Capítulo oito

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 Até o fim da semana, eu já tinha roído cada pedacinho das minhas unhas. Cada vez que eu pensava em pedir conselhos para alguém – mesmo que anonimamente pela internet – uma onda de paranoia tomava conta de mim e eu me segurava. Não podia arriscar a fazer qualquer coisa que violasse a confiança da Sra. jauregui em mim. 

Mesmo que eu ainda não tivesse assinado o contrato, se eu assinasse, com certeza a cláusula do silêncio seria retroativa. Ou será que não? Queria poder pagar pelo meu próprio advogado. Seria de grande ajuda passar por tudo isso com alguém que fosse equilibrado e experiente e em quem pudesse confiar para não contar nada. Mas isso simplesmente não era possível. Ao dirigir para casa na sexta-feira, eu estava completamente esgotada. E pela primeira vez em um bom tempo, um fim de semana relaxante simplesmente não estava previsto – eu passaria os dias de folga refletindo sobre esta situação, tentando descobrir qual seria meu próximo passo. Qualquer decisão que eu tomasse, certamente teria que conviver com ela... bem... para o resto da minha vida. Vagamente, comecei a ouvir um ruído vindo de algum lugar, mas tentei ignorá-lo enquanto me aproximava do semáforo mais demorado do mundo. Não sei se ele realmente era mais demorado que os outros ou se só parecia que era, porque ficava a poucas quadras do meu apartamento. Mas, de qualquer forma, fiquei aflita quando o vi ficar vermelho conforme me aproximava. O ruído foi ficando mais alto enquanto eu estava parada. Dei uma batidinha no painel do carro, esperando que fosse alguma parte solta de algo sem importância. Afinal, o carro estava ficando velho. O ruído transformou-se em um rangido e conforme eu soltei o freio e pisei no acelerador, senti o carro dar um solavanco logo antes de encalhar com uma parada abrupta no meio do cruzamento. Sim. Perfeito.

Senti minhas costas começarem a doer quando estava sentada na oficina mecânica, em uma sala de azulejos que fedia a óleo e borracha

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Senti minhas costas começarem a doer quando estava sentada na oficina mecânica, em uma sala de azulejos que fedia a óleo e borracha. Ao meu lado, na mesa, havia uma pilha de revistas de quatro anos atrás, bastante amassadas e lambuzadas de graxa. Não conseguia me livrar do medo. Eu já sabia que as notícias não seriam boas e eu não poderia de forma alguma arcar com um conserto grande nesse momento. Quando finalmente me chamaram no balcão, eu quase não conseguia prestar atenção no que estavam dizendo-me. As poucas palavras que penetraram pela confusão da minha mente não soavam bem. "Bastante degradado." "Grande conserto." "Plano de pagamento." Atordoada, peguei meu único cartão de crédito que ainda não tinha estourado e o entreguei para fazer o primeiro depósito. Se eu vivesse à base de macarrão instantâneo por um tempo, conseguiria fazer os pagamentos mínimos. Droga, se eu tivesse sorte, iria pagar isso só até minha aposentadoria. Claro, havia outra opção. Enquanto eu ia para casa no traslado de cortesia, perdi-me na fantasia de ser noiva de uma bilionária. Mesmo que fosse só por um ano... claro que eu teria o meu pagamento depois disso, o que por si só já seria um sonho realizado. Mas viver por um ano inteiro sem ter que pensar ou preocuparme com dinheiro nem mesmo uma vez? Isso estava além do que eu poderia imaginar. Mas uma vez que estivesse administrando minha própria pequena fortuna, seria diferente. Eu ficaria preocupada em  onde investi-la, como poupá-la – passaria todo o meu tempo livre pensando em como fazê-la durar. Mas enquanto estivesse fazendo o papel de esposa do Sra. jauregui, eu ficaria despreocupada. Se eu precisasse de qualquer coisa – qualquer coisa mesmo – eu poderia ter. Eu estava cansada dessa vida. Estava exausta de viver de salário em salário, tentando juntar dinheiro o suficiente para adiar as faturas do meu cartão de crédito por mais um mês. Entre os pagamentos do meu empréstimo para os estudos e algumas antigas contas médicas, a maioria dos meus salários acabava antes mesmo que eu tivesse a chance de pensar em como gastá-los. Mas não precisava mais ser assim. A Sra. jauregui havia me dado o número de seu celular pessoal – o que eu acho que ela raramente passava para alguém. Ela estava ansiosa para saber qual seria minha decisão. Claro que estava. Ela tentou esconder o melhor que pôde, mas eu sabia o quanto ela precisava que eu aceitasse. Quando cheguei em casa, peguei o papel amassado do meu bolso e disquei o número. Ela atendeu ao primeiro toque. "Alô?" Sua voz estava profunda e suave, como... não, eu não podia permitir-me pensar dessa forma. Vamos, camila. Recomponha-se. "Alô, Sra. jaureguie? É... hum... é a camila cabello." Houve um breve momento de hesitação. "Acho que talvez... você deva se acostumar a me chamar de lauren" Eu podia ouvi-la sorrindo ao telefone. O fato de eu estar ligando inesperadamente me entregou.

 O fato de eu estar ligando inesperadamente me entregou

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