria exagerada.

Mina fez uma careta quando ela começou, mas quando terminou a canção e bateu palmas sorrindo com a língua entre os dentes, Mina estava rindo também.

Em seguida, S/n a observou com expectativa quando a mulher inclinou-se para soprar as velas.

 — Você fez um desejo primeiro?

S/n exigiu.

 — É claro.

A boca de Mina se contraiu enquanto ela examinava o bolo cuja preparação havia tomado horas de sua manhã.

— Você fez este bolo sozinha?

 — Sim. E não se atreva a rir. Cozinhar não é um dos meus talentos, mas eu fiz o melhor que podia.

 — Parece ótimo. Você não deveria ter tido todo esse trabalho.

S/n inclinou-lhe um olhar indignado.

 — Por que diabos eu não deveria ter tido esse trabalho?

 Os lábios de Mina tremeram novamente.

Sentindo uma onda de calor com a visão familiar de seu bonito e divertido rosto, S/n explicou:

 — Eu não consegui colocar todas as 34 velas em um bolo pequeno.

Mina deu-lhe um olhar frio por entre os cílios que fez S/n rir.

 Em seguida, admitiu:

 — Meu aniversário foi ontem, você sabe. Não hoje.

S/n entregou-lhe a faca para que ela pudesse cortar as fatias e colocá-las nos pratos que havia posto na mesa de café, mais cedo.

 — Eu sei. Mas você foi a idiota que agendou um compromisso em seu aniversário.

Então, eu tive que mudar a celebração para hoje à noite.

S/n nunca iria admitir isso, mas estava um pouco magoada por Mina ter feito uma coisa dessas.

Elas nunca falaram sobre o seu trabalho.

A garota sabia que ela saía à noite, às vezes.

Ela pegava seu estojo e nunca dizia uma palavra sobre o que ia fazer.

Deve ter cortado suas clientes de forma significativa, como dissera a ela, pois não saía mais do que duas ou três noites por semana agora.

 Fazia dois meses que S/n tinha deixado de ser cliente de Mina.

Depois de ir até ela no bar do hotel, elas lentamente teceram uma amizade.

À princípio, tinha sido um pouco estranho.

S/n ficava nervosa em torno dela e a mulher se mostrava bastante distante.

Mas elas progrediram gradualmente, ficando mais confortáveis uma com a outra, e agora, S/n via ou falava com ela quase todos os dias.

 Mas ela odiava que Mina não tivesse se aposentado do negócio de acompanhante.

Ela ainda odiava pensar em cada uma de suas clientes e em tudo o que a mulher fazia com elas.

Odiava que Mina não parasse de objetificar e desvalorizar a si mesma — que não pudesse ser parte da experiência de todos, como acompanhante, quando isso certamente era parte dela.

S/n não a julgava, sabia que as razões que a levaram à prostituição eram complexas demais para se compreender verdadeiramente.


Mas queria que Mina parasse.

E ela não tinha feito isso.

De certa forma, era mais seguro desse jeito.

Enquanto Mina continuasse em sua profissão, não haveria a mais remota possibilidade de um romance se desenvolver entre elas.

E essa barreira tornou mais fácil, para S/n, superar um monte de confusão e auto-ilusão que ela sofrera antes.

Contudo, ela ainda odiava isso.

A cada vez que Mina pegava sua maleta e saía para atender uma cliente.

Até marcou um encontro em seu aniversário, quando devia saber que S/n queria comemorar com ela.

No último mês, Mina teve um compromisso a cada quarta-feira.

 Foi preocupante, porque ela estava com medo de que pudesse ser uma cliente regular e as clientes regulares eram, de alguma forma, mais ameaçadoras do que as ocasionais.

 Depois de tudo, S/n viu o quão profundamente havia caído quando se tornara uma cliente regular dela.

 — Me desculpe, eu estava ocupada ontem à noite

Mina disse suavemente, como se tivesse lido pelo menos algumas de suas ponderações.

S/n jogou seus pesados pensamentos para longe.

Era bobagem pensar nisso.

 Sua amizade com Mina estava prosperando e era muito melhor do que o que tiveram antes.

Sim, S/n sentia falta do sexo.

Às vezes tanto, que pensava que iria explodir, mas parecia que estavam construindo algo real entre elas — mesmo em tão incongruentes circunstâncias —, de maneira que ela não ia se queixar por isso não estar funcionando como um conto de fadas ou um filme bobo.

 Sorrindo para ela, a garota disse:

 — Está tudo bem. Vamos fingir que seu aniversário é hoje.

 Elas comeram o bolo e beberam Borgonha, que Mina insistiu ser um complemento perfeito para o bolo de chocolate.

Elas conversaram com facilidade até que S/n trouxe um assunto que vinha discutindo com Mina há quase um mês.

— Eu preciso enviar o cartão de confirmação de que vou assistir ao casamento

Disse ela, tentando um tom casual.

— Eu deveria dizer que sou eu e uma convidada, certo?

Mina olhou-a de forma suave mas firmemente.

— Só se você encontrar uma acompanhante para si.

Minha acompanhante [Mina/You]Onde histórias criam vida. Descubra agora