Chego mais cedo, já se passaram duas semanas que estou aqui, e só venho recebendo reclamações.
Começo meu dia organizando minhas coisas, e espero as crianças chegarem, mas diferente de todos os outros dias hoje às 8h 50 meu primeiro aluno chega, me abraça e vai para a mesinha brincar com as pecinhas que deixei. As nove já tenho sete crianças na sala, hoje vi mais as babás que os pais, seria bom o restante vir assim também. As nove e cinco todos estão na minha sala, inclusive Jiho que passou a entrar super bem sempre que faço o coração laranja.
Começamos a aula com uma música, depois uma brincadeira, eles sentam e eu entrego a atividade de hoje. Eu já tinha percebido que eles não tinham desenvolvido ainda o esperado pra o mês que nós estávamos, não é nada demais, eles ainda são pequenos e temos o ano pela frente, mas a saída das professoras afetou a aprendizagem deles, talvez não só isso, mas a bolha que essas crianças vivem está atrapalhando a vida deles, eles não podem ser crianças. As reclamações que recebo são de vários tipos, sobre mim, minha aparência, mas também sobre eles usarem tinta, brincarem no parque, até que eu sujo o uniforme deles as mães reclamam.
Começamos as atividades com uma lista de brinquedos, vou ajudando eles a entenderem os sons das palavras, vou escrevendo na lousa e eles vão copiando com dificuldade. Algumas crianças começam a chorar, outras brigam umas com as outras por que estão competindo quem copia primeiro.
Eles não são muito unidos e estudam juntos desde os três anos. Vou conversando com eles e reparo que na sala não tem regras. A atividade começa a perder o sentido, pois são tantos conflitos, até que uma criança puxa o cabelo da outra. Cadê as minhas crianças fofas?
Pego uma folha grande que são para desenhos em grupo e em roda começamos a escrever as regras e entre não bater nos amigos e respeitar as diferenças, eu também escrevo sobre fazer as coisas sozinhos, eles vão me ajudando a escrever falando um monte de coisa, e eu escuto cada coisa egocêntrica, eu sei que eles serem assim ainda é normal, mas eu estava com mini adultos: dondocas em construção e empresários soberbos de cinco anos tentando convencer a sua professora de que o mundo gira em torno de cada um e eu que estava errada se achava que não era assim. Eu dava risada olhando a personalidade de cada um ali que estava sendo construída dentro de limites duvidosos, claro que estabelecidos por seus pais.
Depois que terminamos eles assinaram e colamos na parede da sala, com o combinado de repassar as regras quando necessário.
Bom, depois disso continuamos a atividade de cópia, fomos para uma de raciocínio lógico e a dificuldade deles era demais. Não todos, mas a maioria.
No dia de hoje acompanhei eles mais uma vez e combinei com as auxiliares que agora eles comeriam sozinhos, escovariam os dentes sozinhos e o banheiro também seria com mais autonomia.
Logo sou chamada pela diretora.
Diretora: S/N, os pais...
S/N: Eu já imagino, essas crianças...
Eu paro e respiro fundo.
Diretora: Você não pode agir assim, as crianças não podem fazer as coisas sozinhas.
S/N: As outras turmas são assim?
Diretora: Não a turma toda, a sua sala é a mais difícil da Educação Infantil.
S/N: Todos os pais da minha turma estão insatisfeitos comigo?
Diretora: Não, só algumas mães.
S/N: Porquê as outras professoras saíram?
A diretora me olha desanimada.
Diretora: S/N, você é nova e já percebi que é bem madura, mas se eu te falar talvez você não fique também.

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Aqui Comigo
FanfictionS/n é uma professora de 23 anos que consegue uma vaga em uma das melhores escolas de Seul para trabalhar como professora da Pré- escola. Sua vida sempre foi difícil, conseguindo tudo com muito esforço, mas seu novo emprego não só lhe dará uma vida m...