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Eduardo Galvão

A manhã na delegacia tava daquele jeito, um dia igual ao outro, até que vi o Rafael entrando. O mesmo cara da noite passada, ontem ele tava agitado, com a adrenalina correndo solta. Hoje, parecia mais calmo, mas com aquele brilho no olhar que mostrava que ainda tava digerindo o que aconteceu. Nossos olhares se cruzaram, e senti uma coisa estranha, um arrepio que subiu pela espinha. Não era o tipo de sensação que eu tinha com frequência, ainda mais no trabalho.

Ele se aproximou e me cumprimentou, explicando que tinha vindo fazer a ocorrência do arrombamento. Dei um sorriso leve e ofereci um café, tentando manter a coisa profissional, mas ao mesmo tempo... Não sei, eu queria prolongar aquela conversa, ver o que mais ele tinha a dizer além do "vim registrar a ocorrência". Quando perguntei como ele tava, senti que ele relaxou um pouco. Era o tipo de pergunta que eu fazia por costume, mas ali, naquele momento, parecia que tinha mais em jogo.

Rafael explicou que tava se sentindo melhor, apesar de tudo. Eu contei que a investigação ainda tava no começo e que tinha muita coisa rolando. Era a resposta padrão, mas enquanto ele falava, eu percebia o jeito que ele olhava pra mim. Como se estivesse tentando entender alguma coisa que nem ele sabia o que era. E eu me peguei olhando de volta, tentando disfarçar a curiosidade.

Quando ele saiu, fiquei com aquela sensação estranha, como se alguma coisa tivesse sido deixada em aberto. E não era só a investigação, era algo entre nós. Um lance que eu não conseguia explicar direito.

O dia seguiu e tentei focar nas outras coisas, mas não adiantava. Toda vez que parava pra tomar um café ou sentava pra escrever um relatório, a imagem do Rafael voltava à minha cabeça. O jeito dele, o tom de voz... tinha alguma coisa que me intrigava, algo diferente. Não era comum eu ficar pensando assim em alguém, especialmente alguém que eu só tinha visto duas vezes.

Quando cheguei em casa naquela noite, joguei as chaves na mesa e me sentei no sofá, ainda com a mente no trabalho. Peguei o celular e abri as redes sociais. E lá estava a solicitação de amizade, dei um sorrisinho e o seguir de volta. Entrando em seu perfil tinhas fotos típicas: ele em treinos, jogos, com alguns amigos bebendo. Resolvi mandar uma mensagem, "Oi, Rafael. Sei que o caso ainda tá em aberto, então, se lembrar de qualquer detalhe que não mencionou, pode me falar. A gente tá aqui pra ajudar."

- Que merda, Eduardo - falei comigo mesmo, rindo. Larguei o celular no sofá, mas não conseguia parar de pensar nele. Tinha algo ali que eu não conseguia definir, mas ao mesmo tempo, não dava pra ignorar.

Tava cansado, esses dias tinha uns caso bestas, mas que dar uma dor de cabeça. Fui tomar um banho, me troquei, me jogando na cama, nem esperando a resposta, estava muito cansado.

prisão sem gradeOnde histórias criam vida. Descubra agora