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Rafael Torres

A bagunça ainda tava lá, provando que não tinha sido só um pesadelo. Nem perdi tempo tomando café, já liguei pra senhora vir arrumar a casa e saí direto com a chave do carro pra fazer o boletim de ocorrência.

A manhã tava de boa, trânsito leve, cheguei rapidinho na delegacia. Assim que entrei, bati o olho no mesmo policial que tinha ido lá em casa ontem. De longe, nossos olhares se cruzaram e senti um arrepio estranho, daqueles que percorrem o corpo inteiro. Ontem eu nem tinha reparado nele, tava agitado demais, mas agora... O cara era bonito, alto, forte, tatuado, pardo, olhos castanhos e cabelo escuro. Me aproximei.

- Bom dia, vim fazer a ocorrência da invasão - falei.

- Bom dia - ele respondeu, dando um sorriso leve. - Sente-se, por favor. Quer um café? Uma água?

- Não, valeu - sorri de volta e me sentei.

- Como você tá? Ontem tava bem agitado - ele perguntou.

- Cara, tava frustrado, sem entender nada, mas agora tô melhor. Valeu por perguntar. E a investigação, descobriram alguma coisa?

- A gente tá investigando, mas ainda não deu pra ir mais a fundo. Tem muito trabalho rolando.

Terminei o boletim e saí de lá com uma sensação estranha, como se alguma coisa tivesse mudado dentro de mim. Não era só o lance da invasão que tava me deixando bolado. Tinha alguma coisa naquele policial que mexeu comigo. Sei lá, era diferente. Quando nossos olhares se cruzaram, senti aquele arrepio de novo. Estranho, né? Nunca tinha reparado em ninguém assim.

Mas deixei esses pensamentos de lado e fui direto pro treino. Não dava pra vacilar agora. O próximo jogo tava chegando e, se quisermos manter a liderança, tinha que dar o máximo. Cheguei no vestiário e os caras já estavam na resenha. Dei um "e aí" pra galera e fui trocar de roupa.

O treino foi pesado. O técnico não tava pegando leve, não. Corrida, finalização, marcação, tudo no limite. Senti as pernas queimarem, mas segurei a onda. Precisava descarregar essa tensão acumulada, e o campo era o lugar perfeito pra isso.

Depois do treino, fui direto pro chuveiro. A água gelada foi um alívio. Enquanto esfregava o rosto, a cena de mais cedo na delegacia não saía da minha cabeça. O sorriso leve do Eduardo, o jeito como ele perguntou se eu tava bem... Parecia que ele realmente se importava. Estranho isso.

- Tá viajando, Rafael - falei pra mim mesmo, desligando o chuveiro. Me sequei, botei a roupa e saí do vestiário. Os caras iam almoçar juntos, mas eu só queria ficar sozinho pra processar tudo.

Cheguei em casa e a senhora já tinha dado um jeito na bagunça. Me joguei no sofá, encarei o teto e fiquei tentando entender por que essa história toda tava mexendo tanto comigo.

Peguei o celular e, sem perceber, me vi procurando o Eduardo nas redes sociais. Achei o perfil dele. Foto discreta, poucas postagens. Parecia ser um cara reservado, mas eu fiquei curioso. Queria saber mais.

- Cara, eu tô ficando doido - falei em voz alta, rindo de mim mesmo. Larguei o celular, mas a imagem do Eduardo continuava na minha mente. Vai ver, era só curiosidade. Vai ver, era só... Ah, sei lá.

Levantei e peguei uma cerveja na geladeira. Quem sabe, com a cabeça mais relaxada, eu parava de pensar nisso. Me joguei no sofá de novo, dei um gole e liguei a TV preenchendo o silêncio. Mas minha mente continuava voltando pro mesmo lugar "Eduardo, Eduardo" puta merda, aquele policial deixou uma impressão, que eu não consigo entender.

Depois de uns minutos, decidi dar uma olhada no celular de novo. Tava meio sem rumo, então desliguei o celular e resolvi dormir, para ver se parava de pensar nesse cara.
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Acordei com o celular tocando, me remexi no sofá procurando o celular, logo o encontrando, olho de relance, era Victor. - Alô, fala irmão

-E aí cara, tava dormindo? Ultimamente você tá andando meio diferente.

-Tava com a cabeça cheia, resolvi descansar para ver se melhorava, mas tô de boa.

-Eu e os caras vamos para o barzinho, não quer colar lá, não?

-Blz já chego, só vou tomar banho. Desliguei o celular me levantando para ir ao banheiro. Tomei um banho me troquei, peguei a chave do carro e saí. Só precisava de um tempo fora.

Já tinha alguns caras lá, comprimentei alguns, com um "E aí, tudo bem" ou até com um toque me mão. E ficamos ali jogando conversa fora, o que ajudou me distrair um pouco.

Quando voltei pra casa mais tarde, a sensação de inquietação ainda tava lá. Peguei o celular, entrei no perfil dele, e comecei a segui-lo, desligando o celular. Decidir tomar banho, enquanto a água escorria pelo meu corpo, pensei. Por mais que eu quisesse ignorar, algo me puxava a pensar nele. Porra, era a primeira vez que eu pensava tanto em alguém.

Saí do chuveiro, botei uma roupa confortável e fui deitar. Deitei na cama e, antes de dormir, me peguei pensando em como ia ser se eu cruzasse com o Eduardo de novo. Será que eu teria coragem de perguntar algo? Ou será que isso tudo era só coisa da minha cabeça, uma fase boba?

Fechei os olhos, tentando me convencer de que, no dia seguinte, tudo voltaria ao normal. Mas, no fundo, eu sabia que já tinha mudado. E não dava pra fingir que nada disso tava acontecendo.

prisão sem gradeOnde histórias criam vida. Descubra agora